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ECONOMIA REAL

Anvisa investiga se doce para ereção peniana é crime contra a saúde pública

REPRODUÇÃO/METBALA

Imagem do influenciador Jon Vlogs com gummy de tadalafila MetBala na boca

Influenciador Jon Vlogs em ação publicitária da MetBala, gummy de tadalafila; Anvisa investiga

ERICK MATHEUS NERY

nery@economiareal.com.br

Publicado em 25/3/2025 - 7h00

Quinto genérico mais vendido do Brasil em 2024, a tadalafila se tornou uma febre entre os homens nos últimos anos, a ponto de começar a ser comercializada como bala de goma saborizada. Contudo, essa prática entrou no radar da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que investiga se a venda do medicamento em forma de doce pode ser considerada crime contra a saúde pública. A tadalafila é usada no tratamento da dificuldade de ereção do pênis (disfunção erétil).

"Não há base legal que sustente a venda massiva e publicitária desse tipo de produto com tadalafila como produto manipulado", diz a agência em nota ao Economia Real, site de finanças e negócios que o Notícias da TV lança em breve, com a proposta de traduzir o economês para pessoas físicas e micros, pequenos e médios empreendedores.

"Ainda que a forma farmacêutica bala seja viável sob prescrição individual e manipulação responsável, a comercialização desses produtos na internet é irregular, podendo configurar infração sanitária e até crime contra a saúde pública, a depender da investigação", complementa a Anvisa.

A venda de bala de tadalafila ganhou repercussão nas últimas semanas após o influenciador Jon Vlogs divulgar o lançamento da Metbala, apresentada como "a primeira gummy de tadalafila do Brasil". O vídeo do anúncio do produto conquistou 146 mil curtidas antes de ser apagado da página do criador de conteúdo, que acumula 10,4 milhões de seguidores na rede social.

De acordo com o Google Trends, nos últimos 30 dias, as buscas pelos termos "metbala", "tadalafila bala" e "mete bala gummy" apresentaram aumento repentino em todo o território nacional nas pesquisas relacionadas aos termos "bala" e "gummy".

Quem procura pelo nome do medicamento na internet também está interessado na versão doce do produto, que ocupa a terceira posição no ranking das pesquisas relacionadas, acima da busca "quanto tempo dura o efeito do tadalafila 5 mg".

Porém, diferentemente do que Vlogs disse na publicação, a Metbala não é a primeira gummy comercializada no Brasil com o princípio ativo do remédio para disfunção erétil. Em uma rápida pesquisa no Google, o internauta encontra postagens de junho de 2024 com a divulgação de outras gummies do medicamento, além de páginas de farmácias de manipulação que vendem esse produto com sabores de morango ou uva. 

Outra variação da bala de tadalafila é a Azulzinha, também vendida por farmácias de manipulação. Essa gummy mistura o medicamento popular com o princípio ativo do Viagra --o que, em tese, potencializaria ainda mais a performance sexual do usuário. 

Infrações em escala 

Para o Economia Real, a Anvisa explica que a tadalafila pode ser comercializada normalmente por farmácias de manipulação, inclusive em forma de bala de goma, desde que o médico tenha prescrito o tratamento dessa forma, que exista viabilidade técnico-científica comprovada e o farmacêutico avalie a compatibilidade físico-química e farmacológica dos componentes.

Do ponto de vista médico, o urologista Giuliano Aita destaca que não existe comprovação científica de que a balinha tenha o mesmo efeito do comprimido tradicional. "Não encontrei nenhuma aprovação nem na agência brasileira nem na norte-americana. Assim, existe a possibilidade de essa nova formulação entrar na categoria de suplemento, que tem um rigor menor da fiscalização do que os medicamentos, além de não existir a garantia de que a dose descrita realmente esteja presente", afirma.

"Essas balinhas vão facilitar ainda mais o consumo, pois terão um gosto e serão discretas, você leva no bolso como uma bala de mascar. Ocorre que a ação específica do medicamento é ampliar a irrigação sanguínea no pênis, o que melhora a qualidade da ereção. O homem que não tem disfunção erétil provavelmente não será beneficiado pelo remédio, pois a vasodilatação peniana dele está normal", complementa o membro do Departamento de Andrologia, Reprodução e Medicina Sexual da Sociedade Brasileira de Urologia.

