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Especial da Globo

Direção 'seca' faz a qualidade técnica de Alexandre e Outros Heróis

Divulgação/TV Globo

O ator Ney Latorraca interpreta Alexandre em Alexandre e Outros Heróis, especial da Globo - Divulgação/TV Globo

O ator Ney Latorraca interpreta Alexandre em Alexandre e Outros Heróis, especial da Globo

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 19/12/2013 - 12h11

Talvez um dos diretores mais ousados e experimentais da televisão brasileira, Luiz Fernando Carvalho trouxe o especial de fim de ano Alexandre e Outros Heróis, exibido pela Globo nesta quarta (18) e baseado em contos do escritor alagoano Graciliano Ramos.

A ousadia _e o mérito_ de Carvalho reside no fato de ele sempre trazer textos de grandes nomes da literatura nacional para a televisão, embalados por uma belíssima qualidade estética e visual. Já trouxe, por exemplo, Machado de Assis, Ariano Suassuna e, mais recentemente, Clarice Lispector. Mais uma vez, Carvalho conta com a parceria do dramaturgo Luis Alberto de Abreu, que assinou outros projetos da dupla, como Hoje É Dia de Maria (2005) e A Pedra do Reino (2007).

O especial marca, ainda, a volta de Ney Latorraca à televisão, depois de passar por um período de recuperação de sua saúde. O ator foi o centro das atenções no papel do protagonista. Vale destacar, também, o trabalho da equipe de caracterização, em especial o que foi realizado com o olho torto de Alexandre.

Alexandre é um falastrão, e é por meio das histórias que conta que seus ouvintes e o público são transportados para seu universo. As memórias infantis do protagonista levam o telespectador à narrativa da história. Não se sabe se são reais ou não, e Alexandre não admite ser contestado.

É no encontro da prosa de Ramos com o depuro imagético de Carvalho que está a beleza da série, bem costurada pela dramaturgia de Abreu. Em relação à direção, não há grandes tomadas, pelo contrário. A câmera procura acompanhar diretamente os personagens, da maneira mais seca possível _e daí é possível fazer uma associação com a própria linguagem do escritor alagoano, cuja secura também ajudou os intérpretes na composição dos personagens. Sem excessos, os atores puderam dar mais vazão às expressões corporal e visual, por exemplo.

A dobradinha entre Marcelo Serrado (Mestre Firmino) e Flávio Bauraqui (Cego Firmino) rendeu bons momentos e foi uma chance de os dois atores mostrarem a versatilidade que têm. A ironia é que o único que contestava as histórias de Alexandre era justamente aquele que não podia ver. O Cego era o contraponto do protagonista, e Bauraqui defendeu seu papel com talento. Já o recurso dos repentes cantados por Mestre Firmino casou muito bem com a “nordestinidade” de Graciliano Ramos.

Como senão, vale ressaltar um ponto negativo do especial: diante da qualidade estética, pareceu desnecessária a inserção de um efeito de computação gráfica ao mostrar uma onça. Poderia muito bem deixar a imagem subentendida, uma vez que a própria poética do texto permitia tal elipse.

O esmero de Alexandre e Outros Heróis nem de longe se assemelha ao ritmo industrial a que as produções televisivas estão acostumadas. É o tipo de produto que agrada aos olhos, traz prestígio a quem faz, e, vendo o seu desempenho no Ibope _18,9 pontos na Grande São Paulo, mais do que a novela das seis, quase a mesma coisa que a das sete_ temos um indicativo de que fôlego não falta ao especial, assim como as histórias que Alexandre tem para contar. 


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