Coadjuvantes de luxo: Quem são os atores que sumiram no remake de Vale Tudo

Atualizar Vale Tudo (1988) é um desafio para Manuela Dias. A autora responsável pelo remake da Globo tomou decisões que não surtiram o efeito esperado para dar destaque às tramas paralelas. A principal delas diz respeito ao apagamento de personagens que, mesmo com nova roupagem, continuam sem função relevante na trama --como Carolina Dieckmann, Malu Galli e Matheus Nachtergaele.

Intérprete de Leila, Carolina Dieckmann herdou um papel que já era frágil na versão original. A personagem era marcada pela frigidez sexual, algo que não se sustentaria em uma adaptação atualizada. No remake, Manuela Dias optou por suprimir esse traço, mas não conseguiu construir uma nova camada significativa para a personagem.

Leila se tornou uma coadjuvante de luxo: aparece com frequência ao lado de Marco Aurélio (Alexandre Nero), vive um romance protocolar com ele e Renato (João Vicente de Castro), mas não conseguiu sustentar destaque ou interesse do público com um arco dramático próprio que justifique sua permanência no núcleo central.

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A trama até tentou incorporá-la no debate sobre a guarda de Sarita (Luara Telles), mas sua atuação é periférica --ela está mais como escada para as falas do empresário do que como agente da narrativa. Faltam conflitos, protagonismo e uma função que a resgate do papel decorativo que ocupa. Carolina, atriz de peso e longa trajetória na emissora, merecia mais.

Sombra de Odete Roitman

Malu Galli, por sua vez, interpreta Celina --irmã de Odete Roitman (Debora Bloch) e uma das poucas personagens do remake com potencial de aprofundamento. Ao contrário da versão de 1988, em que ela era quase figurativa, Celina foi introduzida com a promessa de servir como contraponto humano às vilanias da irmã.

Mas, passados mais de 50 capítulos, ela mal teve espaço para se desenvolver. A personagem surge esporadicamente em jantares, faz comentários amenos e pouco interfere na trama.

Nem mesmo a entrada recente de Estéban (Caco Ciocler), marchant sofisticado que se envolve com Celina, conseguiu dar tração à personagem. O romance é interessante no papel, mas ainda carece de tempo de tela e de conflito real para se tornar relevante. Malu Galli, uma das melhores atrizes de sua geração, é desperdiçada em diálogos tímidos e cenas que não acrescentam camadas à história.

Assexualidade rasa

Outro nome de peso pouco aproveitado é Matheus Nachtergaele. No papel de Poliana, o ator deveria emprestar carisma e densidade ao núcleo cômico. Mas o personagem mal tem voz. Limitado a comentários espirituosos e aparições pontuais, Poliana é um guia simbólico, mas com função quase nula no desenrolar dos conflitos. A trama que debate sua assexualidade também não empolga.

A tentativa de Manuela Dias em dar nova roupagem a Vale Tudo é arriscada. A autora trouxe pautas contemporâneas e investiu em atualizações relevantes para personagens como Raquel (Taís Araujo) e Marco Aurélio.

No entanto, o tratamento dado a outros nomes do elenco revela um desequilíbrio textual. Personagens que poderiam enriquecer a novela com tramas paralelas robustas seguem à sombra dos protagonistas, sem brilho próprio ou função estrutural.