ENTREVISTA
Divulgação/Kelly Queiroz
Virgilio Abranches é o vice-presidente de Jornalismo, Conteúdo e Operações da CNN Brasil; 5 anos no ar
Neste sábado (15), a CNN Brasil completa cinco anos no ar. O canal de notícias encarou um desafio inimaginável logo de cara: estreou no início da pandemia de Covid-19. Hoje, com a crise de saúde superada, se posicionou como referência no setor e tem na GloboNews sua grande rival. "Nós a vemos como concorrente, e ela nos vê assim também", resume Virgilio Abranches, vice-presidente de Jornalismo, Conteúdo e Operações da empresa, em entrevista ao Notícias da TV.
Não foi por acaso que a CNN lançou nesta semana uma campanha na qual afirma alcançar 80 milhões de pessoas por mês --entre audiência na TV, no YouTube, nas redes sociais e no seu portal de notícias.
Para Abranches, o público de um canal não pode ser mais mensurado apenas pelos índices da Kantar Ibope. "Isso não é o futuro, já o presente!", sentencia.
As pessoas não ficam mais só na frente da TV, sentadas, recebendo informação. Elas estão no celular, no computador, no laptop, no iPad, no tablet... Não dá mais para medir só a TV. A TV é importante, sem dúvida alguma. Mas não é só isso. Esse hábito já vem mudando faz tempo, e ele já é um novo hábito.
O executivo ressalta, porém, que a busca pelo público não é um vale tudo, e que a qualidade do conteúdo noticioso deve vir sempre em primeiro lugar. Para não ficar só no discurso teórico e colocar suas palavras bonitas em prática, ele mandou cancelar a assinatura do real time da Kantar Ibope --aquela audiência em tempo real, minuto a minuto. Agora, a CNN Brasil recebe apenas os dados consolidados de cada programa, e só no dia seguinte.
"Eu acho que as empresas de televisão ficaram viciadas no real time. Isso é uma herança dos anos 1990, daquela guerra de entretenimento, de Gugu [Liberato, 1959-2019] e Faustão, em que um ia para o break [intervalo] porque o outro tinha feito não sei o quê. Isso veio vindo, veio vindo, virou uma cultura das empresas mexerem em tempo real nas suas programações por causa do real time. E eu acho que é uma leitura muito fria de um número que não demonstra se o conteúdo é bom ou não. Então, tomei essa decisão corajosa e um pouco 'radical' e, agora, percebo que o foco foi para o conteúdo", valoriza.
Abranches ainda fala sobre a mudança no time de âncoras da CNN Brasil ao longo desses cinco anos. Na estreia, ela tinha em seu elenco figurões como Monalisa Perrone, Evaristo Costa, Reinaldo Gottino, Gloria Vanique, Alexandre Garcia, William Waack e Márcio Gomes. Apenas os dois últimos seguem no canal, que passou a apostar em outro perfil de profissionais.
"É uma política da casa valorizar as pessoas que estão aqui. E transformar pessoas que às vezes não são televisivas ou estão prontas para o audiovisual em profissionais que possam também fazer essa plataforma. O pessoal que vem do impresso tem uma pegada de jornalismo, de apuração, do bastidor, da informação exclusiva, que é uma característica da CNN. Então, por que não valorizar essas pessoas?", instiga.
Confira a entrevista com Virgilio Abranches:
NOTÍCIAS DA TV - Sempre que a gente lança uma empresa, existe um plano de cinco anos. Como a CNN Brasil chega a essa marca? Vocês conseguiram tudo o que queriam no lançamento? Ela superou o plano inicial? Que balanço você faz do canal? E que balanço a direção faz?
VIRGILIO ABRANCHES - Olha, a gente está muito feliz. Acho que que a campanha que a gente lançou essa semana, mostrando os nossos números, demonstra com clareza que a gente alcançou um resultado extraordinário em cinco anos. Eu ouso dizer que o nosso momento hoje é o melhor desde o lançamento da CNN, em todos os aspectos.
