ENTREVISTA EXCLUSIVA
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Duda Santos em foto publicada nas redes; ela destacou importância de abordagem da religião
Duda Santos é categórica ao afirmar que se deixa mover pela fé. E, através disso, a atriz acabou percorrendo caminhos inimagináveis nos últimos cinco anos. Da estreia na TV, em 2019, ao protagonismo em Garota do Momento, a artista construiu sua trajetória também por meio da determinação --característica que vai ao encontro de sua personagem na novela das seis da Globo, a mocinha Beatriz.
Não é o único fator em que intérprete e personagem se cruzam. As histórias de orixás tão contadas pela modelo na trama também já são bem conhecidas pela jovem. Candomblecista, Duda acredita que falar da religião de "forma respeitosa" é importante também num sentido de conscientização.
"Infelizmente, a intolerância religiosa é uma realidade; então, quando se apresenta o candomblé desse jeito bonito que é, eu acho muito importante", afirma a atriz, em entrevista exclusiva ao Notícias da TV.
A novela também trata de outros assuntos "preciosos" para a artista, como a representatividade e a luta para realizar os sonhos. Esse último aspecto é recente na vida de Duda. Em 2024, ela conseguiu concretizar algo com que sonhava há muito tempo: morar sozinha. Agora, se prepara para fazer sua primeira viagem ao exterior, assim que terminar a novela.
Acima de tudo, porém, a artista admite se alegrar por poder ajudar a família. Ela é a mais velha de quatro irmãos e sabe bem que as condições nem sempre foram fáceis. Criada na comunidade do Ipase, na Vila da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, Duda precisou morar com a tia durante quatro anos, porque a mãe não tinha condições de criá-la.
"Minha família é o meu maior bem. É o que eu tenho de mais precioso. E vê-los bem é um objetivo que tenho. Meu trabalho, meus sonhos, eles se misturam com esse desejo de poder contribuir para a felicidade deles", conta ela.
Na entrevista, a atriz falou ainda sobre seus outros trabalhos, suas expectativas para a carreira de atriz e sobre representatividade. Também conta um segredo: não curte se expor tanto sua vida nas redes sociais. "Gosto de ter esse lado mais reservado", admite ela. Veja a conversa completa:
NOTÍCIAS DA TV - Você foi um dos grandes nomes de 2024. Protagonizou a primeira fase de Renascer, caiu no gosto do público e, com isso, conquistou uma outra protagonista, mais ativa na trama --a exemplo do que havia acontecido com Patrícia França em 1993. Como você classifica o seu ano?
DUDA SANTOS - Foi um ano muito especial. Vivo um momento que foi muito sonhado por mim, muito desejado; então, eu só posso ter toda essa gratidão que eu sinto. E eu estou celebrando o meu presente. Às vezes, ficamos ansiosos pelo futuro e deixamos de viver o presente. Eu vivi intensamente esse ano de 2024, guardando cada uma dessas memórias lindas.
Apesar da Maria Santa ser importantíssima em Renascer, ela apareceu em momentos pontuais. Agora, você deve ter uma rotina muito mais intensa de gravações. Garota do Momento também te deu uma protagonista inédita, e ainda numa novela de época. A sensação de entrar e desenvolver esse trabalho foi diferente da de Renascer?
O que eu tenho aprendido na minha carreira é que cada trabalho é único. Renascer foi um trabalho muito especial, que me trouxe vivências muito lindas. E agora eu estou completamente apaixonada pela Beatriz e pela história que estamos contando em Garota do Momento.
Acho que a principal diferença é que a Maria Santa já tinha a história dela definida; apesar de ser uma obra aberta, eu sabia o destino dela. Agora, com a Beatriz, eu estou caminhando junto com os capítulos, aproveitando cada ação que a nossa autora escreve. São projetos bem distintos, mas os dois muito especiais para mim.
Sua primeira aparição na TV, uma participação em Malhação: Toda Forma de Amar (2019), brincava justamente com a sua semelhança com Gabz. Agora, as duas são protagonistas de novelas da Globo. Junto a Jéssica Ellen, vocês formam um marco inédito na TV: a primeira vez em que as três novelas da Globo são protagonizadas por atrizes negras. Como é ver o seu trabalho e o de outras atrizes negras ser reconhecido?
