ANÁLISE
Reprodução/Band
Imagem do Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula 1: Band deve desistir de transmitir corridas
Nas últimas três décadas, Walter Zagari liderou os times vice-líderes de vendas de publicidade da TV brasileira, primeiramente no SBT e depois na Record. Só a Globo vendeu mais que ele. Portanto, sua contratação pela Band, no início deste ano, parecia ser uma boa notícia para a TV aberta, uma ótima oportunidade de a quarta maior rede do país resgatar a relevância e dignidade que já teve. A parceria, no entanto, durou só oito meses.
Zagari diz agora que foi contratado apenas para um "job" de seis meses, mas não é bem isso. Ele tinha um projeto de rebranding da programação da Band, que exigiria investimentos em novelas e reality shows, entre outros formatos. Mas não precisou de muito tempo para perceber que o dinheiro não viria. Cobrado por resultados sem ter algo novo a entregar para o mercado, o executivo deixou o cargo de vice-presidente nacional de Comercialização do Grupo Bandeirantes oficialmente nesta terça (3).
Zagari, de 72 anos, levou para a Band um grupo de experientes executivos de TV, entre eles Paulo Franco, que foi diretor de programação da Record. Nos últimos meses, Franco negociou parcerias para produzir novelas. Uma possibilidade seria fazer no Brasil algum título da mexicana Televisa, cujo catálogo está sendo representado por Fernando Pelegio, que deixou a direção artística do SBT há quase um ano.
As conversas evoluíram, plataformas de streaming se candidataram a sócias na empreitada, mas faltou fé na Band. Os parceiros não se convenceram da capacidade da Band de honrar um compromisso de R$ 30 milhões, que seria o mínimo necessário para coproduzir uma novela. O projeto não foi pra frente.
A situação da Band é delicada. Internamente, já é dado como certo que domingo (1º) foi sua última transmissão da Fórmula 1. Aguarda-se para as próximas horas ou dias apenas a definição de como será a rescisão do contrato entre e a emissora e a Liberty, empresa que negocia os direitos da competição de automobilismo. Já é dado como fato consumado que a Band sequer exibirá os oito Grande Prêmios que faltam para terminar a temporada.
Quem conhece a Band afirma que o problema da casa não é somente uma dívida que estaria na casa de R$ 1,5 bilhão, mas também, e principalmente, o fato de que os cinco irmãos, herdeiros do grupo de comunicação criado por João Jorge Saad (1919-1999), nunca estiveram unidos --pelo contrário. Isso afasta possíveis investidores.
Ouvido pelo Notícias da TV, Walter Zagari foi diplomático. Ele não fala em um projeto que fracassou nem culpa terceiros por sua curta passagem na Band. "Fui contratado pra uma imersão, identificar caminhos de marketing e vendas. Levei um time, estruturei a área", diz. "O que eu tinha combinado com o Johnny [Saad, presidente do grupo], era ficar seis meses. Podia ficar mais? Sim, mas o combinado eram seis meses".
Zagari, contudo, reconhece que a Band precisa de investimentos. "O que eu sinto é que a Band tem um jornalismo muito forte, conceituado, e uma linha de esporte que ainda está na cabeça do telespectador e do anunciante. E novela, entretenimento, jornalismo e esporte concentram 80% do dinheiro [que anuncia na TV]. A Band precisa investir no segmento de novelas curtas e realities", recomenda.
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