É difícil falar que este momento foi planejado cinco anos atrás, porque muita coisa aconteceu de lá para cá, inclusive a pandemia. Logo de cara, foi uma coisa bem problemática na época. Mas, no fim das contas, com todos esses percalços, o trabalho seguiu muito firme, o propósito seguiu muito firme. E acho que isso também se deve muito ao Rubens Menin ter acreditado e continuar acreditando na ideia e no negócio. E também isso se deve muito ao fato de o João [Camargo] ter chegado e também acreditado muito no negócio.
Então, não é um negócio fácil, né, em vários aspectos, mas dentro dessas dificuldades que são do mercado, não só as dificuldades comerciais e de negócio, dificuldade até editorial mesmo, as pressões que vêm de todos os lados, a gente sabe como funciona. O jornalismo sempre é muito pressionado.
Com todas essas dificuldades, eles acreditaram, deram aqui para os executivos a autonomia para a gente direcionar a gestão da empresa, e o resultado são esses 80 milhões de pessoas alcançadas por mês que nós divulgamos essa semana. É um número bastante expressivo, principalmente para quem tem só cinco anos.
Você falou da pandemia, e parece uma loucura pensar que vocês estrearam no início ali da crise mundial. Agora que a gente tem essa visão do que era, porque na época ninguém sabia a grandeza da coisa, como você olha para trás e vê o trabalho que vocês fizeram? É uma sensação de "quem sobreviveu a isso sobrevive a qualquer coisa"?
Eu acho que tem dois aspectos, né? Tem um aspecto da gestão da empresa, que todas viveram, só que acho que a gente veio com um peso maior, porque era tudo muito novo. Então, a gente estava descobrindo a própria operação da CNN, e aí veio a pandemia e bagunçou tudo.
Teve uma época em que a gente não sabia, nem a OMS [Organização Mundial de Saúde] tinha certeza se era bom usar máscara ou não. Então a gente não sabia direito como orientar as pessoas que ainda estavam chegando num prédio novo, com computador novo, com não sei o quê. Então teve essa questão da gestão que a gente aprendeu muito, sofreu naquela época, mas aprendeu. Mas acho que foi um sofrimento para todo mundo, né? A CNN só teve essa característica de que estava no começo.
No caso do editorial, eu acho que isso foi importante, a pandemia já nos desafiou porque, além das dificuldades de cobrir uma doença nova, como tudo, isso se transformou num debate político. E a CNN conseguiu, desde aquela época, já demonstrar que em qualquer tipo de cobertura, até as mais complexas como essa, é o equilíbrio que traz solidez para o jornalismo de confiança. [Havia] Muita polêmica em relação à pandemia, sobre tratamento, sobre quarentena, posicionamento político das autoridades, muitas dúvidas médicas, questionadas ou não.
E nesse meio do caminho, o que resolve, o que as pessoas buscam --e aí falando do ponto de vista do público-- é ter confiança na informação, sem paixão, que é o que eu falo desde sempre, e quando eu tive oportunidade de assumir também o Jornalismo, eu bato nessa tecla todo dia e, se precisar, toda hora, que é: nós temos que fazer tudo sem paixão, porque a pessoa que está querendo informação de verdade, ela quer confiar naquela informação. E a pandemia nos trouxe essa necessidade de falar: "Como a gente vai dar para as pessoas uma informação confiável nesse momento tão difícil?".
Então, olhando para trás hoje, eu acho que a pandemia foi, por um acaso do destino, ela foi um desafio imposto para o jornalismo como um todo. Mas, para a CNN, que era uma empresa nova, foi um desafio para mostrar o quão sério era o nosso trabalho.
De cinco anos para cá, o cenário dos canais de notícia mudou muito. A Jovem Pan lançou o canal deles, BM&C News, Times Brasil... Vocês lançaram o CNN Money. Há espaço para todo mundo? Quem é o rival de vocês, para quem vocês olham? Nos dados que vocês lançaram, a comparação é com a GloboNews. A GloboNews é o alvo, é quem vocês miram, é quem vocês querem destronar? Como você encara esse cenário de concorrência?
Nosso concorrente é a GloboNews. Está claro na campanha. E vou te explicar por que. Em primeiro lugar, é importante lembrar o quanto a GloboNews reage à CNN. Eu acho que isso é um ponto importante.
