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Cidade fictícia

A Mulher do Prefeito traz registro crítico da vida pública brasileira

Zé Paulo Cardeal/TV Globo

Denise Fraga e Tony Ramos, que interpretam o casal Aurora e Reinaldo Rangel em A Mulher do Prefeito - Zé Paulo Cardeal/TV Globo

Denise Fraga e Tony Ramos, que interpretam o casal Aurora e Reinaldo Rangel em A Mulher do Prefeito

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 26/11/2013 - 15h41
Atualizado em 29/11/2013 - 19h52

Temido pela baixa audiência, o horário reservado à segunda linha de shows da sexta-feira na Globo pena para emplacar uma produção que reviva os tempos de grandes índices e repercussão de Os Normais (2001). Depois de experiências que não resultaram o esperado, como O Dentista Mascarado (2013), Macho Man (2011) e Como Aproveitar o Fim do Mundo (2012), a emissora exibe agora A Mulher do Prefeito.

Sem exageros e histrionismo, a série conta a história de Aurora Rangel (Denise Fraga), uma adestradora de cães que, depois de ver o marido prefeito metido em um escândalo de corrupção, é obrigada a assumir a prefeitura da fictícia cidade de Pitanguá, da qual era, teoricamente, a vice-prefeita. Reinaldo Rangel (Tony Ramos), seu marido, é detido em regime de prisão domiciliar, mas mesmo assim não deixa de dar ordens e continuar mandando. Para isso, precisa driblar a ingenuidade da esposa, que descobre, ainda, sua infidelidade e as mentiras que contou durante os anos de casamento.

Além da administração da cidade, Aurora tem também a tarefa de não deixar o casamento naufragar. A graça de A Mulher do Prefeito é involuntária, não esculachada como em Os Normais. O riso ali é provocado por ironias e piadas pontuais no texto, que não chega a ser completamente cômico, visto que beira a dramaticidade em certos momentos. Talvez seja nessa lacuna o problema da série, que não causou o “boom” esperado.

É complicado classificar A Mulher do Prefeito apenas como cômica. A série também não chega a ser uma comédia de costumes, a exemplo de A Grande Família. É, sim, uma produção que passeia pela comédia crítica, com alusões a situações vividas na vida pública brasileira, como o superfaturamento de obras em tempos de Copa do Mundo, os mandos e desmandos de figurões das elites locais e as regalias que figuras políticas brasileiras têm quando são presas no mesmo regime que o prefeito da série.

O grande atrativo da série, sem dúvida, é o elenco. É justamente nos pontos mais dramáticos da história que Denise Fraga tem a chance de mostrar outro lado desconhecido do grande público: o seu talento para papéis mais densos. Ela imprime graça à sua personagem, é óbvio, mas isso é secundário. Contida, ela mais emociona pelo drama do que pelo riso solto. Tony Ramos está bem, mas qualquer elogio a ele é chover no molhado. Ramos poderia fazer papel de japonês mudo e, ainda assim, convenceria o telespectador. Destaque também para Felipe Abib, na pele de Seixas, o assessor atrapalhado e apaixonado por Aurora.

A direção de Luiz Vilaça traz um respiro de novidade. Não chega a ser conceitual, mas nem de longe lembra o padrão visto nas novelas. As locações, que fogem dos cenários produzidos, ajudam a dar um ar de realidade à história, mas a trilha sonora, com hits de outros tempos, e o figurino country destoam do restante, o que pode causar estranhamento.

Por trazer um registro crítico não carregado da vida pública brasileira, a A Mulher do Prefeito vale a atenção, mas dificilmente será a salvação do horário. Sua fraca repercussão é sintomática da maneira como a sociedade trata a politicagem brasileira: com desdém.


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