Série revive tragédia de Jean Charles com olhar humano e elenco brasileiro

Quase 20 anos depois, a tragédia que aconteceu com Jean Charles Menezes (1978-2005) ganha uma tentativa de reconstrução da verdade por meio de uma série no Disney+. O brasileiro, morto por engano pela polícia britânica, terá sua história reconstituída em quatro episódios que chegam ao streaming em 30 de abril, a partir de pontos de vista nunca antes abordados, como o da família e o da própria polícia.

Criada por Jeff Pope, roteirista e produtor indicado ao Oscar por Philomena (2013), a minissérie britânica une elenco internacional e brasileiro, e não se limita ao fato: os capítulos mergulham na vida de Jean Charles e, sobretudo, no impacto de sua morte em quem ficou. 

Um dos personagens centrais da trama é Patrícia da Silva Armani, prima do imigrante, interpretada pela brasileira radicada em Londres Juliana Kilburn.

Figura essencial na luta por justiça, Patrícia tornou-se um verdadeiro pilar de resistência. Foi ela quem encarou jornalistas, autoridades e audiências, lutando para que o nome do primo não fosse apagado nem distorcido.

"Patrícia é a mulher que não parou. Enquanto o mundo seguia, ela ia para tribunais, falava com a imprensa, enfrentava o que ninguém queria encarar. Tive que encontrar nela uma força que também me transformou", conta Juliana ao Notícias da TV.

"Ela não é só a prima do Jean Charles. Ela é uma mulher que decidiu não se calar. Que transformou a tragédia em luta", complementa.

Além de uma extensa pesquisa e um certo mergulho emocional, a brasileira teve a oportunidade de conhecer os membros da família de Jean e entender mais de perto o que eles realmente viveram.

"Assim que fui selecionada, tivemos uma conversa com a produção sobre a possibilidade de contato com a família. O diretor me perguntou se eu gostaria de me conectar com a Patrícia, e eu disse que sim", revela.

"Tivemos um encontro com a família --conheci a Vivian [Figueiredo, prima de Jean], a Alessandra [Oliveira, jornalista da BBC que cobriu o caso] e a própria Patrícia. Foi uma conversa muito honesta, e sou muito grata por terem sido tão abertas. Isso foi essencial para interpretar a Patrícia real, a brasileira que se mudou para Londres, e não apenas a imagem midiática dela", analisa.

REPRODUÇÃO/DISNEY+

Segundo Juliana, a série foge do sensacionalismo para falar sobre os vazios deixados pelo assassinato, a dor, a indignação e o luto que atravessa fronteiras.

"O que mais me marcou foi perceber que essa história não é só sobre Jean Charles. É sobre o direito de existir. Sobre como um corpo latino, mesmo em um país democrático, pode ser alvo só por estar no lugar errado com o rosto errado", diz ela.

Para a atriz, é importante que o público tire da série um senso de verdade e justiça. "Diferentes públicos vão enxergar de formas diferentes --o Brasil de um jeito, a Inglaterra de outro. Espero que os brasileiros se sintam mais vistos, que consigam vocalizar as injustiças. E que os britânicos vejam a realidade do caso, sem as distorções da mídia na época. A essência da série é trazer a verdade, e espero que isso seja captado", declara.

"É importante que assistam também pela justiça --uma justiça que ainda não foi sentida por muita gente, mesmo 20 anos depois. A série é leal ao que aconteceu, traz perspectivas novas e informações que o público precisa conhecer. Isso pode finalmente trazer o senso de justiça que tantas pessoas ainda carregam no peito", finaliza.

Assista ao trailer oficial da minissérie, que estreia em 30 de abril: