Análise | Os Experientes
Reprodução/TV Globo
Beatriz Segall em cena de Os Experientes, série que estreou na Globo nesta sexta-feira (10)
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 11/4/2015 - 0h18
Atualizado em 11/4/2015 - 0h38
Dar voz e vez a veteranos não é expediente corriqueiro na televisão, e sempre que surge um produto como Os Experientes, que preza por figurões do meio como protagonistas, a iniciativa é louvável. Só que dessa vez a Globo saiu atrasada: em dezembro do ano passado, a Record levou ao ar o especial Manual Prático da Melhor Idade, em que a temática da terceira idade também era central. Em um total de quatro episódios, Os Experientes trata de um tema comum entre todos eles: a velhice. A série da Globo é uma produção da O2 e a direção-geral, de Fernando Meirelles, que assinou a bem recebida Felizes Para Sempre?, no começo do ano.
Os Experientes carrega no drama, mas também traz uma leveza saudosista e um humor irônico em seus diálogos. O primeiro episódio brincou com a dicotomia velho versus novo e contou a história de Yolanda (Beatriz Segall), uma senhora que estava na hora e no lugar errados. Com dificuldades para sacar dinheiro de um caixa eletrônico, ela se vê refém de um roubo malsucedido em um banco. O assaltante, Kleber (João Cortês), envolve-se com o crime meio que por engano: o combinado era que ele plantasse as armas para que os assaltantes pudessem executar a tarefa, mas no fim ele acaba sendo o bandido principal da história.
Alvejado pelo segurança bancário, Kleber passa então a fazer exigências para a polícia. Quase sem ar, ele pede por um médico, e imediatamente Yolanda identifica-se como tal. É nesse instante que a história tem uma virada interessante, e a protagonista mostra que de indefesa não tinha nada. Na juventude, combateu a ditadura e sabe manter a calma muito melhor do que o assaltante. Em questão de segundos, o destino do bandido está nas mãos da vítima.
Houve espaço também para parodiar os programas policiais de fim de tarde na televisão aberta _com um apresentador cujos trejeitos lembraram Marcelo Rezende, do Cidade Alerta (Record). Os Experientes quebrou, ainda, uma regra de anos do jornalismo da Globo: a de não pronunciar a sigla PCC, a facção criminosa que domina os presídios paulistas.
Cortês poderia ser a grande armadilha da história, afinal, protagonizar 30 minutos de um episódio não é a mesma coisa que protagonizar 30 segundos de um comercial, e o ator/garoto propaganda não fez feio. Mas quem brilhou mesmo foi Beatriz Segall, cujo semblante no imaginário popular está diretamente ligado à força da vilã Odete Roitmann, de Vale Tudo (1988).
A atriz surgiu em cena algo que fragilizada, completamente indefensa, amparada em uma bengala, mas a reviravolta da personagem surpreendeu o espectador e revelou toda sua versatilidade. A cena final, em que ela caminha quase invisível diante da multidão e, sozinha, cai aos prantos, foi a melhor do episódio.
Fluída e rápida, a série, em seu primeiro episódio, mostrou uma bem acabada fotografia. Os Experientes fugiu, ainda, da lamentação e da vitimização dos idosos. Cumpriu com o papel de emocionar, mas ganhou um horário de exibição ingrato: o final das noites de sexta-feira. Pela qualidade do produto, poderia ter um espaço tão nobre na grade da emissora quanto os protagonistas das histórias.
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