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TATI VILLELA

Atriz de Vai na Fé esmiúça amor em peça e revela sonho: 'Movimento de negritude'

DIVULGAÇÃO/CHARLES PEREIRA

Tati Villela encara a câmera, séria, na frente de um fundo azul marinho

Tati Villela em divulgação da peça Amor e Outras Revoluções; atriz usa carinho como matéria-prima

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 8/4/2023 - 6h40

Tati Villela solta um leve sorriso quando afirma que ela e Mariana Nunes se complementam. Inclusive nas carreiras artísticas. A Naira de Vai na Fé tem mais experiência na escrita e na concepção de projetos; a Judite de Todas as Flores construiu uma carreira de 20 anos no audiovisual. Mas os interesses delas na profissão convergem em um ponto: falar sobre amor e, assim, fazer com que as pessoas se expressem pelo sentimento.

Essa ideia é esmiuçada na peça Amor e Outras Revoluções, estrelada por ambas as atrizes. O espetáculo esteve em cartaz no Rio de Janeiro em junho do ano passado, mas deve passar por outras cidades neste ano. Também ganhará um desdobramento: um podcast, em que as duas artistas convidarão colegas para discutir as várias faces do amor.

Queremos falar de amor, de felicidade. Claro, vamos contar uma história real, mesmo que ela tenha momentos ruins, tristes. Mas queremos exaltar a alegria. Nós [pessoas pretas] também queremos casar, também queremos amar. E esse movimento de negritude, de 'amor preto cura', de 'beije sua preta em público', de se olhar pra o espelho e se aceitar para conseguir evoluir... Todas essas narrativas me construíram e foram para a peça.

O enfoque tem razão de ser. Um dos dados que fez a atriz decidir criar a peça veio de uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados do Censo 2010 mostram que as mulheres pretas (7% da população) são as que menos se casam.

Mesmo homens pretos acabam preterindo as mulheres --apenas 39,9% deles escolhem negras como parceiras. Afinal, a subjetividade preta também é construída a partir do ideal social branco, e, muitas vezes, relacionar-se afetivamente com brancos parece uma forma de se sentir "dentro" da sociedade. É o que teoriza a psiquiatra e psicanalista Neusa Santos Souza (1948-2008) em seu livro Tornar-se Negro (1983).

Bell Hooks (1952-2021), a grande inspiração de Tati em Amor e Outras Revoluções, trata do tema em Tudo sobre o Amor (1999):

Muitas mulheres negras sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum amor. Essa é uma de nossas verdades privadas que raramente é discutida em público. Essa realidade é tão dolorosa que as mulheres negras raramente falam abertamente sobre isso.

Mas o projeto não trata só das relações afroafetivas e inter-raciais. Tati quer falar de todo o tipo de amor, desde relações no trabalho até amores ancestrais. Não por acaso, ela falou "amor" quase 40 vezes no decorrer da entrevista ao Notícias da TV.

O amor de Naira

O amor também é a grande matéria-prima do trabalho de Tati na atual novela das sete da Globo. É também por meio dele que ela dá vida à segurança de Lui Lorenzo (José Loreto), que, apesar das poucas falas, leva à novela questões importantes.

Exemplos são o amor da personagem à sua negritude, por meio de uma escultura capilar pensada por Tati, além das várias cenas em que ela arruma o cabelo; o amor a seu lado feminino --ideia da própria Tati, numa fuga do estereotipo da segurança sempre masculinizada, "bruta"-- e, claro, o amor pelo seu descanso. Uma ideia que representa boa parte dos brasileiros e, especificamente, aqueles abordados em Vai na Fé. Os que fazem seu trabalho, mas, no fim do dia, querem chegar em casa e curtir a vida.

"Eu vejo ela como os trabalhadores do povo brasileiro, o proletário mesmo, que se despenca de um lugar pro outro para trabalhar para uma classe mais alta, faz de tudo e, depois, vai embora. Ela não quer problema, só quer ganhar seu dinheirinho no final do mês. Muitas coisas que acontecem ali, ela fala: 'Gente, vocês se resolvam. Só vim aqui fazer meu trabalho'", exemplifica.

Quando me veio esse convite, eu pensei: 'Cara, eu já sou uma mulher grande, --eu tenho 1,76 m-- e sou uma mulher preta retinta. E aí eu vou fazer uma segurança, sabe, de uma galera branca? Como vou trazer essa mulher? Como vou contribuir com a quebra desses padrões? Então eu trago ela leve, divertida. Não quero colocar ela na conjuntura da raivosa, com ódio. Eu quero que o público consiga ver a subjetividade dela, e não só ver uma mulher durona ali na frente da tela.

Naira, de fato, não ocupa o lugar de raivosa. Mas sabe bem quando deve defender os seus ou se posicionar contra uma atitude errada. Ela foi uma das primeiras pessoas a enfrentar Theo (Emilio Dantas), furiosa pelos assédios dele contra Sol (Sheron Menezzes).

