ESTREIA
REPRODUÇÃO/H2O Films
Chicó (Selton Mello) e João Grilo (Matheus Nachtergaele) no filme O Auto da Compadecida 2
O Auto da Compadecida 2 chega aos cinemas nesta quarta (25), dia de Natal, com a proposta de oferecer um presente ao público brasileiro. 25 anos depois do lançamento de O Auto da Compadecida (1999), a continuação traz novas confusões dos amigos Chicó (Selton Mello) e João Grilo (Matheus Nachtergaele), novos personagens e alguma bagunça na construção da história. Ainda assim, entrega boas doses de humor, afeto, celebração de brasilidade e nostalgia aos espectadores.
A história se passa cerca de 20 anos após a trama do primeiro filme. João Grilo retorna à cidade sertaneja de Taperoá, reencontra o amigo Chicó e logo se embrenha na política local.
O malandro é tido como uma espécie de milagre na cidade, por conta de sua ressureição, e passa a ser usado (e a se aproveitar disso) de cabo eleitoral de dois candidatos à Prefeitura de Taperoá: o coronel Ernani (Humberto Martins) e o comunicador e empresário Arlindo (Eduardo Sterblitch), dono da única rádio da cidade.
Estes detalhes, no entanto, não são dados logo de início. A primeira metade do filme é um tanto confusa e bagunçada. A história demora a mostrar a que veio, e fica claro que o roteiro tenta lidar com muita informação ao mesmo tempo.
Há o compromisso com a obra original de Ariano Suassuna (1927-2014) e as referências a ela, a necessidade e a vontade de apresentar uma história nova, a inclusão de novos personagens, a volta de personagens antigos, as pílulas de histórias fantasiosas de Chicó.
Tudo isso é inserido de forma a sobrecarregar a narrativa e a tornar o filme muito episódico --dentro do arco longo da trama, há vários arcos menores, de conflitos que começam e terminam antes do final de fato. O espectador pode ficar sem entender qual é a história maior que está sendo contada ali, sobretudo na primeira metade.
No entanto, a partir do momento em que fica bem estabelecido o papel de cada personagem ali, na nova Taperoá, mediante as eleições que movimentam a cidade, a narrativa engata uma boa crescente.
As atuações são todas excelentes, com destaque para Fabiula Nascimento (que vive Clarabela, filha do coronel e novo interesse amoroso de Chicó) e Eduardo Sterblitch, que fazem performances inspiradas e muito teatrais. Até Humberto Martins surpreende, irreconhecível no papel do coronel Ernani.
Selton Mello e Matheus Nachtergaele fazem rir e chorar ao reviverem Chicó e João Grilo, personagens muito queridos e muito marcantes para o público brasileiro. A trama acerta quando se dedica a retratar a amizade profunda entre os dois, embalada por uma versão de João Gomes de Canção da América, de Milton Nascimento.
O Auto da Compadecida 2 não se iguala à excelência do primeiro filme e sabe disso --há uma piada numa cena, em que Rosinha (Virginia Cavendish) diz que "tem gente que vai dizer que o primeiro é melhor". De fato é, mas superar o original não parece ser o ponto principal da continuação.
O que o filme oferece de melhor é: fan service, humor de qualidade, carisma dos atores, mensagem de afeto sobre o valor da amizade, uma pitada de crítica social, um banquete de nostalgia para quem já guardava no coração as desventuras de Chicó e João Grilo e uma celebração da brasilidade e da fé do povo brasileiro, em pleno Natal.
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
TUDO SOBRE
Eduardo Sterblitch
Fabiula Nascimento
Filme
Humberto Martins
Matheus Nachtergaele
Natal
O Auto da Compadecida
Selton Mello
Virginia Cavendish
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.