Novela da novela
Divulgação/TV Globo
Aguinaldo Silva em participação no Altas Horas: ele terá de escolher entre duas novelas
DANIEL CASTRO e LUCIANO GUARALDO
Publicado em 7/12/2017 - 6h00
A Globo está tentando convencer o autor Aguinaldo Silva a voltar atrás da decisão de não escrever mais a novela O Sétimo Guardião, envolvida em uma grande polêmica sobre direitos autoriais que ainda pode acabar na Justiça. Silva entregou uma nova sinopse de novela à Globo, com o título provisório de Enquanto o Lobo Não Vem, mas a cúpula da emissora prefere O Sétimo Guardião para estrear no último trimestre do ano que vem.
A nova sinopse, que Silva escreveu entre outubro e novembro em Lisboa, foi aprovada, mas não tem a mesma força de O Sétimo Guardião, que marcaria a volta do autor ao realismo fantástico, gênero que se caracteriza por pessoas e situações extraordinárias, como as novelas A Indomada (1997) e Pedra Sobre Pedra (1992).
Silvio de Abreu, diretor de teledramaturgia diária da Globo, segundo uma fonte do Notícias da TV, avalia que O Sétimo Guardião é uma novela mais completa, com personagens mais interessantes e carismáticos. A decisão final, no entanto, caberá ao autor.
Se Aguinaldo voltar atrás, terá que engolir o que escreveu. No começo de novembro, quando preparava a sinopse de Enquanto o Lobo Não Vem, ele publicou em seu blog que "nunca mais sequer escreverei o título" da "novela descartada", referindo-se a O Sétimo Guardião.
Todo esse ressentimento vem da longa polêmica envolvendo o escritor mineiro Silvio Cerceau, que foi aluno de um curso de roteiro ministrado por Silva no final de 2015. Durante a master class, os 26 estudantes desenvolveram personagens e cenas completas, seguindo uma escaleta (sequência de acontecimentos) criada pelo autor.
A técnica de distribuir cenas entre a equipe é comum entre autores e seus colaboradores, que são creditados e recebem salário da Globo. A utilização de alunos de uma master class para a criação de uma sinopse para a Globo, no entanto, gera controvérsia.
Depois que a sinopse de O Sétimo Guardião foi aprovada pela emissora, todos os participantes do curso tiveram de assinar um documento em que cediam os direitos patrimonais para Silva. Depois, em um novo acordo, seria acertada a cessão dos direitos morais e autorais da criação.
Cerceau, então, decidiu confrontar Silva. "A minha maior dúvida é por que eu tenho que ceder os direitos de um material do qual sou autor para a Casa Aguinaldo Silva de Artes", disse o escritor, em setembro, ao Notícias da TV.
O estudante chegou a notificar Aguinaldo extrajudicialmente para que o autor prestasse esclarecimentos. "Se não houver resposta e solução, vai ter processo, sim. Vou ativar meus advogados", alertou o ex-aluno.
Aguinaldo Silva, então, se revoltou e decidiu abrir mão de O Sétimo Guardião.
Apesar de ter resolvido dessa forma drástica o imbróglio com o ex-aluno, Silva não perde a oportunidade de alfinetá-lo em suas redes sociais. Já postou textos irônicos sobre como é fácil virar autor de novela, já insinuou que Cerceau não sabe sequer falar direito, quanto mais escrever uma obra na Globo e escreveu que já morou na Lapa e aprendeu "com Madame Satã [1900-1976] a dar rasteira em malandro".
Cerceau também contra-atacou no Twitter. "Aprendeu mesmo, além de dar rasteira em malandro, aprendeu a sempre sair impune de suas ações ilícitas", escreveu em outubro. No início deste mês, postou: "Quem se ama não experimenta a solidão. Sua própria companhia lhe basta" _antes, Silva já havia escrito que escrever uma novela é um ato muito solitário.
Em novembro, sem citar nomes, Silvio Cerceau também acusou Silva. "Até nas redes sociais, algumas vezes, é o outro que escreve para ele", atacou, em referência a Francisco Patrício, assessor pessoal de Silva. Antes, tinha postado: "Desapega. Conta uma nova história. O que passou, passou".
Pelo jeito, nem a Globo desapegou de O Sétimo Guardião. Resta saber se Aguinaldo Silva voltará atrás de suas palavras e topará dizer o nome da novela outra vez.
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