Atriz diz que Beleza Fatal expõe crueldade da pressão estética para mulheres

Fernanda Marques se sente satisfeita com a repercussão de Beleza Fatal, na qual vive Rebeca na primeira fase. A jovem morre tragicamente após uma cirurgia plástica malsucedida, o que motiva o desejo de vingança da família Paixão na trama da Max. Para a atriz, interpretar essa personagem traz também a responsabilidade de conscientizar as pessoas sobre os riscos da pressão estética --principalmente para as mulheres.

"A padronização de rostos e corpos para mulheres, especialmente, é muito cruel. A sociedade impõe e coloca como obrigação quase, e isso gera consequências muito sérias para a saúde mental e o bem-estar. É preciso pensar muito antes de tomar uma decisão, porque há muitos charlatões e clínicas que não são sérias", reflete a artista em entrevista ao Notícias da TV.

A intérprete valoriza a abordagem do mundo das plásticas na novela de Raphael Montes. "Joje, vemos a divulgação desses procedimentos o tempo todo, fazendo com que a gente se compare diariamente. Está acontecendo uma normalização de cirurgias, como se fossem algo muito simples e não invasivo, quando na verdade é o oposto", alerta.

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"Tratar de temas que geram debates e conscientização no audiovisual é algo que satisfaz minha alma, me preenche como pessoa e artista, porque eu acredito muito na mudança do mundo através da arte", ressalta.

No folhetim, Rebeca é abandona num terreno baldio após o erro no procedimento realizado por Rog (Marcelo Serrado) e Benjamin (Caio Blat). Os vilões ainda armam um esquema para impedir a jovem de receber um transplante de coração.

"A cirurgia da Rebeca foi imposta a ela pelo Rog. Ela não pensou a respeito, não era uma vontade dela. É algo comum, muitos médicos agem dessa forma cruel e sugestiva com seus pacientes, indicando procedimentos em vez de orientar e questionar. Infelizmente, tem muitos profissionais antiéticos. É importante entender se é um desejo profundo da pessoa, se ela está segura da decisão... E não impor algo baseado num padrão de beleza."

"Fora o lado profissional dos personagens, a conduta como seres humanos é ruim. Eles têm más intenções com a Rebeca, querem se aproveitar de uma situação a partir do assédio", completa.

Rebeca topa a cirurgia porque acha que é necessário entrar nesse padrão para poder trabalhar como modelo. Ela foi ingênua, se cegou por conta de seu sonho de melhorar de vida e ajudar a família.

"Mas é interessante também ver que ela não é só uma mocinha comum. Ela tem camadas, tem desejo, curiosidade, ambição e faz o que for necessário para alcançar seu objetivo, como dançar para o Benjamin. Ela se diverte de certa forma com isso, não é uma personagem achatada, sem cor. Ela é humana, tem luz e sombras", defende a atriz.

Fernanda ainda comenta a responsabilidade social da personagem ao servir de alerta para tais cirurgias. "A quantidade de mulheres, principalmente, fazendo procedimentos é gigantesca, por conta dessa sociedade patriarcal que impõe padrões de 'perfeição' dentro do que designaram como perfeito", lamenta.

"Somos obrigadas a seguir as regras de um jogo muito cruel a nós todas. O tempo inteiro as telas nos lembram disso, as redes sociais. Eu me sinto realizada sempre que posso tocar em temas sociais, que acessam as pessoas. Temas universais com que as pessoas se identificam, que fazem com que se questionem e formem uma opinião", afirma.

Gravação da morte

Fernanda contou com uma ajudinha da equipe para aliviar a tensão durante as sequências que levaram à morte de Rebeca. "Quando uma história é muito pesada, o set de gravação costuma tentar ser leve. E nessa cena foi o que aconteceu. Eu já sabia desde o teste que Rebeca morreria, então não houve uma expectativa de algo diferente. Dentro do roteiro era necessária essa curva narrativa. Mas, sim, eu adoraria que ela pudesse ter vivido mais histórias dentro da novela (risos)", solta.

Apesar de a personagem ficar poucos capítulos na novela, a atriz teve tempo suficiente para se entrosar com o elenco. "As cenas foram distribuídas para serem gravadas no começo, no meio e fim das gravações, por conta das locações. Tive a sorte de ir gravar em diversos momentos e acompanhar o set, pude fazer amigos novos e também conviver com quem eu já conhecia", comemora.

A intérprete conta ainda que usou a própria vida para compor a personagem. "Como ela, eu também sou uma menina da periferia. Ela do Rio, e eu de São Paulo. O estilo musical é bem similar, as coisas que consumia. Foi um prazer contar uma história cheia de debates importantes, como essa imposição da padronização de corpos", arremata.