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MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE

Com Chico Buarque e Lula, documentário proibido expôs podres de Roberto Marinho

REPRODUÇÃO/ACERVO ROBERTO MARINHO

Roberto Marinho posa para foto

Como Cidadão Kane (1941), Roberto Marinho foi acusado de manipular informações para o público

JOSÉ VIEIRA

jose@noticiasdatv.com

Publicado em 6/8/2023 - 8h30

"Roberto Marinho [1904-2003] é hoje a força política mais importante do país. Nada se faz sem consultá-lo. É assustador", afirma Chico Buarque ao documentário Muito Além do Cidadão Kane (1993), que investigou as ações controversas do presidente do Grupo Globo, que morria há exatos 20 anos.

A produção, censurada pela Justiça brasileira, propõe uma análise sobre as relações de poder entre a mídia e a política no país, com foco no domínio da Globo. O longa conta com declarações de Luiz Inácio Lula da Silva e investiga polêmicas que rodearam a carreira de Marinho. 

O documentário foi exibido pela primeira vez no britânico Channel 4, em março de 1993, e nunca chegou oficialmente ao nosso país. Em uma entrevista de 2008 para a Folha de S.Paulo, o produtor John Ellis contou que a obra foi criada para que os ingleses tomassem um maior conhecimento sobre o Brasil.

O título é inspirado em Charles Foster Kane, personagem principal do clássico Cidadão Kane (1941). Bem como na ficção, Roberto Marinho é colocado como um magnata da imprensa que abusa das manipulações para influenciar a opinião pública a seu bel-prazer.

A produção é dividida em quatro partes e tem como ponto de partida a fundação da TV Globo, criada em 1965, bem no início da Ditadura Militar (1964-1985). Para alavancar sua emissora, Marinho apoiou o golpe, se aproximou de governantes e firmou parcerias políticas.

A cobertura jornalística da emissora é apontada como uma das principais ferramentas para a manipulação dos telespectadores. Os programas ignoravam possíveis ameaças à estabilidade do regime militar e disseminavam pautas com um teor otimista para o público.

Outro ponto mencionado é o apoio de Marinho à eleição do ex-presidente Fernando Collor, em 1989. O documentário afirma que as editorias do Grupo Globo eram parciais e produziam notícias que desfavoreciam Lula, seu principal concorrente. O longa ainda acusa o Jornal Nacional de boicotar o petista ao editar trechos de sua participação em um debate presidencial.

Lula, líder do movimento dos metalúrgicos na época, foi entrevistado pela produção e criticou a cobertura de greves pela emissora: "A Globo só mentia a respeito da greve. Não dava informações corretas, não dava o número de participantes corretos, não dava nossas deliberações corretas. Só informava sobre os interesses patronais".

Após a morte de Marinho, em 2003, Lula foi ao seu velório e ignorou os conflitos que teve com o empresário em vida. "A gente não mede as pessoas por divergências políticas, mas pela importância que as pessoas tiveram naquilo que se propuseram a fazer. O doutor Roberto Marinho foi inegavelmente um dos maiores homens da comunicação na história desse país", disse ele, para o Jornal Nacional.

O boicote

Depois de o documentário ser transmitido no Channel 4, o MIS (Museu de Imagem e Som) de São Paulo conseguiu cópias ilegais de Muito Além do Cidadão Kane. A instituição chegou a anunciar exibições, mas as fitas acabaram confiscadas por ordem do então governador, Luiz Antônio Fleury Filho (1949-2022).

Posteriormente, uma exibição foi agendada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, mas também não ocorreu por proibição de Itamar Franco (1930-2011), então presidente do país.

De acordo com Ellis, a Globo tentou comprar os direitos do longa após sua estreia, com o intuito de engavetá-lo. O Channel 4 não cedeu à emissora e ainda venceu uma batalha judicial contra a empresa de Marinho.

Nos anos 1990, a Record também entrou na briga pelos direitos do documentário. Inicialmente, a empresa recuou ao notar que enfrentaria uma longa disputa judicial com Roberto Marinho, devido às imagens retiradas da programação da Globo no filme.

Em 2009, após a Globo exibir matérias que acusavam a Igreja Universal do Reino de Deus de lavagem de dinheiro, a Record comprou o material por cerca de US$ 20 mil (R$ 97 mil, na cotação atual). Ainda assim, a emissora nunca transmitiu o documentário na íntegra em sua programação.

Muito Além do Cidadão Kane ganhou sobrevida por meios ilegais e pode ser assistido de maneira não oficial em algumas plataformas de vídeo. No YouTube, a produção conta com mais de 381 mil visualizações.


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