CRÍTICA
DIVULGAÇÃO/DISNEY
Elementos, filme da Disney Pixar, traz romance abalado pelas diferenças de classe social
Elementos, da Pixar, segue a fórmula de sucesso do estúdio ao mostrar a jornada do herói e seus aprendizados ao longo do caminho. Apesar de ser agradável aos olhos, a novo aventura se perde quando passa a focar em uma comédia romântica nos moldes de Romeu e Julieta, de William Shakespeare (1564-1616), e se esquece da personalidade da mocinha, que poderia até fazer parte do universo de Divertida Mente (2015).
O filme conta a história de Faísca, habitante da Colônia do Fogo na Cidade Elemento. Ela foi criada para assumir a loja do pai, mas passa a questionar seu lugar no mundo ao conhecer o atrapalhado inspetor sanitário Gota. De classes sociais --e elementos-- considerados rivais, eles partem em uma missão para salvar o estabelecimento do pai da mocinha, que corre o risco de ser fechado.
No início, a animação mostra os pais de Faísca deixando sua cidade após um terremoto. Eles chegam na Cidade Elemento, que faz alusão à Nova York, nos Estados Unidos, mas são rejeitados pelos vizinhos. A situação só melhora quando encontram um terreno caindo aos pedaços, reformado em seguida. O casal se torna um dos primeiros imigrantes da Colônia do Fogo, que cresce com o passar dos anos.
A construção de mundo divide os elementos fogo, água, terra e ar, cada um com sua peculiaridade. Todos convivem em harmonia, exceto o Povo do Fogo, malvisto e rejeitado pelos outros. Faísca cresce sabendo que um dia assumirá a loja de seu pai quando ele se aposentar, mas percebe que não é isso o que quer para a sua vida.
O encontro de Faísca e Gota envolve humor e a represália de que fogo e água não podem se misturar. A menina, filha de imigrantes e pobre, pede ajuda do garoto rico para salvar sua família. As sequências entre os personagens deixa claro que um romance acontecerá. Isso atrapalha o desenvolvimento pessoal deles e dá palco para uma comédia romântica.
Faísca ganha mais camadas ao ser apresentada como uma jovem determinada a agradar aos pais, mas que busca seu lugar no mundo. Ela é ambiciosa e quer ser algo mais do que apenas proprietária de uma loja. Já seu par romântico faz o papel do rapaz que teve estudos e uma boa estrutura de vida, mas é bobo e imaturo.
A crítica social da vez envolve o preconceito e as dificuldades que os imigrantes sofrem ao abandonar seus países de origem para buscar algo melhor em outro continente. O diretor Peter Sahn (O Bom Dinossauro) revelou à Variety que a inspiração para Elementos foi a trajetória de sua família, que se mudou da Coreia do Sul para os Estados Unidos.
"Quando eu era criança, realmente não apreciava ou entendia o que significava ser um imigrante, vir para os Estados Unidos, todo o trabalho duro que eles fizeram para dar a mim e ao meu irmão nossas vidas. Isso me trouxe a ideia de encontrar opostos: a questão de saber como seria se o fogo se apaixonasse pela água", contou.
Apesar do tema forte, a abordagem é rasa. Os preconceitos e as diferenças existem, mas o estúdio optou por não dar solução a esses conflitos. No fim do filme, a impressão é de que muitas pontas soltas permanecem. Fica a lembrança distante de Divertida Mente, que entregou uma história potente, coesa, profunda e reflexiva.
Os personagens de Elementos são carismáticos, mas caem no esquecimento assim que as luzes do cinema se acendem. Falta o fogo da Pixar. Isso é um reflexo de que o estúdio ainda é capaz de fazer produções memoráveis com temáticas complexas, como Soul: Uma Aventura com Alma (2020) e Viva - A Vida É uma Festa (2017), mas é preciso cuidado para não derrapar na execução e perder a profundidade de suas abordagens.
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