Pouca gente lembra que a GloboNews, antes de a CNN ser lançada, reprisava o Bom Dia Brasil às 9h da manhã. A GloboNews tinha uma programação que tinha o Estúdio i com a Maria Beltrão, que era tinha muito foco em arte, em entretenimento, no Carnaval eles levavam bateria de escola de samba para dentro do estúdio. Eles tinham a Christiane Pelajo à tarde, tinham a Leilane [Neubarth] às 18h. Essa era a programação da GloboNews, grosso modo, antes da CNN.
Depois da vinda da CNN, aos poucos isso foi sendo feito, essas substituições. Veja agora o elenco da GloboNews. Tem a Andréia Sadi no lugar da Maria Beltrão, a Julia Duailibi no lugar da Christiane Pelajo, colocaram o [César] Tralli às 18h, contrataram a Daniela Lima, vinda da CNN. Então, o perfil dos jornalistas você percebe que mudou, e o perfil do canal também. Isso tudo aconteceu depois da chegada da CNN. Então, é importante ter isso em mente, porque, às vezes, as coisas vão acontecendo e as pessoas esquecem.
A GloboNews é a nossa concorrente, e eles nos veem assim, porque eles reagem à CNN. Veja, na Guerra da Ucrânia, nós fizemos uma baita cobertura. Se não me engano, já em março de 2022, assim que os ataques começaram. Fizemos uma baita cobertura. Em alguns dias, a GloboNews trouxe o Tiago Eltz de Nova York, que fez um programa especial sobre Ucrânia. Isso é uma reação à CNN. Então, nós somos concorrentes. Nós os vemos como concorrentes, com muito respeito, e eles nos veem assim também.
Em relação aos outros canais, eu entendo, e aí acho que as pessoas vão perguntar basicamente sobre Jovem Pan. A Jovem Pan é um canal de outra natureza, tá? E aqui não tem crítica, nada. É só um canal de outra natureza. O carro-chefe da Jovem Pan é um programa que não é jornalístico, que é o Pânico. A Jovem Pan tem uma programação muito calcada em debate, opinião, polêmica. Eles não têm o perfil que a CNN tem, de ter esses jornalistas que trazem furo, informação exclusiva, bastidor. Então, se você comparar as programações e o perfil do que a gente faz, não tem como dizer que existe uma concorrência aí, porque são coisas diferentes.
É óbvio que a gente olha para tudo, para todos os concorrentes, para todos os outros canais que podem ser chamados de concorrentes. Monitora, está tudo certo, também não é uma coisa que a gente ignora, não é isso. Mas o nosso olhar está na GloboNews, e sei que o olhar da GloboNews está na gente. Contrataram a Daniela Lima não foi à toa. E já levaram outros profissionais de bastidores que trabalhavam aqui, virou mexeu ano passado tinha: 'Fulano recebeu uma proposta da GloboNews, Beltrano'... Faz parte, é do jogo, mas para você ver como tem essa essa dualidade entre GloboNews e CNN, que eu não vejo com a Jovem Pan, especificamente, porque são canais de natureza diferentes.
A campanha que vocês lançaram tem um foco muito no multiplataforma, né? Não considera só os dados da TV. É o futuro considerar que não é só o que a Kantar Ibope mede ali, de quem está com a TV ligada, mas também quem está no YouTube, quem está no Prime Vídeo, quem está lendo o site? Vocês informam em várias janelas, e isso tem que ser medido também.
Não é o futuro, é o presente. Já acontece. Não tem como não ser assim. Digo para você que, no ano 25 do século 21, a CNN Brasil é o maior canal de notícias porque olha para os números respeitando a maneira como as pessoas consomem informação.
As pessoas não ficam mais só na frente da TV, sentadas, recebendo informação. Elas estão no celular, no computador, no laptop, no iPad, no tablet. Não dá mais para medir só a TV. A TV é importante, claro, sem dúvida alguma. Mas não é só isso, e isso é a realidade, está aí, está colocada. Então, esse hábito já vem mudando faz tempo e ele já é um novo hábito.
