PRETAGONISMO
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Duda Santos, Jéssica Ellen e Gabz: as três atrizes protagonistas das três novelas atuais da Globo
Desde 1975, a Globo exibe ininterruptamente suas três faixas de novelas, a das seis, a das sete e a das nove (que até o início dos anos 2000 era das oito). No entanto, só em 2024 a emissora conseguiu um feito inédito e importante: ter protagonistas negras em todas as obras, o chamado "pretagonismo".
De acordo com o Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2022, 45,3% da população brasileira se declara parda, e 10,2% se declara preta.
Ou seja, a maior parte da população não se considera branca, e a Globo tem feito claramente um movimento para aumentar a diversidade e a presença de pessoas pretas e pardas em toda a sua programação, para de fato refletir as famílias brasileiras em suas produções. Entre 1994 e 2014, apenas 10% dos personagens da Globo eram negros, segundo estudo divulgado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Na ocasião da estreia da novela Volta por Cima, o ator Ailton Graça comemorou o fato de interpretar um personagem que é rico na novela --em oposição a papéis de servidão e vulnerabilidade que os negros tiveram ao longo de décadas na TV. Ele comentou também a questão do pretagonismo e da diversidade na trama.
"A partir do momento que a gente estabelece esse pretagonismo em cena, junto com o Fabrício [Boliveira] e com a Jéssica [Ellen], a gente vai para um outro lugar de afetividade que precisa ser construída. A partir do momento que a gente fala de amor, de ternura, amplia de uma forma gigante a questão dos sentimentos e das emoções", disse ele à imprensa, no lançamento da novela.
"A Claudia [Souto, autora] traz uma coisa que eu acho mágica, que é a brasilidade. É importante que a gente tenha os pretos, os amarelos, os vermelhos, todos dentro desse grande balaio, fortalecendo uma bandeira que para mim é importante, que é a bandeira de origem do mundo, a origem da humanidade", complementou o ator.
Jeferson De, diretor de Garota do Momento, também abordou o tema em entrevista ao Fantástico: "Nesse momento, a gente tem um pretagonismo. Por muitos momentos, contaram histórias sobre nós. Agora a gente pode contar também as nossas histórias. Isso é muito importante".
A iniciativa da Globo de incluir mais artistas e personagens negros em suas novelas parte também de uma agenda ESG (sigla em inglês para governança social, ambiental e corporativa), ou seja, uma maneira de a empresa estar sintonizada com a vertente mais atual de governança corporativa.
De acordo com dados de um relatório de ESG divulgado pela emissora em abril de 2024, a meta é colocar 50% de mulheres e negros à frente dos projetos da emissora até 2030.
Ao Notícias da TV, a ativista e atriz Maria Gal ressaltou que o cenário atual é melhor do que o de cinco anos atrás, mas defendeu que ainda é preciso haver mais oportunidades para pessoas pretas na frente e por trás das câmeras.
"Precisamos de mais criadores, roteiristas, diretores, narrativas que tragam outra subjetividade ao corpo negro. Porque a gente quer se ver das formas mais variadas possíveis. O negro pode ser escritor, advogado, apresentador, médico, presidente, tudo o que quiser ser. É preciso entender a importância do simbolismo do corpo negro em outros papéis, em outras narrativas, para a gente ter um país com maior equidade", cravou a artista.
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