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Filosofia arrastada

Faroeste moderno, Walking Dead é mais que extermínio de zumbis

Divulgação/AMC

Cerca protege Rick Grimes (Andrew Lincoln) de zumbis em episódio da quarta temporada de The Walking Dead - Divulgação/AMC

Cerca protege Rick Grimes (Andrew Lincoln) de zumbis em episódio da quarta temporada de The Walking Dead

JOÃO DA PAZ

Publicado em 7/2/2014 - 17h46
Atualizado em 9/2/2014 - 16h53

Neste domingo (9), The Walking Dead volta nos Estados Unidos com a segunda metade da quarta temporada. No Brasil, a Fox exibe o retorno na terça. A produção tem a maior audiência na TV paga dos EUA e foi a série americana mais assistida pelos brasileiros na TV por assinatura em 2013. Contudo, apresenta falhas na produção e elaboração da trama

Neste domingo (9), The Walking Dead volta nos Estados Unidos com a segunda metade da quarta temporada. No Brasil, a Fox exibe o retorno na terça, a partir das 22h30. A série tem a maior audiência na TV paga norte-americana, e o episódio de estreia da atual temporada deu ao canal AMC um público de 16,1 milhões de telespectadores. Como comparação, o episódio final de Breaking Bad, no mesmo AMC, teve 10,28 milhões de telespectadores.

Por aqui, The Walking Dead também é sucesso. Foi a série americana mais assistida pelos brasileiros na TV por assinatura em 2013, com média de 217.740 mil telespectadores por episódio.

Contudo, a série, que é baseada na famosa HQ de mesmo nome, apresenta falhas na produção e elaboração da trama. Ritmo lento, personagens principais sem apelo e retomada do mesmo tema em vários episódios marcam The Walking Dead. Para Newton Guimarães Cannito, 40 anos, autor-colaborador da novela Joia Rara, da Globo, essas são características propositais:

“The Walking Dead é um faroeste moderno. Moderno não só no sentido de ser contemporâneo, também no sentido de ser uma narrativa moderna, ambígua, com personagens hesitantes, mais lenta e com certa subjetivação”.

Zumbis humanos

A série apresenta a história de sobreviventes de um apocalipse zumbi. Eles buscam um local seguro longe dos "caminhantes", como são chamados os zumbis, que com uma mordida infeccionam os seres humanos. 

A subjetivação citada por Cannito está no pano de fundo da série. O que são esses zumbis? Qual a relação dos humanos com os “caminhantes”? Entender isso é chave para compreender o porquê de repetições constantes de temas como “salvar a humanidade do mundo apocalíptico cheio de zumbis”.

Victor Ugo Pastore, 21 anos, assistente de arte e fã da série, vê os zumbis “apenas como um pano de fundo para mostrar como humanos podem ser em um ambiente selvagem e hostil”.

Além disso, o possível lado humano dos zumbis cria uma ambiguidade. Uma cena que exemplifica bem asse aspecto aconteceu no quinto episódio da segunda temporada (Cherokee Rose).

Um zumbi é encontrado apodrecendo em um poço na fazenda Herschel. Dale Horvath (Jeffrey DeMunn) tenta salvá-lo para que a água não fique contaminada. Essa cena não está na HQ e sua construção gera dúvidas, pois com a retirada do zumbi, a água ficaria limpa? E se o salvamento fosse apenas por isso, porque não matar o zumbi?

Cannito observa que “a questão principal de The Walking Dead vai muito além de ‘salvar a humanidade do apocalipse’ total. A questão mais complexa é: os zumbis ainda tem algum lado humano?”.

Personagens confusos, sem ‘origem’

As decisões dos personagens em The Walking Dead são altamente questionáveis dentro do aspecto lógico. Quem mais apresenta dúvidas básicas é o protagonista principal, Rick Grimes (Andrew Lincoln). Ele, que deveria se posicionar mais firmemente como o líder dos sobreviventes, se questiona sobre o que é certo fazer, fugindo da responsabilidade. Em outros momentos, Grimes entende que o grupo precisa dele e passa, então, a comandar.

Outro problema da série é não apresentar claramente os personagens, sejam os principais ou coadjuvantes. “Na HQ temos o passado de várias personagens explicado, mostrando os primeiros dias do apocalipse e as dificuldades que eles passaram. Acho que ficaria incrível na série”, aponta Pastore. “Muitas personagens merecem mais espaço ou pelo menos uma breve explicação da vida deles pré-apocalipse”.

Uma estratégia comercial pode estar por trás da omissão de histórias de alguns personagens, um interesse “de Robert Kirkman (criador da HQ) e da editora (Image Comics) de lançar esses conteúdos separados”, diz o roteirista do SBT Eric Felin, 22 anos. “Assim como saiu toda a história de O Governador (David Morrisey) em livros, e uma série especial de quadrinhos com a história da Michonne (Danai Gurira)”.

Importante ressaltar a ausência de novos personagens. Confirmada para a quinta temporada, como The Walking Dead vai ter história, para mais 16 episódios, com a morte de tantos humanos? De onde viriam as novas pessoas?

Cena da segunda metade da quarta temporada de The Walking Dead

Viciante

Cannito confessa. “Lembro que eu ouvia falar de The Walking Dead e assistia apenas trechos. Não me interessava. Um dia parei para assistir inteiro. Viciei por completo”.

The Walking Dead tem uma legião fiel de telespectadores. O esforço antipirataria da Fox, que exibe a atual temporada no Brasil com apenas dois dias de atraso, é para justamente atrair os fãs da série, que horas após um episódio ir ao ar nos EUA já o buscam (e encontram) na internet.

Essas falhas de The Walking Dead não impedem a série de ser certeza de boa audiência. Mas a enfraquece nas premiações mais importantes da TV norte-americana, que dão prestígio. Até agora, só ganhou estatuetas na categoria melhor maquiagem em série de TV no Emmy de 2011 e 2012. Nunca recebeu indicações para as categorias principais. Já no Globo de Ouro, The Walking Dead, em quatro anos, só foi nomeada uma única vez: em 2010, como melhor série dramática.

Para Pastore, admirador da série e HQ, o fracasso na estrutura da história na TV não impede de acompanhar episódio por episódio o que acontece neste conflito humano versus zumbis.

Canitto dá uma dica de como apreciar The Walking Dead: “The Walking Dead dá a impressão que é só uma questão de matar zumbis. E que tem momentos parados. Mas se você realmente entra no tom e no universo da série, percebe que a questão é mais filosófica. Como todo grande faroeste, The Walking Dead se situa no gênero da tragédia filosófica”.


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