SANGUE DE CRISTO
REPRODUÇÃO/BELIEVE ENTERTAINMENT
Edward Wayne Brady (Sean Patrick Flanery) está possuído pelo demônio no filme Nefarious
Até Hollywood já notou o potencial de um público que ignorou durante um bom tempo, os neopentecostais, com produções que vão muito além de The Chosen. A série ainda segue como um marco, especialmente por ter sido financiada pelos próprios fãs, mas a dramaturgia confessional já alcançou um gênero que no passado era visto como coisa do diabo --os filmes de terror.
Uma boa parte do público deve pensar logo em Deus Está Morto (2014) quando se fala em cinema cristão. De fato, muitas produções voltadas para esse público realmente apelam a um tom mais evangelizador, que acaba sempre em uma lição de fé --como Quarto de Guerra (2015), que até já foi exibido na Sessão da Tarde, da Globo.
Mas essa "onda evangélica" já chegou até no gênero que era considerado um tabu dentro de muitas igrejas. Afinal, atire a primeira pedra quem nunca ouviu que apenas assistir a um filme de terror trazia coisas ruins para dentro de casa --algo repetido até por mães de outras denominações ou fés diferentes.
Nefarious (2023), porém, se coloca talvez como um dos pioneiros no terror cristão. O longa-metragem mostra um psiquiatra que revê as suas posições pessoais depois de entrevistar um assassino em série que alega estar possuído pelo demônio.
A premissa acabou atraindo até mesmo um público que não se identifica com o neopentecostalismo e que viu a história como uma peça de propaganda conservadora nos Estados Unidos. Não é incomum encontrar resenhas de espectadores surpresos até com o posicionamento do diabo --que, mesmo sendo vilão, convence o protagonista de que aborto é assassinato.
“Como ninguém percebeu [durante as filmagens] que o próprio demônio é quem tem uma retórica conservadora? Ele literalmente diz que o aborto é errado, e o protagonista diz: 'Meu Deus, você está certo'", escreveu um perfil identificado como Paul no Letterbox, rede social voltada para a avaliação de filmes e séries.
"Se vocês vão fazer um demônio ser um republicano cristão, pelo menos façam isso ser divertido", reclamou Matthew Whiskey.
Nefarious curiosamente está disponível na plataforma Univer Video, que é o serviço de streaming da Igreja Universal do Reino de Deus.
Se o clássico O Exorcista (1973) popularizou o rito católico para expulsar as forças do mal, A Liberação (2014) aposta na visão neopentecostal. O filme da Netflix não é confessional, como Nefarious, mas já foi elogiado pela comunidade cristã por tratar de um "testemunho de fé".
Baseado em uma história real, a trama mostra a apóstola Bernice James (Aunjanue Ellis-Taylor) ajudando uma família a se livrar de uma entidade maligna. Ela entra na vida deles por meio de Alberta (Glenn Close), que passa a frequentar um templo protestante nas redondezas depois de ter sido diagnosticada com câncer.
As críticas publicadas no próprio serviço de resenhas do Google mostram que o filme caiu nas graças de evangélicos, mesmo sem se vender como uma produção voltada exclusivamente para esse público.
"Esse filme é um alerta para cristãos/evangélicos que levam tudo na brincadeira, que não se santificam verdadeiramente", escreveu Silmara Domingues, que se apresenta como pastora. "Não sou fã de terror, mas o filme me prendeu do começo ao fim. E na cena final pensei que ia infartar de tanto que meu coração acelerou e logo estava chorando de emoção que tem o poder de uma oração", acrescentou Franciele Borges.
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