Malandro carismático e casal sem sal: O que deu certo e errado em Volta por Cima?

Volta por Cima chega ao fim neste sábado (26), depois de sete meses na programação diária da Globo. A novela das sete conseguiu levantar a audiência da faixa horária e conquistar o público com o casal principal, o núcleo da contravenção e questões sociais, mas teve também vários personagens e tramas sem muita graça.

A novela contou com pontos altos, como atuações excelentes, tanto de atores veteranos e astros da Globo quanto de profissionais estreantes na teledramaturgia da emissora.

Ao mesmo tempo, a trama de Volta por Cima acabou por privilegiar alguns personagens em detrimento de outros. Houve gente mal aproveitada ao longo dos capítulos.

Relembre aspectos que funcionaram bem e outros que nem tanto em Volta por Cima:

Ótimas atuações

Volta por Cima se destacou muito por atuações individuais que levantaram a novela. Milhem Cortaz desbancou o casal protagonista e interpretou o melhor personagem da trama.

Osmar foi um malandro carismático, cheio de nuances e camadas, um anti-herói raro de se ver numa novela. O ator fez um ótimo trabalho e conquistou o carinho do público, merecidamente.

Isadora Cruz também brilhou como Roxelle, personagem um tanto histriônica, mas com narrativa interessante. Ela começou como amante de Chico (Amaury Lorenzo), mas logo se desvencilhou dele.

A autora e seus coautores fizeram o bom movimento de não deixar a personagem presa a uma trama de romance falido, mas sim fazê-la circular por diferentes núcleos, ter cenas de humor, de pegação, de musa do Carnaval, de drama e até de terror nas mãos de Gerson (Enrique Diaz). Roxelle teve uma boa evolução, numa trajetória sinuosa e curiosa de se acompanhar.

Destaque também para Pri Helena, que teve seu primeiro papel fixo no elenco de uma novela e mandou muito bem na pele de Cacá, vilã obcecada por Jão (Fabrício Boliveira), capaz de cometer atrocidades contra Madalena (Jéssica Ellen) e que teve redenção dramática no final. O núcleo Gois de Macedo, com Betty Faria, Fabio Lago, Drica Moraes e Rodrigo Fagundes também foi impecável.

Contravenção lúdica e pautas sociais

Volta por Cima explorou bem o universo da contravenção, muito presente no Rio de Janeiro por meio do jogo do bicho e por máquinas caça-níqueis, por exemplo.

Ainda que este mundo do crime seja bastante violento e terrível, a novela das sete conseguiu adaptá-lo de maneira adequada ao horário e até lúdica. As máquinas caça-níqueis, por exemplo, foram substituídas por máquinas de bicho de pelúcia na trama.

Numa manobra inusitada, os autores levaram para a ficção as referências reais da série documental Vale o Escrito - A Guerra do Jogo do Bicho (2023), sucesso do Globoplay que retratou as disputas entre contraventores do jogo do bicho no Rio. Na novela, o foco ficou mais nos conflitos dessas pessoas em suas relações pessoais, sem pesar muito em tramas policiais ou questões judiciais enfadonhas, o que foi um acerto.

Volta por Cima também investiu em pautas sociais pertinentes à realidade brasileira atual, como o racismo enfrentado por Jão na Viação Estelar (com a diferença de salários entre negros e brancos) e a questão de o personagem ter tido pai ausente e recebido posteriormente o reconhecimento da paternidade por Edson (Ailton Graça). A novela ainda explorou bem questões relacionadas à masculinidade, algo importante de se abordar.

Reviravoltas interessantes

A trama caminhou bem sem ter barrigas muito claras --ou seja, momentos da história em que nada acontece, só tramas desinteressantes para passar o tempo.

Volta por Cima apresentou boas viradas, principalmente nas histórias de Osmar, Violeta (Isabel Teixeira) e Cacá. A novela não foi monótona e manteve ritmo bom ao longo de todo o tempo no ar.

Casal sem sal

Cida (Juliana Alves) e Sidney (Adanilo), os melhores amigos de Madalena e Jão, respectivamente, formaram um casal, mas nada ali tinha graça. Nem o relacionamento deles nem as tramas pessoais de cada um (isso quando existiam). Eles se casaram na reta final, mas seguiram como o par mais sem sal e sem química da trama.

Por outro lado, o casal Gigi e Bernardo (Bruno Fagundes) agradou e teve torcida do público, mas demorou demais para acontecer. Os dois tiveram desencontros um tanto enrolados e infundados e só se beijaram nos últimos capítulos. O casal gay poderia ter tido mais espaço na novela.

Personagens apagados

Vários personagens coadjuvantes ficaram um tanto apagados na trama, principalmente no núcleo da Viação Formosa. Vanilda (Mari Aldeia) praticamente não teve função, e Beth (Bia Guedes) teve apenas as funções de fazer uma ou outra fofoca e reclamar de sua vida amorosa fracassada.

Rique (Marcio Machado) e Rosana (Viviane Araujo) também poderiam ter tido mais destaque e histórias mais interessantes, assim como Silvia (Lellê). A personagem foi aproveitada apenas para empurrar Gigi para cima de Bernardo, para ficar com Jão e descobrir que ele ainda amava Madalena, e para falar sobre a questão dos anabolizantes.

Trama coreana mal explorada

Incluir os fenômenos de k-pop e k-drama numa novela brasileira foi uma iniciativa interessante e curiosa, mas na prática houve problemas. Primeiro com o mistério em relação a Jin (Allan Jeon) ser ou não o idol de Tati (Bia Santana).

Depois, houve o surgimento de Hana (Sharon Cho), as ameaças irritantes dela e a doença misteriosa da garota. Só na reta final da novela surgiram os pais de Jin, que pareceram ser os principais antagonistas do rapaz. De forma geral, foi uma história truncada, e as atuações neste núcleo deixaram a desejar.

Leia também -> Resumo dos próximos capítulos da novela Volta por Cima.

Volta por Cima é escrita por Claudia Souto, com colaboração de Wendell Bendelack, Julia Laks, Isadora Wilkinson e Juliana Peres. A direção artística é de André Câmara, e a direção-geral de Caetano Caruso.

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