Trunfo da mocinha de Dona de Mim vira problema na novela, e a culpa é da Globo

Nos primeiros capítulos de Dona de Mim, Leo (Clara Moneke) encantou o público e foi até considerada uma "protagonista boazuda": tem três galãs com fortes sentimentos por ela, é esperta, carismática, conquista até a pestinha Sofia (Elis Cabral). No entanto, ao longo da trama, vários outros personagens foram ganhando destaque, muitas vezes mais até do que a própria mocinha, e as possibilidades de trama e de foco se ampliaram bastante, tanto para Leo quanto para outras histórias dentro da novela. Mas o que é um trunfo pode se tornar também um problema, e muito por causa da própria Globo.

Nas redes sociais, têm pipocado críticas à condução da trama, principalmente no que se refere à protagonista. "Em Dona de Mim, se a Leo sumisse por uns 50 capítulos a novela continuaria igual, porque ela não é o centro da trama", comentou uma usuária identificada apenas como Nayara no X.

"Diferentemente de Volta Por Cima [2024], Família É Tudo [2023] e até mesmo Vai na Fé [2023], não existe um fio condutor claro para segurar a trama [de Dona de Mim]. Nas outras tínhamos briga por herança, bilhete roubado e sonho de ser cantora. Falta algo ainda nessa", apontou Marlon Arian.

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"Amo Dona de Mim, mas temos que concordar que esse enredo tá morto. Falta um molho nesse roteiro sobre o rumo de cada personagem e onde a trama quer chegar", opinou o telespectador Felipe Hugo na mesma rede social.

Exemplos como este evidenciam alguns fatores que tornam a novela mais difícil de ser compreendida pelo público --o que é um perigo, pois nenhuma trama da Globo atualmente pode se dar ao luxo de perder telespectadores, ainda mais no início.

Leo começou a trama com três possíveis pares românticos: Davi (Rafael Vitti), Samuel (Juan Paiva) e Marlon (Humberto Morais). Atualmente ela ainda está envolvida com Davi, mas o relacionamento amoroso passa longe de ser o foco da trama, muito menos um triângulo ou quadrado amoroso. A novela dá a entender que a mocinha ainda ficará com Samuel, mas é tudo ainda lento, subentendido, um ritmo tão modorrento quanto o próprio irmão bonzinho.

A protagonista também tem a questão de curar o trauma de ter perdido um bebê e de se reconstruir a partir do relacionamento com Sofia (Elis Cabral). Ainda assim, parece que isso já foi um tanto resolvido, e a trama da menina passará para outra coisa, que é a batalha jurídica entre Vanderson (Armando Babaioff) e Abel (Tony Ramos) por ela.

Para piorar, Leo não parece nem ser a protagonista absoluta da trama. Ela até tem um rumo, um objetivo de vida, que é retomar seus estudos e retomar o controle de sua própria vida, que estava estagnada. Mas, enquanto isso acontece de forma também lenta, esta trama é eclipsada por outras questões, de outros personagens.

Têm tido certo destaque, por exemplo, as histórias de Filipa (Cláudia Abreu), cujo problema de saúde mental ainda não foi bem explicado e tem irritado telespectadores; de Kami (Giovanna Lancellotti); dos vilões Jaques (Marcello Novaes) e Vanderson (com os flashbacks de Ellen, interpretada por Camila Pitanga); e até de Rosa (Suely Franco).

Lado bom, lado ruim

É interessante ter uma novela que saia do formato óbvio, de uma mocinha dividida entre amores e seus embates com uma vilã clássica. A teledramaturgia pode e deve investir em novos caminhos para as tramas, e é possível ver como Dona de Mim coloca mulheres de diferentes gerações e com objetivos distintos querendo ser donas de si, de suas trajetórias: Sofia, Leo, Kami, Filipa e Rosa estão em vários momentos da vida, lidando com questões diversas, todas relevantes.

É bom também ter um amplo leque de possibilidades narrativas, visto que Dona de Mim será uma novela bem longa para os padrões atuais. Em sua concepção, ela foi planejada para ter 173 capítulos, mas, antes mesmo da estreia, a Globo a estendeu para 221 capítulos, o equivalente a dois meses a mais. Ou seja, a própria emissora criou um problema para a novela das sete, ao deixá-la grande demais, menos enxuta, menos direta, mais enrolada.

É preciso que a trama seja bem amarrada e bem clara para sustentar o público ao longo de tanto tempo. A autora parece querer mostrar que Leo está, aos poucos, se curando de traumas do passado e recomeçando a vida, mas a trajetória dela parece perdida pelo fato de o foco da história ser difuso, cada hora num lugar, num personagem, num problema.

Clara Moneke está muito bem no papel, dá show de carisma. Mas a personagem merece mais espaço e direcionamentos mais empolgantes.

Leia também -> Resumo dos próximos capítulos da novela Dona de Mim

Dona de Mim é ambientada em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O folhetim conta com direção artística de Allan Fiterman. No elenco, estão Clara Moneke, Tony Ramos, Juan Paiva, Rafael Vitti e Cláudia Abreu, entre outros nomes. 

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