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FICA NA PROMESSA

Em superprodução da HBO, Catarina não tem nada de grande, só o nome

Divulgação/HBO

Os atores Jason Clarke e Helen Mirren em cena da minissérie Catarina a Grande, da HBO

Jason Clarke (Potemkin) e Helen Mirren (Catarina) são os protagonistas de Catarina a Grande

HENRIQUE HADDEFINIR

Publicado em 27/10/2019 - 5h35

Chamada de "A Grande" pela história, Catarina foi imperatriz na Rússia de 1762 até sua morte, em 1796. Sua história é repleta de feitos militares, políticos e pessoais, tendo sido conhecida por seus inúmeros amantes e preferências sexuais controversas. Produções sobre ela não são incomuns, e a HBO --conhecida por sua excelência técnica-- assumiu a realização de uma minissérie que prometia ser o maior dos títulos a respeito da regente. Com o pedigree do canal e a atriz Helen Mirren na linha de frente, as expectativas eram as maiores. O resultado final, porém, não é o que o público esperava.

Catarina a Grande começa em um momento de virada, quando ela consegue o apoio da guarda para realizar um golpe que tira o próprio marido do poder. Ele, em seguida, morre. A partir daí, começa a trajetória de Catarina no trono, e também a imposição de seus modos considerados inusitados pela maioria da nobreza russa.

A decisão de começar a história desse ponto, contudo, já acende o primeiro alerta quanto à adaptação. Um considerável conjunto de tensões é perdido pelo público, privado dos planos da imperatriz para eliminar o marido do caminho, justamente porque os roteiros estavam muito mais interessados em sua vida sexual.

A HBO sempre foi conhecida por seu apelo visual impecável, e esse é o ponto de atração mais eficaz da minissérie. Helen Mirren (que ganhou o Oscar ao viver outra monarca no filme A Rainha, de 2006) assume a vida de Catarina, fazendo o possível para contornar a obrigação de viver uma mulher extremamente sexualizada, sem que ela mesma protagonize uma cena de sexo sequer.

Mais uma das estranhezas da produção, que para compensar o que não faz com a imperatriz, espalha sequências eróticas entre os outros personagens, principalmente naquelas em que Grigory Potemkin (Jason Clarke), amante de Catarina e comandante militar, divide a cena (e a cama) com coadjuvantes.

A história demora a engrenar, algo lastimável para uma produção de apenas quatro episódios. O público é distraído por belas fotografias e cenários internos, que reproduzem a época com uma exatidão quase obcecada. Cada detalhe é exposto milimetricamente. A direção quer mostrar do que é capaz, ainda que a falta de "magia" presente nas cenas seja um contraste inconveniente. Algo no texto ou na forma do produto não "respira" corretamente, e acompanhar Catarina a Grande pode ser penoso para quem não se interessa pelo assunto.

O trabalho de dramaturgia com figuras históricas é comum na TV e no cinema, mas quando as razões para levar a vida de Catarina aos lares do mundo é posta sob perspectiva, percebe-se que a vida íntima da imperatriz acaba sendo o objeto de escrutínio principal. Embora tenha seu discurso contra a escravidão enfatizado nos episódios, transformar a imperatriz em heroína seria difícil --visto que durante seu governo ela priorizou os direitos e privilégios da nobreza, e não do povo.

A relação com Potemkin, entretanto, parece ser mais importante do que qualquer virada sociopolítica. Um a um, os enredos que envolvem a gestão da imperatriz são suprimidos pela necessidade de explorar esse romance. O personagem de Jason Clarke, inclusive, consegue ser mais presente e intenso nas cenas, tendo em mãos a chance de oscilar entre o militar, o bonachão, o apaixonado e o impulsivo.

Já Helen Mirren fica escravizada na soberania real, mas ainda lança olhares mordazes e gestos firmes. O problema é que, em torno de uma forte interpretação, está uma minissérie frouxa, que quando tenta ser sensual e ousada, parece fria.

Quatro episódios depois, a sensação de estar assistindo a um filme sobre a monarquia britânica só aumenta. Os modos, o minimalismo, o inglês cheio de sotaque, tudo leva cada vez mais à Inglaterra e menos à Rússia.

Conforme a história chega a seus momentos finais, não há nenhum ponto de tensão estabelecido, nenhuma surpresa ou verdadeiro drama que nos alcance ou nos comova. Catarina a Grande é uma galeria de beleza e apuro técnico, um desfile inebriante de recursos, mas falha terrivelmente ao tentar mostrar que o público está diante de pessoas de verdade. Efetivamente, é como visitar um museu animado. Ainda que seja um pouquinho atrevido, não é nada lívido ou divertido.

Os episódios inéditos da minissérie vão ao ar na HBO às segundas-feiras, a partir das 23h, com várias reprises ao longo da semana.

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