Então, quando a gente lança um número de 80 milhões, é porque de fato as pessoas consomem a CNN pelo YouTube no celular, e a Kantar não mede isso. As pessoas consomem a CNN fora da Pay TV, na Samsung, na banda Ku, e a Kantar não mede isso 100%. As pessoas consomem a CNN nas redes sociais, os cortes de vídeo, nosso Instagram e nosso TikTok têm muito consumo. O mesmo conteúdo, às vezes algum diferente, às vezes o mesmo, que está na televisão, e a pessoa não viu necessariamente na TV, mas ela viu o conteúdo.
A Kantar não consegue pegar isso. E é porque é uma novidade, né? Eu acho que a Kantar também está se mexendo, já vi várias notícias de que eles estão buscando novos formatos, é um desafio mesmo. Mas do nosso lado aqui, nós monitoramos como nós somos consumidos, e está claríssimo que a CNN é consumida em todas as plataformas.
O site, eu não preciso nem falar. O nosso site teve um crescimento gigantesco no último ano. A gente vê a repercussão, os links compartilhados... Essa coisa de compartilhar link no WhatsApp, isso é uma forma de consumo que não é medida de uma maneira só. Então, é por isso a gente falou: "Olha, não dá mais estrategicamente para olhar só para o consumo de televisão". Também olhamos, mas precisamos olhar as outras plataformas e trabalhamos assim, porque é o presente, é uma realidade, não tem jeito.
Pegando carona nisso, vocês também cancelaram o real time da Kantar. Recebem só os números consolidados agora.
Isso.
É uma decorrência disso, de saber que a audiência é multiplataforma, não só da TV, ou também uma questão de não ficar refém dos números. "Ah, essa entrevista está indo bem, vamos estender. Ah, essa entrevista tá indo mal, corta ela no meio e dane-se o conteúdo"?
São as duas coisas. Mas eu vou te falar, eu pensei muito antes de tomar essa decisão. E é uma decisão corajosa, modéstia à parte, e um pouco "radical", entre aspas, mas eu pensei muito e decidi fazer. Foi um frisson aqui dentro. E é um cancelamento real, ninguém tem acesso. Não é que que eu tenho aqui secreto, eu fico olhando e a Redação não olha. Não é isso, ninguém tem, nós não pagamos mais esse serviço. A Kantar continua nossa parceira, com outras ferramentas e tal, que são importantes, que a gente usa para avaliar.
Mas o real time, qual foi a avaliação? Primeiro, o real time que a gente tinha aqui, para avaliar, era de Pay TV. A CNN não é mais um canal só de Pay TV. Então, aqueles dados não eram puramente reais para a gente tomar uma decisão. Falei: "Olha, acho que a gente pode tomar uma decisão errada, com base só numa métrica. Essa métrica para a gente não está funcionando mais". Então, nós tomamos essa decisão de não ter mais a audiência em tempo real.
Mas tem um outro ponto, que eu trago da minha experiência de carreira em televisão de mais de 25 anos: eu acho que as empresas de televisão ficaram viciadas no real time. Isso é uma herança dos anos 1990, aquela guerra de entretenimento, Gugu e Faustão, em que um ia para o break porque o outro tinha feito não sei o quê. Isso veio vindo, veio vindo, veio vindo, virou uma cultura das empresas mexerem em tempo real nas suas programações por causa do real time.
E eu acho que às vezes tem uma leitura muito fria de um número que não demonstra se o conteúdo é bom ou não. Então, o que eu senti aqui, depois de termos tirado o real time aqui, é que a nossa audiência se estabilizou, está estabilizada no Pay TV, cresceu nas outras plataformas, e o conteúdo melhorou muito, porque não fica aquele desespero de uma entrevista que em tese está dando audiência pelo real time, "Ela está rendendo, vamos deixar ela uma hora no ar porque está rendendo?".
No fim das contas, isso tem um resultado que pode ser imediato, mas uma entrevista de uma hora pode gerar uma percepção na pessoa de que ela está sendo usada para ser fisgada como audiência, a pessoa que eu digo é o público. Na próxima entrevista, ela vai falar: "Poxa, a CNN, ou outro canal qualquer, faz entrevista muito longa, é muito chato".
