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Análise

Record atira no próprio pé ao errar estratégia para Pecado Mortal

Michel Angelo/TV Record

Os atores Luiz Guilherme (Michele) e Beth Lago (Stella) em cena de Pecado Mortal, novela da Record - Michel Angelo/TV Record

Os atores Luiz Guilherme (Michele) e Beth Lago (Stella) em cena de Pecado Mortal, novela da Record

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 11/11/2013 - 19h06
Atualizado em 16/11/2013 - 12h30

Passada a euforia da estreia e mais de um mês depois, Pecado Mortal, a primeira novela de Carlos Lombardi na Record, já consolidou a audiência na emissora. Com média de 6,7 pontos no Ibope, a trama não conseguiu ainda corresponder às expectativas de dois dígitos da Record. Mas o que faz com que uma novela redonda, com todos os ingredientes que fazem um bom folhetim, derrape nos índices?

Tecnicamente, Pecado Mortal não deixa nada a dever às produções da Globo. É inevitável a base comparativa, uma vez que a emissora carioca já tem um padrão consolidado e a concorrente espelha-se nele. A fotografia traz imagem de cinema, mas a cenografia deixa a desejar. Não é de hoje que as produções do RecNov sofrem desse mal e já passou do tempo de melhorias.

O figurino anos 1970 é correto, caracterização idem. O texto é a cereja do bolo da novela. Ágil, inteligente, sarcástico. A marca irônica de Carlos Lombardi está ali. Embora o autor tenha deixado um pouco a comédia a que o público estava acostumado a ver em suas obras, ele consegue manter o riso do telespectador em tiradas certeiras e pontuais. Outro ponto positivo é não entregar de bandeja os desdobramentos da história. Ele abre o leque de tramas aos poucos, o que provoca no público inquietação e o faz pensar. E é muito reducionismo dizer que as histórias de Lombardi são de “descamisados”. A narrativa dele vai além.

Luiz Guilherme, o bicheiro Michele Vêneto, tem, pela primeira vez, um papel de destaque em sua carreira. Beth Lago deixa de lado os papéis cômicos e encara com maestria a mãe sofredora em busca dos filhos perdidos. Stella é a personagem que mais identificação gera nas mulheres. Jussara Freire está deliciosamente impecável no papel da vilã Donana. E o protagonista Fernando Pavão (Carlão/Marco Antônio) encontrou o tom de seu personagem nos capítulos mais recentes, marcados pelo reencontro do filho que fugiu da proteção paterna.

Mas os destaques, sem dúvidas, são os dois principais vilões da história: Paloma Duarte (Dorotéia) e Vitor Hugo (Picasso). Vinda de um papel complicado e confuso em Máscaras, de Lauro César Muniz, Paloma alterna momentos de ironia, deboche, concisão e descontrole. Dorotéia é o cérebro da família rival dos Vêneto, os Ashcar, e, para ser a “dona do Rio de Janeiro", usa de todos os artifícios, inclusive da sensualidade, o que a atriz deixa exacerbar. Já Vitor Hugo é uma grata surpresa: conseguiu imprimir sarcasmo e sedução ao delegado corrupto que interpreta. Tudo, claro, com a ajuda do texto de Lombardi.

Obviamente, há atuações desastrosas, como Nanda Ziegler (Xuxú), Iran Malfitano (Pedro) e Claudio Heinrich (Paulo). Fora de tom, os três parecem deslocados do restante do elenco. A história dos primos Pedro e Paulo Noronha é o alívio cômico da novela, mas os atores não conseguem imprimir graça, as cenas com eles se tornam chatas e dão a impressão de que estão ali para encher a linguiça da novela. A dicção de Malfitano é outro agravante.

Diante disso, o que há de errado com Pecado Mortal? Se analisarmos a audiência das novelas anteriores no horário _Máscaras, Balacobaco e Dona Xepa_ constataremos que Pecado Mortal mantém os índices. O problema é a estratégia da emissora e o horário de exibição. Esperam Amor à vida, da Globo, acabar para exibir Pecado Mortal. Só que a Globo não é besta e tratou logo de esticar a trama de Walcyr Carrasco, além de reforçar a linha de shows de sua programação. Com isso, a novela entra tarde no ar, afugentando parte dos telespectadores.

Outro ponto que pode ser percebido é a ausência de ganchos entre um bloco e outro. Possivelmente o primeiro bloco _longuíssimo, com cerca de 20 minutos_ é esticado na edição. O telespectador mais atento percebe que Lombardi cria deixas para um intervalo, mas a necessidade de prender o público no sofá faz com que a novela não seja interrompida. Já os blocos finais são curtos demais _cerca de seis minutos cada. Mas aí já é tarde demais. É um tiro mal calculado que a Record dá e que acaba acertando o próprio pé.

Além disso, a novela é mal divulgada dentro da própria programação da emissora. Não vemos os artistas participarem dos programas da casa, nem os programas e jornalísticos discutirem os temas abordados na novela, coisa que a Globo explora em suas produções _e muito bem.

São ajustes que a emissora precisa fazer se quiser atingir a meta de dois dígitos de audiência que propôs ao autor. Lombardi segue fazendo sua parte, contando uma história coerente e envolvente. Talvez ousar e colocar a novela para encarar “Amor à vida” desse um bom resultado. Pelo menos em narrativa, Pecado Mortal deixa a novela das nove no chinelo.

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