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CYBERBULLYING

O ódio na internet pode levar à morte: O que fazer se a vítima for seu filho?

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Walkyria Santos e Lucas posam abraçados e sorriem para foto

Walyria Santos e Lucas em foto do Instagram; adolescente tirou a própria vida após mensagens de ódio

LUANA BENEDITO

luanab@noticiasdatv.com

Publicado em 14/8/2021 - 6h35

Espaço de interações sociais, lazer e aprendizado para milhões de adolescentes durante a pandemia da Covid-19, a internet também tem sido usada para disseminação de mensagens de ódio, perseguição e intolerância. O aumento de casos de cyberbullying preocupa porque, segundo especialistas, pode gerar tristeza, depressão, transtorno de ansiedade e, em situações mais graves, levar à morte.

A consequência mais extrema é resultado do acúmulo de sentimentos ruins que a vítima não consegue assimilar. Voluntário do CVV (Centro de Valorização da Vida) há 21 anos, Antonio Batista diz que a decisão de tirar a própria vida passa por um doloroso processo. "É um sofrimento, isolamento, afastamento de pessoas, uma série de sentimentos que não são elaborados, que não são conversados. De repente, você sofre algum tipo de pressão, e como um copo que se transborda você não consegue lidar com a situação."

A psicóloga Claudia Melo comenta que os ataques sofridos no ambiente virtual podem ser um gatilho para o suicídio quando associado a outros fatores. "Infelizmente, em casos graves, alguns jovens não sabem como se defender e gerenciar [os sentimentos], e acabam tomando a decisão de tirar a vida, porque acreditam que é a saída", observa a especialista em infância e adolescência.

No último dia 3, o adolescente Lucas Santos, de 16 anos, foi uma das vítimas do cyberbullying. O filho da cantora Walkyria Santos e de César Soanata foi encontrado morto em Parnamirim, na região metropolitana de Natal (RN), após ser alvo de comentários homofóbicos no TikTok.

"O nosso filho tinha uma relação muito gostosa com a gente, tanto comigo como com a mãe, mas, infelizmente, foi uma coisa muito grosseira. Ele foi atacado, e isso nele, como adolescente, chegou de uma maneira muito forte", conta Soanata ao Notícias da TV.

De acordo com empresário, o menino fazia psicoterapia. "Ele não tinha uma depressão ou uma ansiedade propriamente dita, mas um tempo atrás, às vezes, ele ficava muito fechado, e a Walkyria levou no psicólogo", conta o ex-marido da cantora.

Soanata ainda faz um apelo: "É importante a atenção dos pais aos filhos, porque eles podem estar sendo vítimas  ou podem estar atacando. Será que seu filho está praticando o cyberbullying? Porque quem somos nós para achar que só o filho do vizinho não presta?", reflete.

Sinais de alerta

Claudia Mello lista alguns sinais que devem ser observados pelos pais em relação aos filhos, como alterações repentinas no comportamento, apetite, sono ou rendimento escolar, descrença em si ou nos outros, automutilação, e comentários autodepreciativos. "A mudança pode ser sutil, mas acontece. Alguns, por exemplo, começam a evitar grupos, redes ou jogos virtuais que costumavam participar."

O psiquiatra Ricardo Krause, especialista em infância e adolescência, destaca também o interesse sobre assuntos que envolvem tirar a própria vida. Para o especialista, outro fator de risco para o suicídio entre os adolescentes é o consumo de álcool:

Nossa preocupação é que cada vez mais está sendo permitido, legalizado, não punido, em algumas situações é até estimulado, o uso de bebida alcoólica. Então, na linha de 'todo mundo está fazendo', 'meu filho vai ser um ET se não fizer', os adolescentes estão bebendo. O álcool é um desinibidor do conteúdo que está ali por baixo, e o conteúdo que está por baixo do adolescente é de medo, insegurança, desesperança... Isso é um risco.

Dá para evitar?

Antonio Batista, do CVV, diz que a forma mais eficaz de acolher quem tem pensamentos suicidas é por meio do diálogo e da empatia. "Por exemplo, pergunte como está sendo o dia, mas estabelecendo uma conversa compreensiva em que a pessoa possa desabafar. Quando ela desabafa, se alivia e pode encontrar mecanismos de lidar com questões que não são fáceis", aconselha ele, que está há 21 anos na organização.

"A gente [do CVV] entende que, quando uma pessoa está pensando no suicídio, ela não quer morrer. Ela quer ser livrar de uma questão que não está conseguindo lidar, e é uma luta e um desespero muito grande", completa Batista, que também reforça a importância do acompanhamento psicológico.

Marcele Frossard, pesquisadora do IPPES (Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio), alerta para o cuidado em tratar os problemas dos adolescentes, já que adultos tendem a julgar como se fossem menos importantes. "A gente, enquanto adulto, por falta de mediação e por falta de conversa, não tem noção de como nossas falas afetam e geram marcas", opina. 

"Se alguém está querendo chamar a atenção, é porque precisa de atenção. As pessoas colocam 'esse querer chamar atenção' como se fosse algo negativo, mas a melhor coisa que a gente pode fazer é oferecer ajuda", concorda o psiquiatra Ricardo Krause.

Cyberbullying é crime

Os pais de Lucas Santos iniciaram uma campanha para a aprovação de um projeto de lei do deputado federal Julian Lemos (PSL-PB). O texto prevê punição para haters de um a quatro anos de reclusão, além de multa.

"A gente quer que seja mais rigoroso, principalmente, em relação à fiscalização por meio de inteligência artificial nas redes sociais", diz o pai do adolescente. "A gente não conseguiu salvar a vida dele, mas a gente tem que fazer algo por alguém", completa.

O cyberbullying está previsto na lei 13.185 de 2015. No texto, a prática se caracteriza pela intimidação sistemática no ambiente virtual. O advogado criminalista Marcus Mangini explica que as penas variam conforme o crime, que está relacionado à honra no Código Penal. "Temos a calúnia, a difamação e a injúria, que também podem ser cometidas na internet."

Mangini pede para que os pais ou as vítimas reúnam as provas, como vídeos, mensagens e prints, que comprovem o crime virtual. Em posse do material, é necessário registrar o boletim de ocorrência em uma delegacia para que uma investigação possa aberta.

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure o Centro de Valorização da Vida. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente, nos mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

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