Análise
Antonio Chahestian/TV Record
Fabio Porchat durante sua apresentação como novo contratado da Record, ontem (29)
DANIEL CASTRO
Publicado em 1/3/2016 - 6h15
Fabio Porchat dava entrevistas ontem (29), logo após ser apresentando como novo contratado da Record, dizendo que terá total liberdade, que poderá fazer anedota da Igreja Universal e entrevistar líderes católicos. Piada pronta. Há um ano, Xuxa também chegou à Record dizendo que teria total liberdade. Como se sabe, desde outubro seu programa é gravado para que ela não fale bobagens no ar e não constranja os bispos da Universal. Em 2009, Gugu Liberato também disse que poderia levar o padre Marcelo Rossi ao seu cenário. Isso nunca aconteceu.
Porchat é humorista, vive de fazer piadas. Foi contratado para comandar um talk show, formato em que terá que fazer entrevistas e... piadas. Ele poderá até fazer uma ou outra gracinha sobre a Igreja Universal, mas logo terá suas asas cortadas. Quem manda na Record é o bispo Edir Macedo, líder da Universal. Humor não é o forte de Macedo, principalmente quando sua fé é confrontada.
Fabio Porchat é uma bomba-relógio na Record. Essa bomba vai explodir no momento em que ele, à frente de um programa essencialmente opinativo, revelar sua principal bandeira política: a defesa de um Estado laico. Ateu, Porchat é contrário à ocupação de cargos públicos por bispos, pastores, padres, pais-de-santo, enfim, por religiosos. Seu princípio bate de frente com o grande projeto da Igreja Universal, que é alcançar o poder, tanto que ela comanda um partido político, o PRB. O novo contratado da Record, por princípio, não admite que Marcelo Crivella, bispo da Universal e sobrinho de Macedo, seja senador da República.
Quem acompanha Porchat pelas redes sociais ou lê sua coluna no jornal O Estado de S.Paulo sabe disso. No Facebook, na semana passada, ele divulgou uma petição online "pelo fim das candidaturas de líderes religiosos para cargos políticos ou públicos", porque "uma bancada, com clara intenção de instaurar uma teocracia no país, vem sorrateiramente se infiltrando em todas as instâncias de poder".
No Estadão do último dia 21, Porchat foi contundente na defesa da laicidade do Estado. "O futuro de um país laico não pode depender das decisões de um cidadão não laico. Você pode crer no que você quiser, mas a partir do momento em que prega 'a palavra', digamos assim, está dizendo ao mundo que sua vida é regida por aquela crença, logo, você não consegue separar uma coisa da outra", escreveu. "Não poderíamos ter no governo alguém com título religioso, porque essa pessoa, antes de me defender, defenderia a sua crença, ou os praticantes daquela crença", acrescentou.
A opinião de Porchat é bem estruturada, tem fundamentos filosóficos profundos. "A religião é uma trava para muitas conversas que precisamos ter para evoluirmos como sociedade. Se alguns querem ficar presos a um livro escrito há quase dois mil anos, que fiquem, mas não me arrastem junto. Alguns dirão que evangélicos, judeus, católicos, enfim, também precisam de alguém que defenda seus direitos. Discordo. Antes de ser umbandista, muçulmano ou espírita, você é uma pessoa, portanto precisa de alguém que defenda o direito das pessoas. Independentemente de sua fé".
Porchat, logo em seu primeiro dia de Record, já demonstrou que será difícil de ser domado. Disse que que, se tudo der errado, ela paga a multa rescisória e vai embora, como fez José Luiz Datena em 2011, mas que não será um Britto Jr., preso a um contrato que permite que a emissora o tire do ar quando bem entender. Constrangido, o vice-presidente artístico da Record, bispo Marcelo Silva, teve que, diante dos jornalistas, afirmar que a fala de Porchat não era a fala da Record.
Anota aí: o bispo terá que dizer isso mais vezes.
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