LOTTE ZWEIG
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Carlos Vereza e Hana Kolodny em preparação para a peça Lotte Zweig - A Mulher Silenciada
Protagonista da peça Lotte Zweig - A Mulher Silenciada, em que atua ao lado de Carlos Vereza, Hana Kolodny foi escolhida a dedo pelo veterano para interpretar uma personagem difícil e repleta de camadas. A atuação, entretanto, foi digna de reconhecimento: indicada ao Prêmio ATPR, da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro, como melhor atriz revelação, ela deu um pontapé na carreira que poucas atrizes têm a chance de dar.
O roteiro fala sobre o celebrado escritor Stefan Zweig (1881-1942) e sua esposa Charlotte Altman Lotte Zweig (1908-1942), que foram encontrados mortos em um bangalô em Petrópolis. A causa apontada foi suicídio duplo, mas 80 anos depois, novos indícios e dúvidas surgiram e agora apontam que os dois podem ter sido mortos a mando do Terceiro Reich.
O encontro de Hana com Vereza para foi quase obra do acaso, intermediado por uma amiga, que sabia que ele estava em busca de alguém que desse conta da profundidade necessária para o papel da escritora austríaca.
"Fiquei com vergonha, pois o Vereza viu um teste meu para a Record, e era um teste ruim. Mas ele viu o potencial. Ele tem esse olhar, sabe se vai dar certo ou não", conta exclusivamente ao Notícias da TV.
"Quando eu terminei de ler o texto, eu estava tremendo. Ele disse: 'Você vai fazer muito bem'. Eu não entendi que eu tinha passado. Ele falou: 'Isso nunca foi um teste. É você'", dispara a atriz, que participou da 13ª temporada de Reis.
De origem judaica, Hana se conectou imediatamente com a personagem a partir da própria ancestralidade. "Eu sou a última geração com traumas do Holocausto. A próxima já não vai ter tanto. Então eu tenho em mim essa coisa, esse medo... Tem partes da peça que são muito assustadoras, eu sempre me assusto com elas, por mais que eu saiba que estão vindo", confessa.
Inclusive, por causa do texto forte, ela já encarou episódios marcantes em cima do palco. "Uma menina foi ver a peça, ela viveu muitos anos em Israel. Tem uma parte que toca uma sirene... Ela saiu correndo. É um negócio que mexe com trauma mesmo", avalia.
A montagem estreou em março de 2024 e voltará a ser apresentada a partir de junho. Após um bom tempo de preparação ao lado de Carlos Vereza, Hana se sentiu pronta para assumir um dos papéis mais difíceis da sua vida.
"Ele me supriu de todo o material possível. A gente viu muitos filmes, documentários sobre o Terceiro Reich, sobre o simbolismo do nazismo... Ele me encheu de livros", conta a atriz, que se emociona ao falar da entrega do colega de cena. "O Vereza sempre fala: 'Não vou acreditar em ti até tu ler tudo que eu te dei'. E realmente, tem que ler muito, isso faz parte da carreira de qualquer ator."
"As pessoas saem chorando do teatro, muitas me mandam mensagens dizendo: 'Eu ainda estou pensando sobre o que você falou'. Mas elas não ficam mal, elas ficam reflexivas", observa. "É uma arte o que o Vereza fez com essa peça. Não é uma peça que você assiste e depois fica: 'Ah, legal, né?'. Não, você fica remoendo aquilo."
Hana conta que sua trajetória na comédia, especialmente no stand-up comedy, foi um desafio a mais no processo. "Eu sempre vou até a plateia, e nessa peça, a plateia vem até a Lotte. Precisa ter uma delicadeza, um charme... Sem arrogância, mas com uma força interna. A Lotte realmente é o resultado de um processo longo, que continua", comenta.
A nova temporada estreia em 6 de junho, a próxima sexta-feira, e segue em cartaz até o fim do mês na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro. "Ninguém fica indiferente à Lotte. Alguma coisa pega, nem que seja da história dela, ou de uma inflexão... É uma personagem muito rica. Eu também sinto muita falta desse tipo de arte", finaliza.
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