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Análise

Série sobre os anos 1980, Stranger Things celebra a amizade e o cinema

Divulgação/Netflix

Winona Ryder em cena de Stranger Things: personagem 'conversa' com as lâmpadas - Divulgação/Netflix

Winona Ryder em cena de Stranger Things: personagem 'conversa' com as lâmpadas

DANIEL CASTRO

Publicado em 25/7/2016 - 6h23

[Atenção: contém spoilers]

Novidade no catálogo da Netflix, Stranger Things é uma grata surpresa. Com apenas oito episódios, é uma série para ser devorada de uma só vez, numa sentada só. Embora despretensiosa, é muito mais do que uma ficção sobre um grupo de meninos e uma mãe (Winona Ryder) que tentam resgatar um garoto raptado por um monstro e trancado em um universo paralelo. É, acima de tudo, uma série sobre a amizade, sobre os anos 1980 e sobre o cinema que se fazia naquela década, aquele cinema que até hoje alimenta a Sessão da Tarde. Do começo ao fim, é um show de referências, principalmente a Conta Comigo, filme de 1986 ambientado nos anos 1950.

A primeira coisa a cativar é a trilha sonora, feita com o top do pop dos anos 1980. Estão lá os "estranhos" Joy Division e New Order, além de David Bowie, Toto e Echo & The Bunnyman. A trilha, às vezes sombria, faz parte da história. O menino capturado pelo monstro, Will Byers (Noah Schnapp), ouve uma fita K7 com The Clash, e a clássica Should I Stay or Should I Go toca algumas vezes, é usada para fazer conexão com o universo paralelo. 

O que dispara a trama de Stranger Things é uma brincadeira à la Jumanji (1995). Quatro amigos brincam num porão um jogo de monstros. Logo em seguida, ao voltar para casa, um deles é capturado e levado para um mundo gosmento, frio e escuro. Os amigos e a mãe desesperada, Joyce (Ryder), estão dispostos a qualquer coisa para reencontrar o garoto. Até mesmo a acreditar em universo paralelo, a duvidar de que Will está morto, como diz a polícia. Na jornada, contam com a ajuda de um xerife gente boa, Jim Hopper (David Harbour), e de uma misteriosa menina careca, chamada estranhamente de Eleven (Millie Bobby Brown).

Eleven representa a política internacional dos anos 1980, polarizada entre Estados Unidos e a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Ela tem superpoderes, é capaz de quebrar o pescoço de inimigos e capotar carros apenas com o poder da mente _e algumas gotas de sangue que lhe caem do nariz. Foi raptada ainda bebê e criada para ser uma arma contra os soviéticos. É uma X-Men da Guerra Fria. Os algozes de Eleven são a turma do mal de Stranger Things. Controlam a usina de energia elétrica local, onde, em seu subsolo, há uma entrada para o universo paralelo. O monstro que habita esse mundo invertido é uma anomalia da destruição do planeta.

Caleb McLaughlin e Gaten Matarazzo em cena de Stranger Things que remete à imagem...

A série deslancha à la Jumanji, mas lembra muito mais Conta Comigo (Stand by Me), longa de Rob Reiner em que quatro garotos, praticamente da mesma idade dos astros de Stranger Things, saem numa jornada para encontrar um menino morto. Stand by Me, a propósito, é baseada em um conto de Stephen King, citado e homenageado na nova produção original da Netflix. Além da semelhança no storyline, Conta Comigo ressurge visualmente em Stranger Things em cenas em que os gorotos aparecem em uma estrada de ferro _para quem não se lembra, no filme de 1986 tudo acontece à beira de uma ferrovia. A referência foi tanta que, nos testes para a série, os atores tiveram que encenar trechos de Stand by Me.

Stranger Things não economiza e não esconde as referências cinematográficas dos anos 1980. Elas estão na série seja na trama, no figurino ou no cenário. Também é possível identificar elementos de E.T. O Extraterrestre (1982), Poltergeist (1982), Goonies (1985), Aliens, o Resgate (1986) e Rambo (1986). De E.T., a referência mais lógica é a visual (o uso de bicicletas) e alguns figurinos, mais o protagonismo infantil. De Poltergeist, herda a paranormalidade expressa na energia. De Goonies, a amizade entre quatro garotos. De Aliens, a estética do monstro. Rambo é homenageado por um personagem, o menino Lucas (Caleb McLaughlin). Ao sair para um missão heroica, ele veste a bandana de Sylvester Stallone.

...icônica de Conta Comigo, filme de 1986 estrelado por River Phoenix e Wil Wheaton

Stranger Things estabelece ainda uma forte conexão entre ciência e cinema. O professor de ciências do colégio da cidade em que se passa a história é também o líder do clube do audiovisual, frequentado pelos melhores alunos _os quatro protagonistas. Em uma cena, o professor, Mr. Clarke (Randall P. Havens), está a assistir um filme pela TV com a namorada e trata de explicar como se conseguiu o efeito especial da cena em que um personagem teve o rosto arrancado do corpo: era plástico e chiclete derretido no forno microondas.

Mas é a amizade o eixo central de Stranger Things. É por ela que os personagens enfrentam o medo e embarcam numa trama de suspense. Não à toa, a frase "Amigos não mentem" é repetida como um mantra em vários episódios. A amizade une as vítimas de bullying, os que preferem estudar, e os que praticam o bullying, os atletas.

A nova produção da Netflix não tem a pretensão de inovar ou de ser genial. Pelo contrário, se lambuza no cinema hollywoodiano dos anos 1980. Mas faz isso bem feito. É apenas entretenimento, leve e deglutível. Dos bons.


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