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MANHÃS DE SETEMBRO

Prime Video desafia 'família tradicional' em drama nacional com mãe trans

FOTOS: DIVULGAÇÃO/PRIME VIDEO

Cassandra (Liniker) no lado com fisionomia séria olha para uma pessoa desfocada no lado direito em cena da série Manhãs de Setembro

Cassandra (Liniker) em cena de Manhãs de Setembro; série estreia nesta sexta-feira (25)

LUÍS FELIPE SOARES

luis@noticiasdatv.com

Publicado em 25/6/2021 - 6h25

O drama nacional Manhãs de Setembro entra nesta sexta-feira (25) no catálogo do Prime Video para desafiar o conceito de "família tradicional" e quebrar estereótipos. Seu trunfo é a protagonista, uma mulher trans negra que vê sua vida virar do avesso quando descobre que teve um filho no passado, antes de sua readequação de gênero. 

A estrela do projeto é a cantora Liniker. Ela havia estudado atuação no passado e se revelou como potência musical anos depois. No projeto do streaming, faz sua estreia em uma grande produção.

"Ter uma protagonista preta e trans nesse momento obscuro em que vivemos também tem sua importância como resistência e contracultura. É uma série que atravessa a discussão sobre os preconceitos. Falamos de formação de família, de amor, de dificuldades do dia a dia de um indivíduo comum. Isso já nos passa um pouco a sensação de que estamos mais à frente do que vivemos", explica o diretor Luis Pinheiro, de A Garota da Moto.

Na trama, Cassandra (Liniker) atravessa um ótimo momento na vida: está com trabalho fixo como motogirl em São Paulo, finalmente consegue pagar uma moradia sozinha e tem um namorado apaixonado por ela. Em paralelo, mantém uma carreira modesta como cantora, apresentando covers da cantora Vanusa (1947-2020) em uma boate.

"Acho que há muitos recortes da comunidade em que vivemos nos quais somos desassociados de nossa família de sangue e formamos pequenas famílias com pessoas próximas. Ela [Cassandra] tem um lugar seguro para ser acolhida, trocar ideias, falar um pouco das questões pessoais. Poder criar esse afeto e mostrar isso na TV, mesmo em um mundo lá fora que é oco, é muito importante", diz a cantora sobre a humanização da personagem.

No primeiro dia em sua quitinete, ela recebe a visita de Leide (Karine Teles, de Bacurau), com quem teve um caso no passado. A novidade é a existência de Gersinho (Gustavo Coelho), que a antiga conhecida diz ser seu filho. A dupla vive em um carro no Centro e ganha dinheiro com vendas de pequenos produtos e salgadinhos, com o apartamento simples de Cassandra sendo um luxo para eles, por ter uma cama e um chuveiro quente, por exemplo.

Karine Teles e Gustavo Coelho na série

A história mostra como essa movimentação dos recém-chegados transforma o mundo da personagem principal. Cassandra não sabia da existência do menino e pretende deixá-lo o mais longe possível de sua realidade. O garoto representa um impacto que parece errado na hora certa, e as pilantragens de Leide ao abusar da ajuda forçada só complicam ainda mais a situação.

O teor dramático ganha força na diferença das perspectivas de Cassandra e Gersinho. Enquanto a primeira enxerga no recém-chegado um obstáculo para o melhor momento de sua vida, o segundo tenta entender a dinâmica de ter um novo adulto importante em seu caminho --não há uma esperança de família, apenas o vislumbre de melhora na sua realidade. É a interação entre eles que dá energia para que a série chame a atenção.

Segundo a roteirista Josefina Trotta (Amigo de Aluguel), um de seus objetivos era observar os problemas sob um ponto de vista especial. "Uma forma de evitar o clichê foi nos colocar nos sapatos de Cassandra na hora de enfrentar o conflito principal. Os medos de criar uma criança, de desenvolver um vínculo amoroso e tantas outras coisas. Pensamos nesse sentido e a Alice [Marcone, roteirista trans] deu o norte para os pensamentos de Cassandra por meio de sua vivência", comenta a argentina, que assina o texto na companhia dos brasileiros Marcelo Montenegro (Lili, a Ex) e Alice Marcone (Born to Fashion).

"Mesmo eu, como pessoa trans e que vive no meio, preciso pesquisar e ir atrás de mais informações. É um lugar interessante poder mergulhar na construção dessa personagem e tratar com muito cuidado por causa dessa realidade única. O que acontece em produtos audiovisuais é resumir a motivação dramática em torno dessa identidade, além de muitas vezes mostrá-la por uma via trágica", critica Alice.

A atração utiliza o talento musical de Liniker a favor da trama. A protagonista não é apenas uma cantora para ter uma segunda vida atraente para o público. Os momentos no palco refletem os desejos internos da personagem, que se refletem por meio das canções, e as letras devem ser ouvidas e pesquisadas posteriormente. Até mesmo a insistência no repertório exclusivo de Vanusa mostra o quanto ela é focada em seu sonho de ter uma vida digna como uma mulher trans, com os pedidos para cantar Anitta e Pabllo Vittar sendo ignorados em prol de sua jornada pessoal.

Outro detalhe que promete agitar Manhãs de Setembro é a relação de Cassandra com mulheres do passado. Vanusa é a musa inspiradora pessoal e profissional. Algumas conversas internas entre elas (mas não com a voz verdadeira da cantora) aparecem em reflexões sobre erros e acertos vividos.

Uma ferida mais profunda envolve a mãe da protagonista. Lembrada em foto e nas perguntas de Gersinho, ela surge como peça-chave para certos motivos da dura conexão entre os familiares que acabaram de se conhecer, com o presente repetindo o passado entre aceitações e negações.

Em seu primeiro trabalho como atriz, Liniker aposta em um tom neutro para dar vida à protagonista. É difícil apontar grandes cenas para se lembrar de sua atuação, com uma naturalidade que não deixa muito espaço para erros. Assim como diz a letra da canção que dá nome à série, lançada nos anos 1970, a personagem é alguém que se fechou e se guardou ao mesmo tempo em que deseja falar e sair dessa situação ruim de anos. 

"Nunca tinha feito nada importante [em atuação]. É muito doido se entender dentro de um projeto em que há responsáveis para cada área e perceber que a série não acontece sozinha. Tinha a ideia no meio de um processo musical, mas ver isso de outra perspectiva me enriqueceu, ampliou meu entendimento profissional", avalia Liniker.

Alguns coadjuvantes se sobressaem nos episódios, casos de Leide e Aristides (Gero Camilo, de Irmãos Freitas), este último em casal com Décio (Paulo Miklos). Nomes como Thomas Aquino, Clodd Dias, Isabela Ordoñez e Linn da Quebrada também aparecem.

A primeira temporada conta com cinco episódios, cada um com cerca de 30 de minutos de duração. Confira o trailer de Manhãs de Setembro:


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