Então, quando você tira esses números, você percebe, e eu percebo isso aqui com nitidez, que o foco vai para o conteúdo. E as pessoas que produzem o conteúdo estão preocupadas em saber se aquele conteúdo é bom, se ele é relevante, se ele está realmente informando, se ele está explicativo, sem ter a contaminação de olhar se o número está bom ou não.
Eu falo aqui para todo mundo: às vezes, o número está bom e o conteúdo é ruim, e às vezes o número está ruim e o conteúdo é bom. E você tem que tomar cuidado com isso. Como tem esse vício das empresas de sempre avaliarem esse número, eu acho que isso se perde um pouco.
Então, eu decidi tomar essa decisão, faz uns seis meses ou mais, embora isso nunca tenha sido mencionado... E realmente fez uma diferença no nosso dia a dia aqui, na nossa capacidade de avaliar conteúdo de uma forma diferente, e me deixou muito satisfeito.
Você dá ao conteúdo o tempo que ele merece.
É isso! E aí, a questão da audiência, eu falo aqui para todo mundo: "Olha, no dia seguinte vai vir o resultado consolidado. A gente vai entender se a gente acertou, se a gente errou". E, se a gente errou, errou sabendo que estava apostando num bom conteúdo, pode acontecer. Mas tirar esse real time foi muito importante para a gente ter foco no conteúdo, isso é o principal.
Quando a CNN estreou, o time de âncoras era uma loucura. Monalisa, Evaristo, Gottino... Acho que eram nomes importantes para atrair o público para um canal novo.
Sim...
Hoje, a gente tem o William Waack, o Márcio Gomes, e tem muitos nomes criados pela casa. Pessoal de jornal impresso que vocês colocaram na frente das câmeras. Você citou a Daniela Lima, que tinha feito o Roda Viva, mas acho que na CNN ela ganhou outro patamar. A Elisa Veeck, que a gente conhecia de Chiquititas e que se provou um grande nome... É importante, faz parte do jogo essa renovação, vocês criaram a Daniela, e ela foi para GloboNews. A Elisa já foi procurada pelo SBT, e acabou ficando. É natural isso? Vocês criam os talentos e jogam para o mundo?
Olha, acho que essas pessoas que você mencionou, quando elas vieram para o início da CNN, obviamente teve um valor nisso, né? Mostrou o peso do canal. E cada uma delas não permaneceu por um motivo diferente, e isso está exposto aí nas coberturas que vocês fizeram ao longo do tempo.
É uma política da casa, e a chegada do João reforçou isso, e eu concordo, valorizar as pessoas que estão aqui. E transformar pessoas que às vezes não são televisivas ou prontas para o audiovisual em profissionais que possam também fazer essa plataforma. Então, esse pessoal que vem do impresso, e eu trabalhei no impresso, trabalhei na Folha e sei como a formação do impresso é importante nessa cobertura jornalística, esse pessoal que vem do impresso vem com uma pegada de jornalismo, essa que eu mencionei que é uma característica importante da CNN, do bastidor, da informação exclusiva.
Para um canal de notícias, essa formação no impresso é muito importante. Por que não pegar esse pessoal e valorizar e transformar em multiplataforma, que é o que a gente faz aqui? Se você pegar, o Iuri Pitta veio do impresso, o Fernando Nakagawa veio do impresso, a Jussara Soares, o Caio Junqueira, a Luísa Martins... Muita gente veio do impresso, e tivemos outros que vieram de outros veículos, a Basília Rodrigues veio de rádio, e outros que já estavam em televisão e têm esse perfil.
