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Alice-Maria

Aos 69, 'mãe' do jornalismo da Globo se aposenta; veja sua trajetória

Antonio Nery/Agência O Globo

Alice-Maria Reineger, uma das criadoras do Jornal Nacional, na bancada do programa na década de 80 - Antonio Nery/Agência O Globo

Alice-Maria Reineger, uma das criadoras do Jornal Nacional, na bancada do programa na década de 80

SHEILA VIEIRA

Publicado em 3/9/2014 - 11h48

Uma das criadoras do Jornal Nacional e ex-diretora da Globo News, Alice-Maria Reineger está se aposentando após 48 anos de carreira, quase todos eles dedicados à Globo. A jornalista ocupava recentemente o cargo de diretora de Desenvolvimento de Programas Especiais na emissora.

Alice-Maria, de 69 anos, foi a primeira mulher a ser diretora no jornalismo da Globo. A profissional teve participação direta em grandes projetos e comandou coberturas históricas. O diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo, Mariano Boni, ocupará o seu lugar até um substituto ser definido.

Confira três momentos marcantes da carreira de Alice-Maria:

A criação do Jornal Nacional

A Globo foi inaugurada em 1965, e Alice-Maria entrou na emissora no ano seguinte como estagiária. A jornalista se destacou rapidamente e ajudou o então diretor de jornalismo, Armando Nogueira, a desenvolver o Jornal Nacional, que estreou em 1969. O telejornal foi o primeiro programa de TV transmitido para o país inteiro.

O livro Jornal Nacional: A Notícia Faz História revela os obstáculos encontrados pela equipe: “Uma vez aprovada a proposta, a editora Alice-Maria reuniu-se com técnicos da Embratel para discutir a viabilidade do projeto. Diante da complexidade da operação, justificava-se um certo receio: gerar um jornal em rede apresentava riscos, nem todos previsíveis”.

Alice-Maria durante o expediente na Globo em 1973. (Foto: Rodolfo Machado/TV Globo) 

Em 1973, Alice-Maria assumiu a posição de diretora de telejornais da Globo, controlando os perfis editoriais dos programas e até o figurino e a voz dos apresentadores. A jornalista coordenou a cobertura das eleições de 1982, primeira votação direta desde o regime militar. A Globo mobilizou 25 mil profissionais em todo o país na ocasião.

O incêndio na Globo e o debate presidencial

No mês de junho de 1976, um incêndio atingiu o prédio da TV Globo, no Rio de Janeiro, após um curto-circuito no sistema de ar-condicionado no começo da tarde. A emissora perdeu praticamente todas as suas instalações eletrônicas, mas ficou fora do ar por apenas alguns minutos, porque as imagens passaram a ser geradas em São Paulo.

Alice-Maria e um grupo de jornalistas viajaram imediatamente para São Paulo, e a jornalista contava com uma fita muito importante: “Para garantir a exibição do Jornal Nacional naquela noite, Alice-Maria foi para São Paulo apenas duas horas depois do início do incêndio, levando em mãos um rolo de filme com imagens da tragédia”, conta o livro Jornal Nacional: A Notícia Faz História. O telejornal foi exibido normalmente à noite.

Alice-Maria em seu escritório na Globo durante a década de 1980 (Foto: Memória Globo)

A jornalista também teve seu papel no momento mais nebuloso da história do Jornal Nacional: a reportagem sobre o debate presidencial entre Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor em 1989. A emissora foi acusada de favorecer Collor, mostrando apenas os seus melhores momentos.

O próprio livro oficial do Jornal Nacional admite que não há consenso sobre quem foi o principal responsável pelo material, mas coloca a posição da então diretora. “Armando Nogueira e Alice-Maria afirmam que a edição foi feita, à revelia deles, por Alberico de Sousa Cruz e Ronald de Carvalho (diretores)”.

Tragédias brasileiras na Globo News

Alice-Maria saiu da Globo em 1990 e foi diretora-executiva da Manchete, além de ter criado uma produtora independente de vídeos. Seu retorno aconteceu cinco anos depois, mas para uma missão especial: ajudar a implantar a Globo News, primeira emissora brasileira com noticiário 24 horas.

O canal pago estreou em 15 de outubro de 1996 e precisou cobrir um grande desastre no país após 16 dias no ar: a queda do avião Fokker 100 da TAM, em São Paulo. Outra cobertura marcante aconteceu em 2000, quando o canal acompanhou ao vivo e sem cortes o sequestro do ônibus da linha 174, no Rio de Janeiro.

Alice-Maria dirigiu Globo News e implantava projetos especiais (Foto: Zé Paulo Cardeal/TV Globo)

Em 2001, Alice-Maria também assumiu a diretoria editorial de entretenimento da Globo. Oito anos depois, a jornalista voltou a se dedicar exclusivamente à emissora de TV aberta, desenvolvendo programas especiais, a formação de novos talentos e projetos voltados à sustentabilidade.

No comunicado sobre a saída de Alice-Maria, distribuído pela Globo na noite de terça (2), Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da emissora, e Ali Kamel, diretor-geral de Jornalismo e Esporte, agradeceram a jornalista pelos serviços prestados. “Com talento raro e dedicação ilimitada, Alice-Maria nos deixa um legado de busca permanente de qualidade”, escreveram.


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