ESTREOU HÁ 20 ANOS
Fotos de Divulgação/Fox
Robert Downey Jr. e Calista Flockhart na série Ally McBeal: ele era viciado; ela, anoréxica
LUCIANO GUARALDO
Publicado em 10/9/2017 - 7h39
Queridinha da crítica, com quatro vitórias no Globo de Ouro e sete no Emmy, a série Ally McBeal (1997-2002) estreava na TV norte-americana há 20 anos. Mistura de comédia e drama na ficção, a produção era só tragédia em seus bastidores: as atrizes eram criticadas pela magreza extrema e obrigadas a fazer regime, uma das integrantes sofreu com transtorno bipolar e o ator Robert Downey Jr. tumultuou o estúdio por causa do vício em drogas.
Nada disso, porém, abalou a reputação da série, sobre a advogada Ally McBeal (Calista Flockhart), bem-sucedida na carreira profissional mas sem nenhum controle sobre sua vida amorosa: ela era apaixonada pelo amigo Billy (Gil Bellows), agora casado com Georgia (Courtney Thorne-Smith). Os dois também eram advogados e trabalhavam com Ally no mesmo escritório.
A comédia dramática se tornou um hit, com 11,4 milhões de espectadores por episódio logo na primeira temporada. Com os prêmios de melhor série de comédia e melhor atriz no Globo de Ouro, a audiência disparou: no segundo ano, chegou a 13,8 milhões por episódio e se tornou a vice-líder da Fox, atrás apenas de Arquivo X.
O sucesso era tanto que a Fox encomendou uma segunda versão da série, mais cômica e que eliminava as cenas de tribunal para focar na vida tumultuada de Ally. As duas produções foram exibidas ao mesmo tempo, mas o formato mais curto não repercutiu tanto e foi cancelado após dez episódios. Já a original durou cinco elogiadas (e controversas) temporadas.
Confira cinco polêmicas nos bastidores de Ally McBeal, um "celeiro" que revelou atrizes como Lucy Liu (As Panteras, Elementary), Jane Krakowski (30 Rock, Unbreakable Kimmy Schmidt) e Hayden Panettiere (Heroes, Nashville):
Courtney Thorne-Smith (à esq.) abandonou a série por não suportar pressão para perder peso
Magreza exagerada
Um dos aspectos mais chamativos de Ally McBeal era a forma física de suas atrizes. Calista Flockhart, Lucy Liu e Portia de Rossi eram tão magras que eram alvos frequentes de suspeita de anorexia. Courtney Thorne-Smith foi tão pressionada a perder peso que não suportou e pediu demissão após a terceira temporada.
"Eu comia pouco, malhava muito e me cobrava demais. Isso destruiu meu sistema imunológico. O tempo que eu passava pensando em comida e ficando chateada com meu corpo era insano", disse ela à revista Us Weekly, em entrevista na qual confessou que, na época, comia apenas saladas e frutas. "Eu sonhava com frangos."
Jane Krakowski, que era considerada gorda em meio às colegas (embora tivesse um corpo normal), chegou a falar abertamente que se recusava a perder peso. "Eu acho uma pena que as pessoas sintam que precisam ser esqueléticas para atuar na TV ou conseguir capas de revista", reclamou ao jornal escocês Scottish Daily.
O cantor Sting e Robert Downey Jr. em cena da série: drogas mudaram roteiro da temporada
Vício em drogas
No fim da terceira temporada, com a saída de Courtney e de Gil Bellows, os produtores decidiram criar um novo par romântico para Ally e contrataram o ator Robert Downey Jr. para interpretar Larry Paul. Durante o quarto ano, Ally e Larry formaram um casal perfeito, com uma paixão tão intensa que o último episódio da temporada marcaria o casamento de seus personagens.
Porém, Downey Jr. era um ator conhecido por seu vício em drogas. Ele, inclusive, começou a trabalhar na série uma semana depois de ser solto da cadeia em liberdade condicional. Sem aguentar o ritmo intenso de gravações de uma série semanal, ele teve uma recaída e foi flagrado com cocaína.
A Fox não teve dúvidas e demitiu o ator, faltando apenas dois episódios para encerrar as gravações da temporada. O criador David E. Kelley precisou reescrever o fim às pressas para que Ally e Larry não fossem mais um casal. Mesmo assim, Downey Jr. foi indicado ao Emmy e ganhou o Globo de Ouro por sua participação.
reprodução/youtube
Lisa Nicole Carson relembra luta com transtorno bipolar em vídeo feito pela revista People
Transtorno bipolar
Intérprete de Renée Raddick, colega de apartamento e conselheira de Ally, a atriz Lisa Nicole Carson teve um papel essencial nas primeiras quatro temporadas. Nos bastidores, ela lutava contra um transtorno bipolar que quase destruiu sua vida.
No início da segunda temporada, a atriz foi parar no hospital para cuidar da doença, mas teve alta e voltou para a série depois de duas semanas. Em 2000, ela teve um surto que virou notícia no mundo todo. "Eu só me lembro do barulho de vidro quebrando, gritos, berros e terror. Puro terror", disse ela à revista People em 2015.
No fim da quarta temporada, Lisa Nicole pediu para deixar a série para se cuidar. Ela passou mais de uma década sem trabalhar até participar de um episódio de Harry's Law (2011-2012), no qual interpretou a mesma Renée Raddick.
reprodução/time
Ícones feministas dividem capa da revista Time com Ally McBeal: "O feminismo morreu?"
Morte do feminismo
Criada por um homem, Ally foi criticada por não ser uma representante moderna do feminismo. Atrapalhada, com emoções instáveis e abusando das saias curtas, a advogada era apontada como uma personagem antifeminista.
A polêmica foi parar na capa da revista Time de 29 de junho de 1998, em que Ally McBeal dividia espaço com as pioneiras feministas Susan B. Anthony (1820-1906), Betty Friedan (1921-2006) e Gloria Steinem, com o título "O feminismo morreu?".
Sem se abalar com as críticas, os roteiristas se divertiram com a situação e, em um episódio da temporada seguinte, colocaram Ally para conversar com o sócio Richard Fish (Greg Germann): "Sabe, eu tive um sonho estranho. Estamparam meu rosto na capa da revista Time como a face do feminismo", dizia ela.
reprodução/fox
Beijo entre Ally (Calista Flockhart) e Ling (Lucy Liu) foi apontado como um fetiche machista
Homofobia
David E. Kelley foi novamente tachado de machista por sua representação de mulheres lésbicas. Em um episódio da segunda temporada, a primeira personagem homossexual a dar as caras foi detonada pelo personagem Richard Fish. "Ela é uma odiadora de homens, lésbica raivosa e que parece um homem", reclamou o advogado.
Para rebater as críticas, o criador decidiu promover um beijo entre Ally e Ling (Lucy Liu) após as duas personagens flertarem com a ideia de um romance entre elas. As advogadas trocam carícias e admitem que gostaram da experiência, mas que preferem ter relações com "alguém que tenha um pênis".
Novamente, as representantes de grupos lésbicos atacaram a série, afirmando que o beijo entre duas mulheres atraentes e que nunca tinham manifestado desejo homossexual foi realizado muito mais para atiçar o fetiche do público masculino do que para promover um necessário debate sobre o tema.
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