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Análise | TV paga

Série nacional do ano, Magnífica 70 resgata cinema erótico da ditadura

Fotos: Divulgação/HBO

Simone Spoladore em cena de Magnífica 70; atriz faz uma ladra infiltrada em uma produtora de filmes - Fotos: Divulgação/HBO

Simone Spoladore em cena de Magnífica 70; atriz faz uma ladra infiltrada em uma produtora de filmes

DANIEL CASTRO

Publicado em 4/8/2015 - 5h50

Uma das melhores séries nacionais dos últimos anos, Magnífica 70 está passando despercebida, quase ninguém fala dela. Injustamente. Se você tem acesso ao HBO Go ou aos serviços de video on demand das operadoras de TV por assinatura e gosta de um drama denso (e tenso), fica a dica. Os dez primeiros episódios estão lá te esperando. O 13º e último vai ao ar na HBO daqui dois domingos, no dia 16, às 21h.

Magnífica 70 resgata o cinema ao mesmo tempo erótico e cômico que lotou as salas de exibição do país nos anos 1970 e início dos 1980, em plena Ditadura Militar (1964-1985). Ambientada na Boca do Lixo, como ficou conhecida a concentração de produtoras de pornochanchandas da rua do Triumpho, no centro de São Paulo, a série se vende como uma obra sobre o "confronto entre o desejado e o proibido, a vontade e a repressão, a liberdade e o preconceito".

Isso já é muito, mas não é tudo. Magnífica 70 tem várias camadas. É, primordialmente, uma declaração de amor ao cinema: por mais pobre, comercial e marginalizado que ele seja, sempre se pode encontrar um quê de arte. É, essencialmente, uma série sobre o falso moralismo de um regime político obsceno. Em Magnífica 70, como no cinema e nas ditaduras, nada é o que aparenta ser. O censor é um cineasta nato; a atriz é uma ladra; o machão é impotente sexual; o general do Exército é um torturador tarado.

Vicente, o personagem de Marcos Winter, é censor de dia e cineasta à noite

Magnífica é o nome de uma dessas produtoras da decadente Boca do Lixo. A seu dono, Larsen (Stepan Nercessian), só interessa o lucro das produções baratas. O produtor Manolo (Adriano Garib) a toca com a grossura de um ex-caminhoneiro, mas eventualmente revela alguma sensibilidade artística. 

É nesse local improvável que vai trabalhar Vicente (Marcos Winter), um reprimido agente da Censura Federal, casado com Isabel (Maria Luisa Mendonça), filha do general Souto (Paulo Cesar Pereio). Vicente se apaixona pela principal (e única) estrela da Magnífica ao assistir _e vetar_ um filme que ela protagoniza. Ele vê em Dora Dumar (Simone Spoladore) a cunhada que morreu ainda ninfeta, por quem fora apaixonado.

O censor se arrepende de ter proibido o longa e trata ele mesmo de salvá-lo. Cria um final moralista, ao gosto dos militares, e o libera para as massas. Em seguida, escreve e dirige um filme um tanto autobiográfico, inspirado nele mesmo, em sua mulher e na cunhada morta.

Esse é o enredo central de uma história cheia de viradas, de um roteiro que surpreende a cada episódio, às vezes violento, outras vezes erótico, eventualmente engraçado, com personagens sempre dúbios, muito bem defendidos por um elenco afinado tal qual uma orquestra. Magnífica 70 é, provavelmente, o melhor trabalho de Marcos Winter.

A direção de arte reconstitui os anos 1970 com precisão. A fotografia é impecável ao reproduzir as cores e as luzes estouradas do cinema que se produzia nos "anos de chumbo". A direção de Claudio Torres e Carolina Jabor aparentemente consegue muito mais do que o orçamento permitiu.

Enfim, Magnífica 70 é a melhor série da TV brasileira de 2015 _embora ainda estejamos na metade dele. Está no mesmo patamar de Amores Roubados, Felizes para Sempre e A Teia, da Globo. Na TV paga, só encontra concorrentes em qualidade em Sessão de Terapia, do GNT, e em Alice, também da HBO.


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