'Conflitos raciais mexeram muito comigo', diz Duda Santos sobre Garota do Momento

Duda Santos chega ao fim de Garota do Momento com a sensação de superação pessoal e dever cumprido. A atriz está satisfeita com o trabalho desempenhado na novela e pela representatividade que exerceu, como mulher negra e protagonista da trama. Ela conta que as cenas em que a personagem precisou encarar situações de preconceito racial foram as mais desafiadoras durante esta trajetória. "Ai, como eu queria que essas situações fossem mesmo de ficção", diz ela.

Com Beatriz, Duda fez parte de um momento histórico na TV brasileira: em 2024, pela primeira vez as três novelas da Globo --das 18h, 19h e 21h-- tiveram atrizes negras como protagonistas.

Duda acredita que não chegou sozinha até este momento e que várias meninas e mulheres negras caminharam com ela até aqui. A atriz também considera que Beatriz lhe serviu de grande inspiração para a própria vida.

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Confira entrevista exclusiva do Notícias da TV com a atriz de Garota do Momento:

NOTÍCIAS DA TV - Quais eram suas expectativas no início de Garota do Momento e como isso foi se transformando ao longo da trama? Como você enxerga a evolução da personagem?
DUDA SANTOS - Foi uma experiência muito intensa e transformadora. No início, eu tinha muitas expectativas --e também muitos desafios, por ser uma personagem tão importante para a história.

Mas, conforme a trama avançava, fui me conectando mais profundamente com a Beatriz, entendendo suas camadas, sua força, suas dores. Ela começa como uma jovem cheia de sonhos e termina como uma mulher madura, que enfrentou tudo com coragem.

Ver essa evolução foi muito emocionante. E tem ainda a questão do protagonismo preto e toda a representatividade que isso carrega. Eu me senti caminhando de forma coletiva com tantas outras meninas e mulheres.

Que mudanças fazer uma protagonista de novela trouxe para a sua vida, tanto pessoal quanto profissional? O que você descobriu com este trabalho?
Mudou muita coisa. Profissionalmente, me senti muito mais preparada, mais segura. Aprendi a confiar mais em mim, no meu processo, e também no trabalho coletivo, porque novela é uma entrega diária, de muita troca.

Pessoalmente, amadureci muito. Quando se tem uma Beatriz nas mãos, significa uma responsabilidade grande, mas também é um presente. Descobri que sou capaz de muito mais do que eu sonhava. E a grande maravilha disso é alimentar novos desejos e objetivos.

Qual foi o maior desafio para interpretar a Beatriz?
Novela é um trabalho longo e muito intenso. Eu entendi que, para mim, o maior desafio foi manter uma rotina que me permitisse ter o fôlego emocional, estudo, descanso e uma disposição física.

A Beatriz viveu muitas reviravoltas, e era importante que cada dor, cada conquista, fosse sentida com verdade. Houve cenas muito difíceis emocionalmente, especialmente aquelas em que ela confronta o passado ou lida com perdas. Mas também foi desafiador fisicamente. Gravar em ritmo intenso, com muitos textos, muitas emoções, por tantos meses.

Beatriz foi uma mocinha muito forte, que batalhou muito por seus objetivos, que enfrentou as muitas adversidades da vida. Você se identifica com ela? Tem algo da Duda na Beatriz, e da Beatriz na Duda?
Com certeza! A Beatriz me inspirou muito. Ela é determinada, corajosa, não abaixa a cabeça, e eu me reconheço nisso. Também venho de uma trajetória cheia de obstáculos, mas sempre fui movida pela vontade de realizar meus sonhos. E acho que levei para ela esse meu olhar sensível e empático. A gente acabou se misturando, e foi lindo viver isso.

Como tem sido a repercussão do público com você? O que as pessoas mais te falaram nas ruas, nas redes sociais?
Tem sido um carinho enorme! Eu leio tudo! Recebi muitas mensagens de pessoas dizendo que se emocionaram com a Beatriz, que torceram por ela, que se sentiram representadas. Teve gente que me parou na rua pra dar conselho pra personagem... É muito gostoso quando isso acontece. É muito bonito ver como a arte toca as pessoas. Fico muito grata por essa conexão.

Teve alguma cena da Beatriz que foi mais marcante pra você? Mais desafiadora, que exigisse mais, ou mais engraçada, mais emocionante?
Confesso que os conflitos raciais mexeram muito comigo. Ai, como eu queria que essas situações fossem mesmo de ficção. Não são! Elas perpassam o tempo e convivemos com elas até hoje! Essas cenas envolviam raiva, dor, amor e frustração ao mesmo tempo.

Vimos que o elenco da novela se entrosou muito bem, se divertiu muito nos bastidores. Conte um pouco como foi esse clima de vocês durante a novela! Tem alguém com quem você tenha tido uma troca maior, que já conhecia ou que virou mais amiga?
O clima foi incrível! A gente criou uma família ali. Era muito apoio, muita troca, muita parceria mesmo. Me aproximei muito dos atores que formam meu núcleo. Foi uma proximidade natural, e embora tenhamos um afastamento com o final da rotina de gravações, levarei eles comigo! A gente ria muito nos bastidores, mesmo nas semanas mais puxadas. Isso ajudou a sustentar a leveza no dia a dia.

Você protagonizou a novela das seis num momento muito significativo da TV brasileira, em que as três protagonistas das novelas da Globo foram atrizes negras. Fale um pouco sobre a importância disso para o país, pra você, para nossa evolução como sociedade.
É um marco. Quando eu era criança, não via muitas meninas negras protagonizando novelas, e isso impacta nossa autoestima, nossa sensação de pertencimento. Fazer parte dessa mudança é uma honra imensa. Espero que isso seja cada vez mais comum --que as próximas gerações cresçam se vendo em todos os espaços.

A representatividade não é o fim, mas é um começo muito importante. E eu sinto --o que é muito importante para mim-- que não caminhei sozinha. Meninas e mulheres pretas estavam de mãos dadas nessa conquista.

Houve críticas à novela no sentido de o público reclamar que Beatriz havia perdido espaço para os vilões da trama, principalmente para Bia (Maisa). Como você lidou com isso e como enxerga essas críticas?
Eu entendo o envolvimento do público, e acho até bonito que eles defendam a Beatriz com tanta paixão. Mas também acredito que uma novela é feita de arcos diversos, e que todos os personagens têm momentos de brilho. A Beatriz foi constante em sua força, em sua essência. E isso ficou. O importante é que a mensagem dela foi passada, e tocou muita gente.

Que mensagem ou legado gostaria que a Beatriz deixasse ao público?
Que nunca é tarde pra recomeçar. Que a gente pode se reinventar, superar traumas, construir uma vida nova com dignidade, coragem e afeto. A Beatriz foi uma mulher que sofreu, mas que nunca deixou de sonhar —e isso, pra mim, é a maior lição. Além da valorização do amor, esse ainda é o sentimento mais potente que temos dentro da gente.

Já tem planos para quando a novela terminar, seja de férias ou de outros trabalhos encaminhados? Tem algum sonho que gostaria de realizar na carreira, alguma personagem ou tipo de papel que pensa em interpretar?
Eu tenho um filme para rodar e outro, que já está pronto, para lançar. Descansar é importante, claro, mas acho que posso fazer isso depois deste projeto que também é muito especial. Eu desejo para a minha carreira papéis diversos e que ajudem a me construir como uma atriz versátil, múltipla e pronta para qualquer desafio.