Sob a ótica farmacêutica, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) emitiu uma nota de repúdio ao caso, na qual lamenta a banalização do uso de medicamentos e alerta para os riscos de promover substâncias controladas sem orientação profissional. 

"É preocupante ver influenciadores tratarem a saúde como entretenimento. A postagem enaltece o uso irracional de medicamentos, desconsiderando a complexidade do tratamento de disfunções sexuais, que envolve fatores físicos e psicológicos", afirma o órgão.

Além do aspecto técnico, a Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa n° 67/2007 veda expressamente o uso de nomes fantasia para fórmulas manipuladas e a divulgação e a publicidade de produtos manipulados com o objetivo de promoção comercial.

"É importante tomar cuidado com propagandas que encaminham para a compra de produtos em canais como WhatsApp, Telegram e outras redes sociais. Medicamentos só podem ser vendidos em farmácias e drogarias devidamente regularizadas, seja fisicamente ou por seus sites. Sites em geral e marketplaces, vendedores ambulantes, carros de som ou outros estabelecimentos não podem comercializar medicamentos e, por isso, os medicamentos vendidos nesses locais têm procedência incerta, ou seja, não é possível saber a sua origem, podendo se tratar, inclusive, de produto falsificado", ressalta a Anvisa.

Por trás do sucesso da tadalafila

Enquanto o formato gummy enfrenta adversidades, os comprimidos de tadalafila ganham cada vez mais espaço no bolso do consumidor. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (PróGenéricos), em 2024 foram comercializadas 61,2 milhões de caixas do remédio no país.

Para traduzir esse número ao leitor, seria como se, a cada dez caixas de dipirona (popular remédio para dores e febre), também fossem vendidas cerca de seis caixas de tadalafila. Em outra comparação, o comprimido para disfunção erétil foi 25,8% mais vendido do que a simeticona, usada no tratamento de gases.

À reportagem, o urologista Giuliano Aita explica que além do consumo com objetivo sexual, homens tomam tadalafila sob a justificativa de que os comprimidos promoveriam melhores resultados na musculação.

"Há relatos de uso para melhora de performance em academia, tendo em vista que o remédio é um vasodilatador, embora essa ação seja insuficiente para promover um crescimento muscular e hipertrofia. Existem algumas pesquisas científicas que investigam isso, mas ainda não temos essa comprovação", comenta.

De volta aos números, entre a tadalafila e a sildenafila (princípio ativo do Viagra), a primeira alternativa é a preferida dos brasileiros, com vendas 40% maiores do que a do genérico do remédio referência no ano passado.

"Os dois medicamentos têm a mesma função, mas diferenças no tempo de ação e nos efeitos colaterais. A sildenafila tem uma janela de ação de até seis horas e, após a ingestão, os homens podem apresentar congestão nasal e vermelhidão em extremidades como o rosto e as orelhas. Enquanto isso, a duração do efeito da tadalafila chega a ser de 34, 36 horas, visto que a meia-vida do medicamento é de 17 horas", detalha.

O sucesso é tanto que, segundo o instituto Close-up International, a "tadala" acumula vendas superiores a R$ 1 bilhão no país, atrás apenas do Ozempic, que movimentou R$ 3,1 bilhões entre julho de 2022 e junho de 2023.

O médico ressalta que o medicamento não é isento de efeitos colaterais nem de interação com outros remédios: "Homens que têm problemas no coração podem apresentar quadros relevantes de queda de pressão, com risco à própria vida. Além disso, o uso após atividade física intensa também aumenta a chance de efeitos como tontura e mal-estar".

A disfunção erétil é um sinal de alerta para a saúde do homem pois, muito provavelmente, ele também tem riscos cardiovasculares. Estudos mostram que um percentual significativo desses homens apresentará algum evento cardiológico, como infarto ou derrame, em um período de cinco anos", alerta o médico.

Outro lado

Desde a última terça (18), a equipe do Economia Real tenta contato com o suporte da MetBala, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem. Após o primeiro contato, a página de vendas da gummy foi retirado do ar, assim como o anúncio no perfil de Jon Vlogs.

Nossa equipe também entrou em contato com a assessoria de imprensa do influenciador, mas não teve retorno.


Este e outros textos você encontrará no Economia Real, novo site de finanças e negócios do Notícias da TV que estreia em breve. Clique aqui e inscreva-se na newsletter do portal, além de acompanhar os nossos conteúdos no Instagram, LinkedIn, Threads, X (ex-Twitter) e Bluesky.


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