Com Travessia, Gloria Perez terá privilégio negado a Bruno Luperi em Pantanal

Se Bruno Luperi não pôde mexer em muitas tramas de acordo com o pedido do público em Pantanal, o mesmo não vai acontecer com Gloria Perez em Travessia. Apesar de o autor da atual novela das nove dizer que não alterou as histórias porque não quis, a verdade é que ele precisou entregar todos os capítulos antes de o folhetim estrear. A exigência da Globo foi por causa dos rígidos protocolos enfrentados durante a pandemia da Covid-19.

"As novelas que vieram antes de Travessia aconteceram dessa maneira de estarem todas as escritas por causa da pandemia. Mas é uma exigência da obra aberta ser escrita enquanto a novela é contada, porque a novela, pelo seu próprio formato, é um grande diálogo com o público. Quando você escreve tudo antes para passar depois, o público fica para fora desse diálogo. A grande dificuldade e a grande beleza de escrever uma obra aberta é ter o público dentro", explica Gloria Perez.

Assídua nas redes sociais, a novelista gosta de trocar ideia com os telespectadores e ouvir a opinião deles em relação à história que está escrevendo. A autora, inclusive, sempre faz um mea-culpa caso o público não esteja entendendo bem a mensagem que ela quer passar.

"Eu sempre presto atenção no que o público está recebendo porque eu acho que, se o público não está entendendo o que você está dizendo, a culpa é sua, o erro é seu. Não é que precise mudar a história, mas trate de contar diferente ou de perceber onde é que está o ruído para tirá-lo fora", conta.

Apesar de a internet ser um termômetro de repercussão e audiência, Gloria ainda gosta do contato direto com o telespectador: o olho no olho das ruas Brasil afora.

"Apesar das redes sociais, hoje, eu tenho pesquisadora que também faz esse trabalho de estar na fila de um banco, na fila de algum lugar, e aí soltar um bordão, por exemplo, 'Não é brinquedo, não'. Se a novela for sucesso, a pessoa que está atrás da fila vai dizer: 'Viu ontem a Dona Jura [Solange Couto em O Clone, novela de 2000]?'. A gente vai capturando esse ruído em pequenos espaços e também vai prestando atenção na redes usando o filtro certo", ensina.

Ao mesmo tempo em que Gloria gosta de ouvir os pedidos que chegam da rua, a novelista também pensa em surpreender os fãs de suas histórias. Foi assim, por exemplo, quando ela juntou Maya (Juliana Paes) e Raj (Rodrigo Lombardi) em Caminho das Índias (2009), deixando Bahuan (Marcio Garcia) chupando dedo. Ela também fez algo parecido com Sol (Deborah Secco) e Tião (Murilo Benício): o casal principal de América (2005) terminou com outros pares.

"Eu não mudo a história porque acho que o público gosta de ser surpreendido. Ele pensa nas soluções que ele já viu. Então ele gosta de ser surpreendido com desfecho que não estava ainda no Imaginário dele, mas para isso mudar a forma de contar é essencial, porque se aquilo não está chegando ao público a falha é do escritor, com certeza. Então, a gente reformula a maneira de dizer para chegar".

Travessia vai estrear em 10 de outubro e terá Lucy Alves, Chay Suede e Romulo Estrela como protagonistas.

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