REVOLTA
REPRODUÇÃO/YOUTUBE
Alice Braga no Podcast Mamilos; discurso da atriz sobre influenciadores viralizou entre atores
A atriz Alice Braga fez um discurso que mexeu com os ânimos de muitos artistas. Em entrevista ao podcast Mamilos Café, a protagonista do filme Ameaça Invisível (2023) detonou a tendência de transformar atores em influenciadores, e a inclinação de muitos diretores de dar papéis a pessoas que tenham seguidores nas redes sociais. "Eu fico revoltada", disparou ela.
A atriz afirmou que a tendência é algo brutal e que acaba desvalorizando o talento de atores que querem seguir na profissão. "Você bota os atores para ficar desesperadamente [tentando] virar influenciador, para poder ter seguidor, para conseguir realizar o sonho de trabalhar como ator. E outra que você tira a possibilidade de atores incríveis serem descobertos, porque eles não têm seguidor", começou ela.
"O nível de ansiedade absolutamente desnecessário numa profissão que, basicamente, é a exposição; que é o se jogar, viver o presente, alma, verdade e sensibilidade", ponderou Alice.
"Aí quando você joga esse julgamento e a pessoa tem que fazer uma coisa que ela não... Eu sou tímida, por exemplo. Ficar fazendo vídeo, coisa no Instagram, para ganhar seguidor para você conseguir ser chamado para um teste. Isso é de uma brutalidade com a profissão do ator. De uma agressividade com o que é ser ator, com o indivíduo que escolheu essa profissão, muito grande, sabe? Eu fico revoltada", finalizou ela.
O trecho viralizou nas redes sociais, e Alice recebeu o endosso de muitos atores que ainda tentam sobreviver na profissão sem depender de números na internet.
A atriz Malu Galli, no ar na reprise de Cheias de Charme, pontuou que escalar atores que tragam consigo um público consumidor para suas obras é comprovadamente falho.
"Desde quando concordamos que os atores têm que ser empreendedores, aceleradores e promotores de si mesmos, criando conteúdo consumível pro grande público em suas redes, e dedicando um tempo incontável, ou terceirizando este trabalho para uma equipe (quando se tem dinheiro pra isso) pra conseguir um trabalho?", questionou ela.
"Esta nova 'atribuição' ao trabalho do ator é motor de ansiedade, frustração, desvio de propósito e de sentido para um fazer antigo que atravessou os séculos e continua movimentando multidões pelo mundo, gerando lucro e fazendo a roda girar", disparou.
"Estou falando de outro tipo de 'engajamento'. Estou falando de fazer refletir, emocionar, rir, contar belissimamente uma história, ativar a memória, promover uma epifania, uma experiência sensorial. Este é o trabalho do ator", afirmou.
Nos comentários, muitos colegas da classe artística concordaram com o posicionamento. "É muita angústia", complementou Alice Fanju. "É f*da, mas o 'empreendedorismo de si mesmo', a maior falácia neoliberal, tomou conta de tudo. Em todas as profissões", alegou Tainá Muller.
"Estamos assistindo pasmos o mundo do trabalho, da arte, da ciência, do jornalismo precarizar, 'uberizar', caçar likes, virar quantitativo ao invés de qualitativo. E olha que a IA [Inteligência Artificial] ainda nem chegou com tudo. Mas é isso, se a gente não gritar, quem vai?", soltou ela.
Monica Iozzi também compartilhou as falas da colega em seu perfil. "Concordo com absolutamente tudo que Alice Braga disse aqui. Aliás, obrigada por isso, Alice! E, além destas reflexões, tenho me perguntado muito o seguinte também: Não está mais do que provado que número de seguidores não garante maior público, maior audiência? A princípio pode até servir como mais um meio de divulgação do projeto, mas e depois?", questionou.
"O que faz com que as pessoas vejam um filme, uma série, uma peça, uma novela é a qualidade. O público quer ver boas histórias, interpretadas por bons atores. Não interessa se o protagonista tem dez seguidores ou 20 milhões. Não deveria interessar sequer se ele tem ou não redes sociais. Se não for bom, o público não embarca. Simples assim", continuou Monica.
"A quantidade de atores excepcionais que eu conheço e que nunca conseguiram fazer ao menos um teste para trabalhar no audiovisual é imensa. Eles não têm milhares de seguidores. Eu mesma às vezes (apesar de ter um bom número) me vejo pensando: 'Nossa, preciso movimentar mais meu Instagram!'. Será? Por quê? Pra quê?", indagou.
"Sério mesmo que eu tenho ficar me desdobrando para inventar o que postar todo dia? Um monte de coisas que podem não ter nenhuma relevância? Posts que o seguidor vê e cinco segundos depois nem se lembra mais? Não. Eu não quero fazer isso. Acho inclusive que esta necessidade de estar sempre presente aqui está fazendo muito mal, a todos nós", completou.
Confira o trecho:
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