Então, tem essa política que eu ia mencionar que o João reforçou aqui que é de valorizar as pratas da casa. Se você pegar hoje, a Carol Nogueira tinha uma carreira legal na BandNews, ótimo, mas ela também ganhou uma projeção na CNN e nós valorizamos a Carol. A Elisa você já mencionou, ela tinha uma carreira e estava apresentando jornal em alguma afiliada da Globo no interior de São Paulo [Rede Vanguarda], veio para cá e nós valorizamos. O Gustavo Uribe veio do impresso, a Tainá Falcão veio da Record, era repórter, está como âncora. A Débora Bergamasco era bem focada em televisão, mas tinha trabalhado no impresso na IstoÉ. O Leandro Magalhães já era de televisão, mas também ganhou projeção na CNN. E aí temos o Márcio [Gomes], que dispensa explicações, e o [William] Waack, que é o nosso decano e é nosso grande mestre aqui para todo mundo. Então, tem esse mix, que eu acho que ficou bem interessante.
E nós queremos, sim, valorizar a prata da casa. A CNN não precisa fazer contratações estratosféricas para chamar a atenção, a gente precisa de prata da casa, que sabe como a empresa funciona, sabe trabalhar na nossa linha editorial, do equilíbrio, e nós vamos valorizar cada vez mais isso.
Eu acho a estratégia de um canal que está completando cinco anos já ter lançado um spin-off, vamos dizer assim, que é o Money, muito corajosa e muito importante para o mercado brasileiro. Está aí no ar a possibilidade da CNN Sports.
Isso.
É um projeto realmente, ou é um plano, uma vontade? Existe a vontade de lançar mais derivados, transformar o CNN Soft num canal à parte também? Como é que vocês veem isso?
É, eu até falei isso aqui num discurso que eu fiz para a Redação no final do ano, que eu faço todo ano, e falei do CNN Sports mesmo, porque é uma ideia, mas é uma ideia. Acho que uma característica boa dessa gestão da CNN é que a gente não faz nada sem pesar bastante as consequências.
Então, o CNN Money foi muito bem pensado e pesado. E por mais que as pessoas falem "olha, colocaram no ar às pressas", não foi isso, a gente já vinha com essa ideia há bastante tempo. E ela foi consolidada porque nós sentimos que era o momento, do ponto de vista de negócio, fazia sentido.
E o esporte é uma das possibilidades, mas também está nessa fase de avaliação. Assim como outras ideias que estão na mesa de novos spin-offs, já que você está chamando assim, que não necessariamente precisam ser novos canais de televisão, né? Podem ser outras plataformas.
Tem muitas ideias na mesa. A gente está fazendo um trabalho de avaliação, até tive uma reunião na quarta [12] para entender qual vai ser a prioridade. Para a gente também não querer abraçar o mundo e fazer um monte de coisa ao mesmo tempo, não faz muito sentido. Então a gente está tentando ver qual é o próximo passo que nós vamos avançar.
Para encerrar, cinco anos de CNN Brasil, ela já é um sucesso. Como você quer ver a CNN daqui a cinco anos, quando estiver completando dez?
Olha, eu acho... Aliás, eu acho, não, eu passo todos os dias pensando numa consolidação da CNN. Quando você atinge um objetivo, e eu acho que esses números que a gente mostrou essa semana são um objetivo atingido, evidentemente você quer pelo menos mantê-los, né? Manter esse objetivo alcançado. Então, acho que deu esse tique assim, "Ok, temos a CNN".
Eu vejo a CNN daqui a cinco anos como um ecossistema ainda maior. Em outras plataformas, com conteúdo mais abrangente. Eu vejo a CNN cobrindo com força outros tipos de conteúdo, que até hoje a gente não cobre. O esporte pode ser um deles, a gente cobre menor.
Respondendo objetivamente à sua pergunta, eu acho que a CNN tem uma tendência a crescer para cobrir outros conteúdos, para abordar outros conteúdos de forma mais estruturada. A gente fez uma cobertura do Oscar durante a premiação que foi sintomática disso. Só recebi elogio espontâneo, eu não perguntei para ninguém, era Carnaval, eu mesmo não estava aqui, acompanhei à distância. Óbvio, acompanhei toda a preparação e falei: "Gente, agora é com vocês, eu vou acompanhar de longe".
