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ENTREVISTA

Após vivenciar racismo, Quitéria Chagas reconhece mudança na TV: 'Avanço'

Dani Badaró

Foto do rosto de Quitéria Chagas

Quitéria Chagas ganhou destaque por seu trabalho na televisão e como rainha de bateria

GABRIELA RODRIGUES

gaby@noticiasdatv.com

Publicado em 22/3/2025 - 21h00

Recentemente, Quitéria Chagas lançou uma autobiografia sobre sua carreira e sua relação com o Carnaval. No livro, a atriz e rainha de bateria revela ter sofrido com episódios de racismo em meio à busca pela fama. Ao falar sobre o assunto, a famosa reforça a importância de resgatar casos de preconceito para conscientizar a juventude e avalia que a televisão se tornou um espaço mais inclusivo para artistas negros. "O avanço é gigantesco", reflete. 

Em entrevista ao Notícias da TV, a ex-assistente de palco do Domingo Legal abre o jogo sobre a ideia de eternizar momentos de sua vida para que seus fãs tenham acesso. Ela explica por que decidiu expor situações de intolerância que vivenciou por conta de sua cor e características físicas.

"Eu não posso isentar fatos e acontecimentos que aconteciam em uma época. Era uma época, para deixar bem claro, em que não existia uma lei contra o racismo. Não existia essa questão de pauta, questão jurídica, não existia."

Em uma parte do material publicado por ela, Quitéria diz ter sofrido preconceito durante um trabalho em uma emissora bastante conhecida. Na ocasião, ela tinha apenas 19 anos e estava em busca de oportunidades para se destacar no meio artístico.

"Todas as emissoras, todos os meios de comunicação, tinham atos repugnantes, que eram atos de de racismo, de intolerância, uma porção de coisas", relembra. 

Para Quitéria, felizmente, atualmente o cenário televisivo está bastante diferente. Além de observar um debate maior sobre pautas sociais, a atriz também destaca a presença de profissionais que antigamente eram considerados "fora do padrão". 

As coisas foram mudando de acordo com o contexto social, a mudança de época. O que era validado na época que eu comecei na TV, hoje em dia não é validado. O Jornalismo também mudou muita coisa, você vê mais personalidades negras nas revistas, fazendo matérias de capa. No meio do samba, quando eu entrei, não existia isso, as rainhas negras não davam entrevista praticamente, as pessoas ignoravam.

"Não tem como anular um fato que realmente acontecia, é importante. Não é que eu tenha colocado situações no livro porque eu decidi expor, é porque é minha vida. Eu tenho que expor como eu me construí, como eu ressignifiquei, como eu suportei. É importante a sociedade, principalmente a nova geração, saber o que a gente passou. O que existe de conquista agora é porque muita gente sofreu antes", acrescenta ela. 

Em 2023, Quitéria retornou ao Brasil depois de sete anos morando na Itália. Ela decidiu voltar ao país após a morte do marido, que foi vítima de um diagnóstico de câncer. O retorno, inclusive, serviu para que ela percebesse algumas mudanças em relação ao passado que vivenciou na TV. 

Nas pautas raciais, isso de inclusão, o avanço é gigantesco em relação ao que eu vivi no início de 1990, 2000. É um salto triplo! O Brasil está muito mais avançado em pautas raciais e de inclusão do que países que se dizem desenvolvidos e são extremamente intolerantes. Estamos muito mais avançados, mas não está perfeito, não é 100%.

"Se não temos uma punição judicial, temos a punição pública, como o cancelamento, que tem sua ferramenta de importância. Existe, claro, algum julgamento injusto, mas existe uma certa forma de punir a sociedade. A própria sociedade cria essa punição de não concordar com a intolerância, com o racismo", opina a atriz. 

"Ainda mais porque eu vivi muito tempo na Europa, eu estou muito feliz pelas mudanças que vejo no nosso país. Vejo na TV uma quantidade incrível de personalidades negras. Quando eu iniciei na TV, não tinha isso, apresentadores, atrizes/atores em novelas em que negros têm família, têm pai, têm mãe, uma estrutura familiar bem-sucedida, não têm só aquela função de serviços do lar, que tinham antigamente", reforça. 

Carnaval 

Com 25 anos de Sapucaí, Quitéria Chagas comemora sua atuação como rainha de bateria da Império Serrano. Em sua autobiografia, a atriz faz questão de destacar sua relação com a escola e fala sobre a importância do Carnaval como forma de resistência. 

Todo ano é uma ansiedade, é o maior espetáculo do mundo, não tem como não ter frio na barriga. O Carnaval significa para mim a essência da história da cultura brasileira. Através do samba, da batucada, criamos uma identidade genuína, que é única aqui no Brasil. Tem a questão da cultura preta, dos negros quilombolas. Eles construíram esse modelo cultural de resistência para contar a história da cultura negra de uma maneira codificada.

"No início das escolas de samba, a ideia do movimento negro nunca foi festa da carne; tem esse nome, mas a ideia era se empoderar diante da sociedade. Era uma forma ocultada do negro se sentir importante na sociedade, nobre, porque as roupas eram nobres... O Carnaval é a base da nossa cultura, da nossa história. Para mim é uma família, o grande amor da minha vida, esse amor artístico, cênico, onde expresso minhas emoções", completa. 

Planos para o futuro 

De volta ao Brasil, Quitéria busca retomar sua carreira e não descarta aparecer em novos projetos na TV. Antes de deixar o país, ela se tornou conhecida por sua atuação em novelas e séries, como Páginas da Vida (2006), Sob Nova Direção (2004-2007) e A Grande Família (2001-2014).

"Eu pretendo, sim, voltar a atuar, seja no streaming, na novela, no que for. Quero me preparar para isso, as questões televisivas mudaram. É importante essa retomada. Em breve eu estarei [de volta], após organizar a minha vida."

Questionada sobre a possibilidade de participar de algum reality show, a atriz não tem uma resposta certa, mas não descarta a possibilidade de aceitar um novo convite para projetos do gênero. Em 2020, ela integrou o elenco do Made in Japão, da Record. 

"Já fui convidada inúmeras vezes para A Fazenda, mas eu não quis ir. Participei do Made in Japão, que a Sabrina Sato apresentou. Já tive essa experiência, e era muito mais complexo, porque não tinha a área externa. Eu toparia [de novo], dependendo da proposta, se for algo bacana, se a proposta for boa. A gente nunca sabe do amanhã, não dá para rejeitar", finaliza. 


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