Era de se esperar. Naira é uma personagem bem feminista, um contraponto à canalhice de Jairo (Lucas Oradovsch). Aliás, Tati revela que, na sinopse, os dois seriam irmãos. "Nós estamos curiosos de como vão desenrolar isso", confessa a atriz. Isto é, se as coisas não mudarem.

Vai na Fé é o primeiro trabalho de Tati na TV, e ela admite ainda estar sendo "engolida" pelo ritmo frenético das mudanças e das gravações.

Química da arte

Apesar de ser novata na TV, Tati já está na área artística há um tempo. Fez um curso de atuação em São Paulo, deu oficinas de escrita, escreveu um livro (Pretamorfose, publicado em 2020), participou de peças e fez filmes. Por Mundo Novo (2021), ganhou o Troféu Redentor de melhor atriz na 23ª edição do Festival do Rio. Também integra dois coletivos artísticos: o Grupo Dembaia e o Confraria do Impossível. 

Mas seguir esse caminho não foi uma decisão do dia para a noite. Tati não tinha grandes incentivos para ser atriz quando criança. O avô fundou uma escola de samba, a Combinados do Amor, e todos gostavam muito de música, de poesia, mas ninguém pensava nisso como profissão.

Ela diz que uma tia se tornou atriz, mas foi "jogada de lado" pela família. Tati só pôde enfim conhecê-la na Globo, durante testes para um papel, há poucos meses.

Por isso, apesar das aulas de teatro, ela decidiu cursar Química quando passou na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Entrou para o grupo de teatro da faculdade, mas sem pretensões. Saiu e emendou um mestrado.

Foi trancada num laboratório, frio e sem luz solar, um ambiente branco e elitista, que ela começou a repensar sua carreira. "Eu devia ter uns 25 anos. Hoje, eu tenho 35. E pensei: eu quero viver assim até 70? Acho que não vou ser feliz assim. Fui para a faculdade muito cedo, sem ter muita perspectiva, sem saber o que era aquilo. Sempre fui criativa, e aquele trabalho ia me estagnar; ia deixar de ser revolucionária e ficar num lugar padronizado."

Então, ela simplesmente deu a cara a tapa. Niteroiense, se mudou para o centro do Rio de Janeiro e fez de tudo para se manter na cidade. Vendeu pães artesanais, ministrou oficinas, trabalhou como garçonete em um bar. "Esse momento do bar foi o mais pesado, porque eu servia uma galera que achava que eu era menor do que eles. Mas eu segui. Falei: 'Cara, é isso e tá tudo bem. Eu vou pagar minhas contas e fazer minha peça'."

Deu certo, e ela credita isso ao fato de ter suas energias focadas num mesmo propósito. "Tudo o que quero, eu consigo", afirma. "Eu coloco minha energia, e essa energia da atração vira energia do trabalho."

Essa aura mística, de certa forma, também converge com as escolhas profissionais da artista. "Está tudo conectado. Não jogo fora o que aprendi [na faculdade]. Vou aproveitar a ciência que tenho, a Biologia, a Física que pesquisei, e colocar isso na arte. Está dando certo. Se vejo meus trabalhos, eles falam disso, de moléculas, do comportamento de dentro [do corpo]."

A abordagem converge com as crenças dela. Candomblecista, a artista vê a religião como uma manifestação da natureza. Herdou essa visão da mãe. A mulher, aliás, é uma de suas maiores incentivadoras na profissão. Mas a artista admite que os pais ficaram abalados quando ela largou a Química e seguiu para a atuação.

"Eles me têm como uma cabeça pensante mesmo, sabe? Desde pequena. Nunca foi só um lugar de opressão. Eles me apoiaram a ser uma criadora e acreditar naquilo que eu faço. Eles tiveram um baque [quando desisti de área de formação] porque era o momento de eu estar prosperando, mas eu falei: 'Estou feliz, e preciso exercer minha felicidade'. E eles: 'Tá bom, minha filha. A gente está do seu lado'", conta. O pai é funcionário público aposentado; a mãe, enfermeira aposentada.

Desde que optou por esse novo rumo, Tati não parou mais. Vira e mexe, faz dois ou três projetos ao mesmo tempo. Enquanto pesquisava sobre Naira, ela encenava a peça com a namorada e escrevia um texto. É uma forma de se sustentar, claro, pois um projeto por si só não paga as contas. Mas também é uma forma de se manter viva.

"Eu vejo a Renata [Sorrah, sua colega de cena], por exemplo. Ela faz uma peça e ainda vai gravar no mesmo dia. Está muito cansada, mas ama fazer isso, fica feliz. É uma necessidade que ela tem. Para nós, artistas, é assim", declara.

Amor e Outras Revoluções também entra nisso. Para Tati, o tema é justamente uma necessidade. "Foi um projeto muito sonhado. Ele fala de amor em geral, mas pela subjetividade de duas mulheres negras. Sempre quis falar sobre isso, e as pessoas estão comprando. As pessoas saem falando sobre o amor e querendo se amar", diz. Mas admite: "Foi um desafio fazer um projeto com a pessoa amada".


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