RARA REFERÊNCIA
REPRODUÇÃO/SBT
Silvio Santos (1930-2024) e Rodrigo Faro no Programa Silvio Santos de 23 de dezembro de 2018
Intérprete de Silvio Santos (1930-2024) no filme homônimo que chega aos cinemas na próxima quinta (12), Rodrigo Faro quase não teve referências para criar sua versão do apresentador. Isso porque a obra cinematográfica dirigida por Marcelo Antunez não foca na persona criada para a TV, mas em Senor Abravanel --um lado que o comunicador raramente mostrava ao público.
O vozeirão, o sorriso largo e os bordões já são de conhecimento de praticamente todos os brasileiros, dado o longo período em que Silvio Santos reinou na TV. O enredo de Silvio, entretanto, mostra o apresentador em um momento de extrema vulnerabilidade: o dia em que foi feito de refém em sua própria residência, em 2001, pelo mesmo sequestrador de Patricia Abravanel.
Apesar do grande desafio, Faro tinha uma carta na manga: quando foi pedir a permissão ao próprio Silvio Santos para poder interpretá-lo nos cinemas, ele teve uma conversa de cerca de meia hora no camarim com o dono do SBT. Ali, viu o apresentador sem a máscara que usava para ser o grande patrão.
"Foi um desafio muito grande, porque a caricatura todo mundo faz", declarou Faro em entrevista ao Notícias da TV. "Em uma cena em que Silvio Santos pede para o Fernando [Dutra Pinto, o sequestrador] para não morrer, eu não poderia falar 'má oe, eu não posso morrer!' [imitando Silvio]. Não tem como, né?", acrescentou.
Segundo o ator, ele precisou começar o trabalho de construção de Silvio a partir do exagero. Depois, foi diminuindo o tom até chegar em uma versão convincente do comunicador em um momento de muita tensão.
"Eu fiquei no camarim dele uns 30 minutos batendo papo com ele. O Silvio, falando no dia a dia, tem uma prosódia --tem um pouco do Silvio que a gente vê no palco, mas é tudo bem diferente. Talvez seja o mesmo volume e projeção, quem assistir ao filme vai ver que tem o Silvio do palco em vários momentos, mas na grande maioria do tempo é um Silvio inseguro, preocupado com a família", observou.
"Eu sabia que ia ser muito difícil. Quando eu li o texto, eu falei: 'Não vai dar'. Mas eu tinha aquela referência, daquele papo com ele, e foi esse Silvio que eu quis fazer. O Silvio de carne e osso, que tem empatia. O Senor, com poder de persuasão, o Senor que não se deixa abalar mesmo em uma situação de fragilidade", ponderou.
Antes de topar fazer o papel do grande comunicador, Rodrigo Faro ligou para a assessoria do SBT e perguntou se poderia conversar com Silvio Santos. Seu intuito era pedir a bênção para poder interpretá-lo nos cinemas --algo que ele não faria se o próprio Silvio não aceitasse.
"Eu cheguei no SBT, ele estava assistindo à Pantera Cor-de-Rosa e tinha acabado de comer um bifinho. Ele perguntou: 'A que devo a honra?', e eu comecei a contar que havia sido chamado para um filme, ele começou a me questionar e a falar da vida dele. Aquele foi o maior laboratório que eu fiz", explicou.
"Enquanto ele falava, eu prestava atenção em cada detalhe da prosódia, na maneira em que ele pontuava, na postura dele. Eu falei para ele que só faria o filme se ele gostasse da ideia, se ele me permitisse viver isso", detalhou.
"Ele falou que gostava da ideia, mas que só me daria a resposta final no palco do programa. Aquele dia eu não tinha nem recebido autorização da Record para estar no SBT, imagina se ele me chamasse e negasse o filme. Mas para a minha surpresa, para a minha alegria, ele em um gesto de generosidade, carinho e respeito que sempre teve por mim, disse que ficaria feliz e que seria motivo de orgulho", afirmou Faro.
O programa foi ao ar em 23 de dezembro de 2018, e Rodrigo Faro chorou ao ter uma resposta positiva de Silvio Santos. Ele apenas lamentou não ter conseguido mostrar a obra em vida para o apresentador.
"Era inicialmente uma homenagem para ser feita em vida, só que Deus não quis assim. Mas foi um filme feito com muito amor para alguém que, especialmente para mim, é uma referência", finalizou.
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