Memória da TV
Divulgação/NASA
Uma das primeiras imagens do homem pisando na Lua exibida em 20 de julho de 1969 ao vivo
THELL DE CASTRO
Publicado em 21/7/2019 - 5h31
A humanidade pisou na Lua há 50 anos, na noite de 20 de julho de 1969. As emissoras brasileiras transmitiram a saga da Apollo 11 e o primeiro passo de Neil Armstrong (1930-2012) ao vivo, através do recém-inaugurado sistema via satélite, mas um jornalista da Globo quase foi agredido por causa do acontecimento.
Apesar de serem em preto e branco, a perfeição das imagens foi tal que levou alguns telespectadores a duvidar de que o feito realmente foi realizado --aliás, muita gente duvida até os dias de hoje. "As transmissões diretas da Apollo 11 para a Terra foram consideradas excelentes pelos técnicos de TV de Cabo Kennedy. A câmera de TV usada pelos astronautas não é um aparelho qualquer. Basta dizer que custa US$ 7,5 milhões", informou a Folha de S.Paulo do dia seguinte.
Mas, ao contrário do que os céticos dizem --que foi uma armação da NASA, a agência especial norte-americana, algumas pessoas pensaram que se tratava de uma produção da própria Globo.
Pelo menos esse foi o relato de Hilton Gomes (1924-1999) ao projeto Memória Globo. O jornalista fez diversas coberturas internacionais, como a primeira transmissão via satélite da televisão brasileira, diretamente de Roma, em fevereiro daquele ano, quando a estação da Embratel em Itaboraí (RJ), que recebia os sinais do Intelsat III foi inaugurada, e também foi o primeiro apresentador do Jornal Nacional, ao lado de Cid Moreira, em setembro.
No dia seguinte à chegada na Lua, quando tomava um café no bar da esquina da emissora, a moça que sempre o atendia olhou o jornalista com cara feia. "Você é um mentiroso. O homem não foi à Lua coisa nenhuma", disparou. De acordo com Gomes, como outros fregueses também olhavam desconfiados, ele desistiu do café e saiu de fininho antes que algo pior acontecesse.
O jornalista fez uma verdadeira maratona para a transmissão. Acompanhou o lançamento da nave, alguns dias antes, nos Estados Unidos, voltou para o Rio de Janeiro e foi direto para o estúdio. "Quando chegamos, a nave estava se aproximando da Lua e tivemos que narrar simultaneamente o diálogo dos três astronautas. E, com toda aquela preocupação, as emoções iam surgindo enquanto eles falavam", relatou Gomes ao Memória Globo.
reprodução/tv globo
Diretor da Globo relutou em tirar o programa de Silvio Santos do ar para transmissão histórica
Na época do acontecimento, Silvio Santos era imbatível e tinha a maior audiência da televisão brasileira, contribuindo para o crescimento da Globo, que havia sido inaugurada em 1965. Para se ter uma ideia, a audiência de seu programa naquele domingo chegou a ser praticamente a mesma que o feito da NASA, exibido no Brasil no final da noite.
Por causa disso, a Globo foi a última a entrar em cadeia para a transmissão das imagens. Walter Clark (1936-1997), que era um dos diretores da emissora, conta sobre isso em sua biografia O Campeão de Audiência, destacando que o fato rendeu uma bronca de Roberto Marinho (1904-2003).
"Quando a Apolo 11 desceu na Lua, a Globo foi a última a entrar em cadeia, com as imagens geradas pelos americanos. É que o Silvio Santos estava no ar, e o Luiz Guimarães, diretor artístico da emissora em São Paulo, teve escrúpulos de cortá-lo. Tinha medo de que se aborrecesse. Dessa vez, até o Roberto Marinho me ligou indignado. Por conta do Guimarães, levei talvez a minha única e justificada bronca do patrão", relatou.
THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.