ENTREVISTA
Rogério Pallatta/SBT
Pierre Bittencourt e Aretha Oliveira se reencontraram no especial Geração Chiquititas, do SBT
Se atualmente a representatividade nas novelas é quase uma regra na escalação de elencos, na década de 1990 a situação era bem diferente. A ponto de os atores Aretha Oliveira e Pierre Bittencourt sequer entenderem a força de estarem na TV todos os dias como a Pata e o Mosca na primeira versão de Chiquititas (1997).
"Não se falava sobre isso, né? Quase 30 anos atrás, as pessoas não estavam preocupadas com representatividade, não se falava sobre a importância disso. Existiam pouquíssimos negros na televisão, e isso era absolutamente normalizado, naturalizado", conta Aretha ao Notícias da TV. "Eu mesma admito que não tinha essa consciência."
"A gente não fazia nem ideia. Eu tinha a referência que mais pais haviam me passado, de que todos nós somos iguais. Então, na minha cabeça, não tinha essa história de representatividade, não era latente", concorda Bittencourt. "Acho que a gente sentia que era diferente não num contexto racial, mas profissional, porque eu e a Aretha éramos duas das crianças do elenco que já tinham uma bagagem, uma história na própria televisão."
Os dois só foram entender que serviam como modelo e como inspiração para crianças pretas após o fim da novela, quando voltaram a morar no Brasil --a versão original de Chiquititas foi rodada na Argentina-- e já tinham mais idade.
"Acho que nem as meninas que se identificavam com a Pata, que viam ela na TV e falavam 'agora eu posso ser alguém nas brincadeiras' tinham uma noção da importância daquilo, porque éramos todas muito novas", especula Aretha. "Acho que, conforme o tempo foi passando, a gente foi entendendo, tanto eu quanto todas elas, a importância daquilo."
"É por isso que quase todos os dias eu recebo mensagens de mulheres negras dizendo: 'Obrigada, você foi muito importante para mim, a Pata foi muito importante para mim. Eu realmente pude ser alguém nas brincadeiras, eu pude imaginar que eu poderia ir mais longe, que eu poderia estar na TV. Ver você ali abriu o meu mundo de alguma forma'", se emociona a atriz.
Pierre ressalta que o mundo era tão diferente no fim dos anos 1990 que ele era alvo de "brincadeiras" dos colegas --o que considerava absolutamente normal. "Eu tinha 12 anos, para mim todo mundo era igual, todo mundo se zoava na escola, tirava sarro um do outro, muitas em vezes em cima de características físicas das pessoas. Nós sabíamos que não era legal, e eu não praticava o ato do bullying, mas recebia, e tava tudo certo, porque era parte da geração."
"Hoje em dia, já não é mas tão aceito, e nós entendemos que realmente não deve ser mais aceito, com certeza. Mas, naquela época, nós não fazíamos a menor ideia. Porque, na minha visão, todos somos iguais, então não existe diferença entre os seres, né? Claro, vai ter a diferença de um ser mais alto, outro mais baixo, mas em essência somos todos seres humanos", provoca.
A versão original de Chiquititas é exibida de segunda a sexta, às 21h, no canal +Novelas do +SBT. Os primeiros 20 capítulos da temporada inicial também serão disponibilizados para consumo sob demanda a partir desta quinta (23).
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