Assisti como telespectador, tentei olhar com um exercício que eu faço que é: "Deixa eu assistir isso aqui como se eu fosse um telespectador, não como se eu fosse o VP da área para ver se faz sentido". E gostei muito, recebi muitos elogios, os resultados foram ótimos. E acho que esse é um caminho, soou um pouco estranho para algumas pessoas, no bom sentido, de tipo: "Opa, isso aqui é diferente, a CNN não fazia, nunca fez". E essa estranheza foi positiva.
Então, eu acho que o caminho da CNN de expansão, e esse com certeza é o caminho para daqui a cinco anos, é basicamente outras plataformas e novos conteúdos.
Aproveitando que você falou da questão de se desligar e assistir só como espectador, é fácil para você virar essa chavinha? Porque eu fico pensando, só na CNN são 18 horas ao vivo. Aí tem CNN Money com mais 12. Você tem que coordenar tudo, ao mesmo tempo que está acompanhando o ao vivo, vendo o que está no ar, tem que pensar no planejamento do que vem por aí, tem que coordenar a equipe...
Ver o que está no site, ver o que está em produção, reunião. Estou dando entrevista aqui para você, não estou assistindo...
Dá para ter vida social? Aliás, dá para ter vida?
Dá! E sabe por que dá? Pelo seguinte, não existe um trabalho individual aqui. Não sou eu, né? Eu sou o líder, mas existe uma equipe trabalhando e na qual eu confio muito. Eu acho que isso é o que me permite viver também, né? Me permite não só viver, mas fazer outras coisas aqui dentro. Eu passo o dia às vezes em reunião e realmente chego no fim do dia e falo: "Cara, eu preciso saber o que aconteceu hoje" (risos). Entendeu?
Qual é a vantagem de fazer as reuniões aqui dentro? A TV está aqui ligada, eu estou de olho, eu estou vendo aqui o Money, estou vendo o que está acontecendo na CNN, estou vendo o que está ali na Globo News. Às vezes, eu entro no site, meu celular pisca push o tempo todo. Então, eu não fico totalmente desconectado.
Mas tem dias que eu passo aqui em reunião e eu, obviamente, não estou assistindo aos canais, não estou vendo nem um nem outro. Então chega num horário que eu falo: "Eu preciso entender o que tá acontecendo". Mas eu tenho certeza, certeza absoluta, de que enquanto eu estou fazendo outra coisa, tem uma equipe aqui muito bem estruturada, trabalhando. E não é uma equipe que está só monitorando, é todo mundo que está produzindo, eu já tenho confiança de que vai fazer do jeito que nós propomos da forma editorial e de qualidade de conteúdo. Eu sei que os produtores, os redatores, os editores, os âncoras, os chefes de redação, todo mundo está alinhado.
Então, eu não preciso ficar o tempo todo acompanhando tudo, porque eu sei que está todo mundo alinhado. Pode acontecer um problema ou outro? Sempre vai acontecer. Mas o que me permite virar essa chave de não estar o tempo todo obcecado para ver o que está acontecendo é a confiança que eu tenho no time.
Enquanto eu estou fazendo isso, ou quando eu estou tendo a vida social que você perguntou: "Virgilio, você desconecta 100%, em algum momento?". Nunca, é impossível. Na função que eu executo, num canal com essas características, é impossível. Se eu estou de férias, eu estou acompanhando as notícias. O que muda, por exemplo, quando eu saio de férias? Aconteceu no fim do ano. Eu aviso o meu chefe, falo: "João, só para você saber, a gente alinhou as férias, e eu vou sair". E ele só fala: "Vai, aproveita".
E às vezes acontece mesmo de eu entrar num lugar aqui que não tem internet, vou ficar fora, mas o Giva [Givanildo Menezes], que é o diretor de Jornalismo está aí aos postos, o Daniel [Rittner, diretor editorial]. Nesses períodos, eu consigo desconectar, porque não tem cobertura de internet. Basicamente é isso. Mas no restante, eu estou sempre acompanhando as notícias, e aí não é nem por obrigação; eu sou jornalista, eu gosto de notícia, então eu não consigo. É inevitável, não tem jeito. Mas eu consigo não me estressar num nível que me enlouqueça. Basicamente, eu tenho muita confiança no time, e eu acho que essa confiança me permite tocar as outras coisas.
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