Nada me deixa mais feliz do que estar vivendo esse momento junto com a Gabz e a Jéssica. Eu sempre quis compartilhar algo assim, é nisso que eu acredito. Acho que é muito potente a mensagem que essas três protagonistas passam para o público e para todas essas pessoas que se sentem representadas.
Como você chegou à Globo pela primeira vez, no fim das contas?
Surgiu através de uma agência. Eles me chamaram para fazer um teste para Malhação, e eu fui fazer, achando que jamais passaria (risos). Fui porque queria ter aquela experiência de fazer um teste e conhecer mais. Fiz, fiquei feliz de ter feito e fui para casa. Dias depois, eu fui surpreendida com uma ligação da produtora me falando que eu tinha passado e que iria fazer Malhação. Foi uma festa lá em casa.
E como foi lidar com essa ascensão em "pouco" tempo – você foi de estreante para protagonista em seis anos e quatro novelas, afinal.
Acho que essa questão do tempo é muito relativa, porque é muito mais sobre a jornada, sobre a trajetória, acredito eu. E cada pessoa vive a sua história. Eu sempre quis seguir nessa profissão, sempre tive muito amor e respeito pelo que eu desejava profissionalmente. E eu me dedico, me entrego ao ofício.
Acredito que o que eu vivo é o resultado dessa dedicação, desse estudo e, claro, todo o trabalho desses anos. Fico feliz de poder ajudar a minha família, de morar sozinha pela primeira vez e tenho muitos planos e desejos. Viver é esse processo, é essa caminhada de cada dia.
Em entrevista, você admitiu ter medo do que poderia acontecer ao interpretar Maria Santa sendo uma mulher preta retinta. Como você avalia a experiência, agora que a novela chegou ao fim?
Foi um trabalho lindo, especial e muito significativo para mim. Foi uma história muito bem contada, com uma equipe dedicada e competente. É um trabalho que ficará na minha memória e no meu coração.
Você também falou sobre sua história e suas origens, dizendo que lutava para que sua família seja feliz. Isso me lembrou muito a filosofia Ubuntu, mencionada em Garota do Momento. Como é levar para a TV algo que faz parte do seu propósito? Você costuma conversar com a autora, Alessandra Poggi, sobre o enredo da Beatriz?
Ubuntu significa eu sou porque nós somos. Independe ser alguém da sua família ou amigo. É algo maior e coletivo. Conhecendo ou não aquela pessoa, nós nos ajudaremos e nos daremos amor. Não podemos ser plenamente humanos sozinhos. E eu acredito muito nisso, que precisamos uns dos outros.
Minha família é o meu maior bem. É o que eu tenho de mais precioso. E vê-los bem é um objetivo que eu tenho. Meu trabalho, meus sonhos, eles se misturam com esse desejo de poder contribuir para a felicidade deles.
Garota do Momento tem mensagens muito lindas, é um texto muito bem escrito pela Alessandra. Eu não costumo discutir sobre o destino da Beatriz. Eu gosto de receber os capítulos e me surpreender com eles. E eu estou muito encantada e confiante com o lindo trabalho da Alessandra.
Você fez seu primeiro trabalho como modelo aos 16 anos, quando entrou num processo de passar a gostar de se olhar no espelho –devido também ao padrão de beleza que exclui meninas negras. É um movimento um pouco diferente da Beatriz, que foi criada em uma bolha amorosa e não tem questões com a autoestima, mas vem sentindo o preconceito na pele em todo esse processo de se tornar a Garota do Momento. Você vê semelhanças nas trajetórias de vocês, mesmo em épocas tão diferentes?
Eu acho que somos mulheres corajosas. Beatriz tem uma história de vida muito diferente da minha. Ela acredita que foi abandonada pela mãe, existe essa busca por essa ausência. Eu fui criada numa família numerosa e muito amorosa também. Mas Beatriz é determinada e eu acredito que tenho também essa determinação.
