A 'maldição' que Jéssica Ellen quebrou com a Madá em Volta por Cima

A autora Claudia Souto fez uma aposta arriscada, mas que vem se pagando até aqui --principalmente no Ibope--, ao dar ares mais clássicos para a protagonista Madá em Volta por Cima. Em uma época em que anti-heróis como o malandro Osmar (Milhem Cortaz) caem facilmente nas graças do público, a atriz Jéssica Ellen encontrou o tom certo para a que a sua mocinha não fosse ofuscada pelos tipos mais histriônicos da trama --como Violeta (Isabel Teixeira) e Gigi (Rodrigo Fagundes).

Madá poderia facilmente ser lida como monotonal pelo público, especialmente porque divide a cena com alguns personagens que soam quase como caricaturais perto dela --como o trapalhão Chico (Amaury Lorenzo), a espevitada Roxelle (Isadora Cruz) ou mesmo a fria e calculista Cacá (Pri Helena).

Jéssica, porém, conseguiu se ajustar para não ficar abaixo do tom em uma discussão com o bicheiro Gerson (Enrique Diaz) e seus exageros, com direito até a um gato no colo, como nos desenhos animados; nem acima ao lidar, por exemplo, com o drama mais realista de Doralice (Tereza Seiblitz).

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Para dar certo, Claudia precisava de uma atriz que conseguisse transitar por diversos núcleos, com todas as suas particularidades, como foi a Maria da Paz (Juliana Paes) em A Dona do Pedaço (2019). Só que com uma dificuldade a mais: Madá não permite tantas hipérboles quanto a boleira criada por Walcyr Carrasco.

A produtora de eventos não só é bem mais realista como ainda poderia ser percebida como "dura" ou "intransigente" pela sua retidão de caráter. E, em um país que ignora o próprio racismo como o Brasil, poderia até acabar rejeitada por ser "arrogante" ou "nariz em pé" apenas por ser uma mulher negra.

Além do trabalho praticamente impecável de Jéssica em frente às câmeras, Claudia também encontrou algumas boas soluções para ajudar a sua protagonista na sala de roteiro. Um exemplo é que Madá até quebra regras, desde que o público seja cúmplice dessa transgressão.

A jovem não hesitou em se vestir de bate-bola às escondidas para mostrar a Jão (Fabricio Boliveira) que estava sendo machista ao não permitir mulheres no Dragão Suburbano; e até o ajudou a estragar o chá revelação de Cacá, apenas para dar uma lição na antagonista.

Maldição das mocinhas

Dentro da Globo, não faltam exemplos de mocinhas mais clássicas como Madá que acabaram não dando certo por uma série de razões. Paloma (Paolla Oliveira) foi tachada de chata em Amor à Vida (2012), enquanto Filomena (Débora Nascimento) foi considerada sem sal em Êta Mundo Bom! (2016).

Até atrizes já tarimbadas como Carolina Dieckmann, que havia feito um trabalho espetacular como a Camila de Laços de Família (2000), também tiveram os seus tropeços --com Diana esquecida em Passione (2010).

Leia também -> Resumo dos próximos capítulos da novela Volta por Cima.

Volta por Cima é escrita por Claudia Souto, com colaboração de Wendell Bendelack, Julia Laks, Isadora Wilkinson e Juliana Peres. A direção artística é de André Câmara, e a direção-geral de Caetano Caruso.

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