ESTREIA NA MAX
Hires Grain/Divulgação/Max
Vinicius de Moraes e Baden Powell nas gravações de Os Afro-Sambas, disco de 1966
Um dos discos mais icônicos do cancioneiro nacional, Os Afro-Sambas (1966) ganhou um documentário homônimo que desnuda os bastidores da gravação de Vinicius de Moraes (1913-1980) e Baden Powell (1937-2000) que mudou para sempre a MPB. É um mergulho inusitado no trabalho dos dois músicos e um estudo profundo de como um álbum que vai completar 60 anos em 2026 ainda é essencial nos dias de hoje.
A ideia de transformar Os Afro-Sambas em documentário partiu da produtora Rinoceronte Entretenimento, que, em 2023, já havia lançado Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você. "Nós estávamos pensando em qual seria o próximo álbum que merecia ter sua história contada; porque não poderia ser qualquer álbum, tem que trazer alguma transformação, tem que ser um registro grande", lembra Renata Leite em conversa exclusiva com o Notícias da TV.
"E aí, o meu sócio, Diogo Pires Gonçalves, que é produtor junto comigo, trouxe a ideia de Os Afro-Sambas, em que a gente identifica claramente uma grande mudança, é um álbum que representa uma ruptura na trajetória da música popular. Tem essa entrada toda da herança africana, da herança da Bahia, dos cânticos na música", aponta a produtora à reportagem.
Com o álbum definido, Renata e Diogo chamaram o diretor Emílio Domingos (do documentário Baila, Vini) para fazer da ideia algo concreto. Em 2020, a Warner Bros. Discovery entrou na parceria, que só agora é disponibilizada para o público. "Tem todo aquele trâmite burocrático, a gente sabe que fazer audiovisual no Brasil é para os fortes, né?", brinca Renata, aos risos.
Em meio à busca por imagens de arquivo raras e reconstruções emocionantes, além dos registros de uma viagem pela história, pelos sons e pelo contexto social que moldaram a obra, a equipe gravou em 2023 as entrevistas e os depoimentos que compõem a obra --são nomes como Maria Bethânia, Nelson Motta, Jards Macalé e Dori Caymmi, entre outros.
Um dos momentos mais emocionantes, porém, envolve Cynara Faria (1945-2023), fundadora do Quarteto em Cy, que participou do álbum com as irmãs --ela morreu apenas duas semanas depois de gravar com a equipe de Os Afro-Sambas, naquele que se tornou o seu último registro em vida. "Foi um depoimento lindíssimo, ela ficou muito envolvida com a gente, muito feliz de ter participado dessa gravação", lembra a produtora.
"A Cynara precisava falar, essa entrevista dela foi muito emocionante. Parecia que ela tinha essa consciência da importância do depoimento, como se já soubesse que seria o último. E, de certa maneira, ela voltou no tempo, né? Acho que foi quase que um depoimento de vida ali", aponta Emílio Domingos, o diretor do documentário.
"Ela falou de outras questões, da paixão dela pelo Vinicius, da saudade que ela tem do Quarteto em Cy. Ela meio que fez um apanhado da vida toda. E aí é curioso, porque ela era uma pessoa que já estava muito fragilizada fisicamente, mas ela foi mentalmente para lugares... Acho que a música tem essa força. Ela voltou a ser uma jovem de 22 anos ouvindo o disco e tendo essa conversa, sobre o Vinicius e sobre Os Afro-Sambas", diz o cineasta.
Também gravaram para o documentário artistas como Marcos Valle e Roberto Menescal, contemporâneos do disco, mas representantes da bossa nova, e músicos da atualidade, como Russo Passapusso e Kiko Dinucci, que bebem na fonte do trabalho realizado há seis décadas.
"A gente queria isso mesmo, mostrar o quanto esse disco era importante. As fontes em que ele bebe, mas também o quanto ele deixa de influência, de legado na música e na sociedade brasileira", valoriza Domingos.
"Eu acho isso incrível. É lindo, acho que o disco e o documentário têm uma linha narrativa parecida, né? No documentário você também precisa estar aberto para o novo e disponível para experimentar e para fazer uma montagem que seja interessante, acessível, que vai juntando as coisas. Tem uma conexão forte", diz Marina Pedral, gerente de Produção e Conteúdo da Warner Bros. Discovery.
"Seria muito fácil fazer um filme sobre dois gênios, como eles de fato eram, mas só enaltecendo e colocando eles como figuras perfeitas e intocáveis. Mas não, eles são humanos, eles viram três garrafas de uísque numa noite (risos). Eles brigam, têm desavenças, mas acho que é dessa química toda, até mesmo desse senso de alteridade, desse amor e desse respeito pelo outro, que surge essa obra, né?", crava o diretor.
"Você acaba gostando mais deles como figuras humanas, para além da genialidade musical. Isso gera uma empatia. Acho que o filme tem essa capacidade também", sentencia Domingos.
Os Afro-Sambas: O Brasil de Baden e Vinicius estreia nesta terça-feira (24) na plataforma Max. Confira o trailer oficial do documentário:
© 2025 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.