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Crise: TV Cultura precisa de R$ 36 milhões para fechar o ano

Jair Magri/TV Cultura

O presidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça, ao tomar posse do cargo em junho deste ano - Jair Magri/TV Cultura

O presidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça, ao tomar posse do cargo em junho deste ano

DANIEL CASTRO

Publicado em 8/10/2013 - 17h48
Atualizado em 9/10/2013 - 5h00

Em entrevista ao Notícias da TV, o presidente da TV Cultura afirma que a emissora precisa de verba extra de R$ 36 milhões para pagar as contas até o final do ano e que não considera a hipótese de não receber ajuda do governo do Estado. Culpa a gestão anterior, de João Sayad, pelo "descontrole administrativo"

Na entrevista a seguir, Marcos Mendonça, que assumiu em junho a Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, fala da crise pela qual a emissora pública vem passando, uma das piores da história. Diz que vai continuar cortando despesas (o que inclui demissões a conta-gotas) para reduzir o déficit da TV, que já consumiu 90% dos R$ 159 milhões do orçamento de 2013. Ele nega o fim da produção de programas infantis:

Notícias da TV - Na semana passada, a própria Fundação Padre Anchieta divulgou que já consumiu 90% das verbas deste ano, restando ainda três meses para o fim do ano, mais o décimo terceiro salário. Como é que a Cultura vai pagar as contas?

Marcos Mendonça - Logo quando chegamos aqui [em junho], fizemos um levantamento e anunciamos publicamente que teríamos um déficit grande. De um lado conseguimos conter inúmeras despesas, através de mudanças de procedimentos.  Por outro lado, estamos negociando com o governo uma suplementação orçamentária. 

NTV - De quanto tem que ser essa suplementação?

Mendonça - No primeiro momento, imaginávamos um déficit de 43 milhões de reais. Hoje, nós já conseguimos reduzir o déficit para algo em torno de 36 milhões, 37 [milhões]. Estamos negociando com o governo e tomando providências. Esse número pode ser alterado um pouco pra baixo, um pouco para cima.

NTV - A fundação precisa de R$ 36 milhões para fechar o ano?

Mendonça - Exatamente.

NTV - E se ela não conseguir esse dinheiro?

Mendonça - Não estamos considerando essa hipótese. Mas evidentemente que à medida que tivermos um nível maior de dificuldade vamos ter que renegociar com fornecedores, com terceiros, para checar a possibilidade de readequar esses números.

NTV - Por que houve esse déficit? Foi má gestão?

Mendonça - Houve uma série de procedimentos de descontrole administrativo que levaram a um número excessivo de despesas, que acarretaram nesse déficit. Herdei uma dívida gigantesca, um número realmente muito grande. 

NTV - Essa dívida tem a ver com o fato de a política comercial da última gestão não ter sido bem-sucedida?

Mendonça - Também. Por exemplo, a última gestão praticamente não fez nada em relação às permutas. Esse é um item que para televisão tem um significado importante. Porque quando você consegue fazer permutas significam créditos que você dá para alguém em troca de serviços ou produtos desse alguém.

Por exemplo, quando eu trago uma banda do Rio de Janeiro se apresentar num programa em São Paulo eu tenho que pagar passagem de avião, estadia, alimentação, uma série de itens. Se você imaginar uma série enorme de programas e a presença permanente de pessoas de outros Estados aqui, isso gera uma conta grande, correto? Na minha gestão anterior [2004-2007], esses eram itens que não contavam. Fazíamos permuta com passagem de avião em troca da exibição de publicidade da companhia aérea.

Outro item: gastou-se muito dinheiro com publicidade em jornais, outra ação que poderia ser feita com permuta. Você dá um crédito pra Folha e ela te dá o mesmo crédito. Isso é uma prática usual dos meios de comunicação. 

NTV - Quando o sr. assumiu já sabia que havia um déficit. Na época, se falava em R$ 24 milhões. Ele se revelou maior? Por quê?

Mendonça - Muito maior, por causa dessas questões, apuradas quando chegamos aqui. O que sabíamos era de um histórico de déficit que era uma questão relativa à questão salarial da fundação. Ela possuía um comprometimento com salários maior do que estava previsto no orçamento. 

Outro item que também pesou muito: a televisão tem uma parceria com a Secretaria da Educação, acordos contratuais que geram uma boa receita para a fundação. Mas esses contratos foram feitos, na nossa avaliação, de maneira equivocada. Ao invés de darem receita, eles estavam dando prejuízo à fundação. Os custos foram mal calculados em relação a esses processos. 

NTV - Por que até agora não saiu essa suplementação de verba do governo do Estado?

Mendonça - Face às medidas que a gente tem tomado. Por exemplo, se gastou de táxi, no mês que assumi [junho], 60 mil reais. Reduzimos esse custo para 15 mil reais. Nós só estamos fazendo anúncio [de programas da Cultura] por permuta, não estamos fazendo nenhum anúncio pago pela emissora. À mercê dessas economias que nós fizemos, conseguimos, até agora, ir sobrevivendo sem auxílio do governo.

A previsão que tínhamos inicial era de que precisaríamos de recursos no início do mês de setembro para pagar a folha relativa ao mês de agosto. Mas conseguimos pagar a folha de agosto e de setembro com recursos próprios. Aumentamos em parte a arrecadação e ao mesmo tempo cortamos inúmeras despesas. 

A ideia nossa, em conversa com o governo do Estado, é no sentido de conter ao máximo as nossas depesas, aumentar ao máximo a nossa receita e a partir daí conversar com o governo do Estado a respeito do remanescente.

NTV - A fundação está aumentando a receita com o quê, com publicidade?

Mendonça - Anúncios, patrocínio de programa, deixando de gastar com alguma coisa que tirarmos do ar, que custava caro.

NTV - Por exemplo?

Mendonça - Tiramos do ar o programa Quem Sabe, Sabe. Estava dando uma despesa alta para a televisão. Mudamos o horário de jornalismo, colocando o jornalismo na hora do almoço. Só a mudança desse horário significa uma economia grande porque a operação de manhã cedo é mais cara do que a operação feita na hora do almoço. 

Enfim, você racionaliza as equipes de produção de tal maneira que eles podem produzir mais. Mais resultado com menos custo. Ou seja: estamos fazendo um planejamento mais adequado, algo que não era feito. 

NTV - O extinto núcleo infantil pode ser reativado?

Mendonça - Na verdade, não houve extinção do núcleo. A gerência e direção do núcleo infantil passou a ser exercida diretamente pela diretoria de produção. Nós eliminamos um cargo de gerente [Fernando Gomes]. O núcleo continua existindo, só que a gente eliminou uma instância por uma medida de economia. O Fernando [Gomes] continua trabalhando na televisão, inclusive com mais atribuições, que é desenvolver um outro programa.

NTV - A produção de programas infantis será retomada nos níveis anteriores?

Mendonça - Talvez até uma produção maior, porque isso nada mais é que uma racionalização de custos.

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