'Poderia ser minha filha': Sandro Guerra vive dor do tráfico humano em Pssica

A realidade brutal do tráfico humano mobilizou o ator Sandro Guerra em Pssica, minissérie brasileira da Netflix que estreia nesta quarta-feira (20). E a produção também espera afetar o público da plataforma de streaming. Aos 58 anos e com 41 de carreira, Guerra interpreta Amadeu, um policial aposentado que se vê diante de um drama que pode atingir qualquer família.

A minissérie dirigida por Quico Meirelles e Fernando Meirelles tem como ponto de partida histórias que se cruzam nos rios da Amazônia. Entre elas, está a de Janalice (Domithila Cattete), jovem raptada pelo tráfico humano; Preá (Lucas Galvino), chefe de uma gangue que domina a região; e Mariangel (Marleyda Soto), movida pela vingança após perder a família.

"Era muito doloroso perceber aquela realidade. É muito doloroso saber que agora, no plano da realidade, existe uma 'Janalice' passando por aquilo e que ela poderia ser minha irmã, minha filha, minha neta, uma amiga... Enfim. É complicado", desabafa o ator em conversa com o Notícias da TV.

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Sandro Guerra descreve seu personagem como um homem sério, solitário e incorruptível, que acredita inicialmente que Janalice apenas fugiu de casa. O processo de construção do personagem foi acompanhado pela preparadora Fátima Toledo, de obras como Tropa de Elite (2007), que ajudou o ator a encontrar a essência do ex-policial.

"Amadeu é um bom homem, um homem de bom coração, e eu penso que ultimamente temos nos apercebido pouco do quanto é importante ter um bom coração. Parece que ter bom coração virou coisa fora de moda. Precisamos reafirmar os bons sentimentos", reflete o ator.

As gravações aconteceram em Belém e na Ilha do Marajó, em palafitas, barcos e comunidades ribeirinhas. A experiência foi transformadora para o ator, que nunca havia trabalhado tão imerso nesse cenário.

"Belém meio que se transforma numa personagem também. Amadeu está dentro dela, correndo de um lado pro outro em sua busca, mas, às vezes, eu tinha a sensação de que a cidade estava me olhando o tempo inteiro, me espreitando e até brincando de gato e rato comigo", lembra.

Para ele, dar vida a Amadeu também significou assumir a responsabilidade de provocar discussões urgentes por meio da arte. Mesmo com uma bagagem extensa, que inclui títulos como Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) e a série Cangaço Novo, Sandro encara cada papel como um novo recomeço.

"Tudo nos desafia em um set. Não importa se você tem um ou 50 anos de experiência. Todo novo personagem é um novo ser, um novo processo, um novo desafio. E não existem fórmulas, a gente sempre vai recomeçar do zero."

Além de Pssica, o recifense acaba de rodar Geni e o Zepelim, novo longa de Anna Muylaert inspirado na canção de Chico Buarque. No filme, divide cena com Ayla Gabriela e Seu Jorge, interpretando o pai da protagonista. Mas, por ora, é Amadeu quem ocupa seus pensamentos, e as dores que o personagem carrega ecoam para além da ficção.

"[O tráfico humano] É um tema horripilante. Imaginar um ser humano sendo traficado, e ainda mais para ser feito de escravo sexual? É algo que me causa uma dor e um asco que nem consigo descrever. E imaginar que essa é uma realidade de cidades grandes no Brasil, como Belém e tantas outras, chega a ser aterrador", aponta.

Hoje é o Amadeu, o Chicão [de Geni e o Zepelim]. Amanhã será outro e depois outro e depois outro e, no final das contas, cada um guarda em si um universo completamente diferente.

Pssica é uma adaptação do livro homônimo do escritor paraense Edyr Augusto. O nome da série faz alusão à "maldição" que recai sobre os personagens. A minissérie conta com quatro episódios.

O elenco de Pssica também inclui nomes como David Santos, Welket Bungué, Ademara, Bruno Goya, Maycon Douglas, Luca Dan, Claudio Jaborandy, Ricardo Teodoro, Felipe Rocha, Wesley Guimarães, Gabriel Knoxx, Ana Luiza Rios e Sendí Baré. Assista ao trailer da produção brasileira: