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FOI À MANIFESTAÇÃO

Quem é Guilherme de Pádua, ator, pastor e assassino que apoia Bolsonaro?

Divulgação/TV Globo

Guilherme de Pádua e Daniella Perez como Bira e Yasmin, seus personagens na novela De Corpo e Alma (1992)

Guilherme de Pádua e Daniella Perez como Bira e Yasmin, seus personagens na novela De Corpo e Alma (1992)

REDAÇÃO

Publicado em 26/5/2020 - 5h31

Guilherme de Pádua voltou à mídia por ter participado de uma manifestação a favor do presidente Jair Bolsonaro em frente ao Congresso Nacional, no último domingo (24). Muitas pessoas que têm menos de 30 anos, no entanto, podem não saber ou não se lembrar de quando ele ficou mais em evidência. Pádua era ator da Globo e assassinou sua colega de novela, Daniella Perez, filha de Gloria Perez. Após ser condenado, preso e libertado, ele virou pastor.

Pádua e Daniella faziam parte do elenco da novela das oito De Corpo e Alma (1992), a primeira que Gloria Perez assinou como autora. Na trama, a atriz de 22 anos vivia a bailarina Yasmin, apaixonada por Caio (Fabio Assunção). No entanto, como as famílias dos dois eram inimigas, a jovem se envolveu com o motorista de ônibus Bira (Guilherme de Pádua), um rapaz bruto e machista, mas que ajudava a família dela.

Ao longo dos capítulos, o namoro de Yasmin e Bira terminou, para que a personagem voltasse a ficar com seu par romântico inicial, Caio. Pádua não gostou de ter sua quantidade de cenas reduzida e passou a pressionar Daniella para que Gloria desse mais importância a seu personagem. Alguns colegas de elenco começaram a perceber o assédio.

"Dez dias antes do trágico ocorrido, vi Daniella entrar no carro da atriz Juliana Teixeira pedindo para irem logo embora. E que não desse carona para Guilherme, porque ela não aguentava mais ele ficar alugando o ouvido dela o tempo todo", disse a atriz Carla Daniel, em depoimento resgatado por Gloria em um site que reúne todos os desdobramentos do crime. Carla vivia a ex-namorada de Bira, Sheila.

A pressão de Pádua sobre Daniella aumentou em 28 de dezembro, dia em que um novo bloco de capítulos chegou para o elenco. O ator só aparecia em dois de seis episódios e intimidou a moça na frente de todo o elenco.

"Você já contou para sua mãe que esse sujeito está lhe perseguindo?", questionou o ator Sandro Solviatti. Daniella negou, dizendo que não queria prejudicar ninguém. "Se você não contar hoje, amanhã eu ligo para sua mãe e conto!", disse ele.

Mas não houve tempo para isso. Na noite de 28 de dezembro de 1992, Daniela estava voltando para casa após as gravações da novela quando seu carro foi fechado pelo de Pádua. "Ela sai do carro cobrando explicações, ele a desacorda com um soco e a atira no interior do Santana, que sai dirigido por Paula Thomaz", escreveu Gloria Perez no site. Paula Thomaz era mulher do ator na época.

Minutos depois, moradores de um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, chamaram a polícia para verificar a presença de carros num matagal. Um policial encontrou apenas o carro usado por Daniella, que pertencia ao marido dela, o ator Raul Gazolla. Mesmo armado, o agente decidiu se esconder atrás de uma árvore. E tropeçou no corpo de Daniella.

"Foram 18 estocadas no coração e no pescoço. Um violento soco na face direita, de acordo com os laudos periciais, aplicado minutos antes da morte. Nenhuma lesão de defesa", contou Gloria no site. "Naquela mesma noite, [Guilherme de Pádua e Paula Thomaz] foram à delegacia, no carro onde cometeram o crime, para abraçar nossa família e prestar condolências."

reprodução/Instagram

Guilherme de Pádua em vídeo publicado em seu perfil no Instagram nesta segunda (25)


Prisão, liberdade e apoio a Bolsonaro

O ator chegou a ir ao velório de Daniella também, para não deixar suspeitas. Mas uma pessoa que morava próxima ao local do crime havia anotado as características e as placas de ambos os carros. Com esses dados, investigadores foram até os estúdios onde a novela era gravada e encontraram o veículo de Pádua. Ele já havia alterado a placa, mas acabou confessando o crime após ser pressionado.

Pádua e Paula foram presos imediatamente, mas o julgamento só aconteceu de fato em 1997. O ator e sua mulher foram condenados por homicídio qualificado, com motivo torpe. A pena dele foi de 19 anos em regime fechado. Mas só cumpriu um terço desse período. Saiu da cadeia por bom comportamento em outubro de 1999.

Pádua, então, começou a trabalhar numa igreja evangélica em Belo Horizonte, Minas Gerais. A união com Paula Thomaz chegou ao fim, e ele se casou mais duas vezes; atualmente, está com a estilista Juliana Lacerda, que aparece ao seu lado nos vídeos da manifestação pró-Bolsonaro. Em 2017, ele se tornou pastor da mesma igreja.

Desde as últimas eleições presidenciais, Pádua demonstra apoio a Jair Bolsonaro. Atualmente, também publica em suas redes sociais informações falsas sobre a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), mensagens de ódio e piadas com outros políticos e pessoas que não concordam com a conduta do presidente.

Após seu nome chegar a ser um dos mais comentados no Twitter, no domingo, Pádua fez um vídeo como resposta para quem lhe criticou. "Muita gente me perguntando como posso apoiar o Bolsonaro sendo quem eu sou, porque segundo eles Bolsonaro é muito rígido, e eu ficaria pra sempre na cadeia ou muito mais tempo do que eu fiquei".

"Eu respondo o seguinte: Quando se trata de política, povo, sociedade, não posso ver só os meus interesses. Tenho parentes. Vou ter talvez filhos, netos. Eu tenho pai, mãe, primos, tios. Eu quero o melhor para a sociedade. Preciso escolher um político que não seja corrupto, que não roube o dinheiro do povo, porque isso, sim, aumenta a violência", opinou.

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