O preconceito, infelizmente, não é uma história do passado, e ele existe nos dias de hoje, sim. Dificilmente você encontrará um homem ou uma mulher negra que nunca tenha lidado com o racismo. Beatriz é uma mulher encantadora, forte e muito inspiradora.
Quando o vício digital de Theo (Ricardo Silva), irmão da sua personagem em Travessia (2022), começou a ser abordado, você disse que fez seu laboratório na própria casa. Afinal, sua irmã também é muito ligada ao mundo online. Mais uma vez, voltamos à sua ligação com a família. Como sua história se entrelaça com sua carreira artística?
Pra mim tudo se mistura, Beatriz e Duda, o que sinto é o que ela sente. É claro que existem vivências que nos atravessam, lugares que nos acessam. Agora em Garota do Momento, falamos de assuntos que são muito preciosos para mim, que eu sei que são de extrema importância para a sociedade e para diversas mulheres, homens e crianças que se veem representadas ali.
Sou uma jovem que sonhou muito em ser uma artista e batalha todo dia pra seguir no caminho do sonho. E toda essa história e a minha bagagem, é, de certo modo, um alimento para todas as vivências e sentimentos que eu coloco à disposição em cena. Estou disposta a me esborrachar pelas histórias que conto.
Você é candomblecista, e acabou fazendo duas novelas que tratam disso sob óticas diferentes. Renascer tratava dos rituais e das tradições; Garota do Momento traz as histórias dos orixás como um movimento de resgate à cultura africana. Qual sua visão sobre ambas as abordagens?
Eu acho que ambas fazem esse resgate à cultura africana. E é muito importante falar sobre a importância da religião, da fé, não apenas nesse resgate, mas para todos que são abraçados pela religião nos dias de hoje. Infelizmente, a intolerância religiosa é uma realidade; então, quando se apresenta o candomblé dessa forma respeitosa, desse jeito bonito que é, eu acho muito importante. A fé é parte de mim, é o que me move.
Além das novelas, você fez dois filmes. Não achei informações sobre o teatro, contudo. Tem planos para fazer trabalhos em mais formatos?
Tem um filme que vai estrear no ano que vem e eu estou muito feliz. É uma personagem bem diferente da Maria Santa e da Beatriz. É uma funkeira maravilhosa, divertida, autêntica, fiel aos sentimentos dela. O nome do filme é Funk.
Mas, como atriz, eu quero estar sempre em cena, não importa o formato. Eu sou apaixonada e muito realizada com o meu ofício. Tenho um desejo gigante de fazer teatro.
Você já está com 436 mil seguidores no Instagram. Sabemos que as redes sociais são um espaço importante para atores conseguirem trabalhos com publicidade, e números no online também sendo solicitados em alguns trabalhos artísticos. Ainda assim, você não costuma compartilhar muito de sua vida pessoal lá. Qual é a sua relação com as redes? Tem algum plano nesse sentido?
Eu gosto de ter essa liberdade com as redes... E não ter essa obrigação de postar todos os dias. E, no momento, até tem me faltado tempo mesmo (risos). Eu gravo quase que todos os dias. Quando não estou gravando, eu estou estudando. E, quando consigo uma folga, eu estou vivendo a vida real e esqueço de fazer um registro legal para postar (risos).
Até tenho desejo de ser mais atuante, mas, ao mesmo tempo, eu gosto também de ter esse lado mais reservado, não gosto de expor minha vida. A gente já expõe tanto nossos sentimentos nos trabalhos que alguma coisa tem que ser mistério. Mas eu adoro o carinho dos seguidores, adoro essa troca bonita com eles.
E quais as suas expectativas para 2025?
Ainda temos muitas histórias de Garota do Momento para contar, mas acredito que 2025 será um ano bom. Já tenho uma novidade, mas ainda não posso contar. Tenho o filme para estrear. Quero muito tirar uns dias de férias e fazer uma viagem para o exterior, que é um sonho antigo e pretendo realizar. É um ano que já começa com boas expectativas. Mas, acima de tudo, gratidão por tudo que aprendi e que trago pra esse novo ano.
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Resumo de Garota do Momento: Capítulos da novela das seis da Globo - 20/1 a 1º/2
Segunda, 20/1 (Capítulo 66)
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