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30 ANOS DEPOIS

Friends: Com piadas problemáticas, série seria cancelada nas redes sociais

DIVULGAÇÃO/NBC

Elenco de Friends

Friends faz 30 anos; apesar de queridinha do público, série envelheceu mal em alguns aspectos

GIULIANNA MUNERATTO

giulianna@noticiasdatv.com

Publicado em 22/9/2024 - 20h00

Friends (1994-2004) completa 30 anos neste domingo (22) e se consagrou como uma das maiores séries das últimas décadas. Entretanto, a sitcom que seguia a vida de seis amigos em Nova York funcionou muito bem para o fim dos anos 1990 e o começo dos anos 2000, mas talvez não fizesse tanto sucesso se tivesse sido lançada nos dias de hoje. O problema? A trama envelheceu mal, com piadas duvidosas e graves questões estruturais.

Há alguns anos, a série queridinha de muitos começou a ser atacada por algo que não era tão amplamente discutido na época de sua criação: a falta de pessoas negras no elenco. Para além da identidade racial, a série apresentava uma visível falta de diversidade.

Seis amigos brancos e heterossexuais não atraíam experiências, nuances e aprofundamentos tão diferentes quanto se a série tivesse se proposto a dar chance a um grupo mais diverso de pessoas.

Ainda que tenha trazido à tona temas que eram tabus e dado visibilidade a personagens LGBTQIA+, Friends fez isso de maneira rasa, e ainda usando o alívio cômico como muleta.

Em comparação, na mesma época foi lançada a série Living Single (1993-1998), pouquíssimo lembrada pelo público. Tratava-se de um grupo de seis amigos negros vivendo a vida também em Nova York.

No entanto, os telespectadores abraçaram com muito mais facilidade a trama de Rachel (Jennifer Aniston), Monica (Courteney Cox), Phoebe (Lisa Kudrow), Ross (David Schwimmer), Chandler (Matthew Perry) e Joey (Matt LeBlanc).

O mulherengo Joey

Na época em que Friends fez sucesso, o personagem de Matt LeBlanc era um dos mais queridos. Joey, apesar de fofo, tinha uma maneira machista de tratar mulheres. Para o galã, a grande maioria delas não passava de um objeto de desejo, e era fácil para ele descartar seus relacionamentos.

O garanhão fazia uso de cantadas que não cairiam tão bem atualmente --e seu famoso "how you doin'?" certamente não se popularizaria tanto.

Fat Monica

Um tema muito recorrente em Friends também é a gordofobia. Quando jovem, Monica era gorda, e muito provavelmente tinha distúrbios alimentares. As piadas com o peso da personagem eram constantes, e ela era diminuída e desvalorizada constantemente.

Chandler, inclusive, só notou a beleza de Monica depois que ela emagreceu. O personagem nunca quis saber da chef de cozinha antes da perda de peso.

O pai trans de Chandler

O personagem de Matthew Perry (1969-2023) sempre teve muita vergonha de seu pai, porque era uma mulher trans que fazia shows em Las Vegas. Ele chegou a pensar em nem convidá-la para seu casamento por conta da identidade de gênero da parente.

A série tinha nas mãos uma questão que poderia ter sido abordada com delicadeza, mas preferiu passar uma visão preconceituosa sobre pessoas trans. Para piorar, escalou uma atriz cis, Kathleen Turner, famosa por sua voz grossa e altura, para viver a personagem.

Ross: possessivo e inseguro

Ross tem uma postura bem controversa em Friends. Ao longo dos anos, os fãs da série conseguiram enxergar que seus equívocos fariam com que ele, de fato, entrasse para uma lista de cancelados rapidamente.

Ele nunca apoiou os empregos de Rachel, chegou a constrangê-la no trabalho, interferiu em seus relacionamentos até quando os dois não estavam mais juntos e, por anos, se fez de Capitu com Bentinho quando quis reverter a situação da traição enquanto eles estavam dando um tempo --com regras nada bem estabelecidas, aparentemente.

O paleontólogo também não quis que seu filho brincasse com uma boneca Barbie e ainda foi um péssimo namorado ao fazer Rachel escolher entre o emprego dos sonhos em Paris e ele.

Visão anacrônica

É importante colocar em perspectiva que muitas das questões de Friends não eram discutidas com amplitude quando a série foi criada. Não há nenhum problema em gostar da trama e ser apaixonado por seus personagens --mas é importante ter um olhar crítico para entender que, não, a série não é perfeita. E tudo bem.

Os avanços nesses 30 anos desde que a trama foi criada foram muitos: atualmente, a diversidade tem sido muito mais celebrada, há séries aclamadas com pessoas LGBTQIA+, negras e/ou com deficiência em destaque. Mas ainda há um longo caminho a percorrer para que obras audiovisuais assim cheguem no mesmo patamar de prestígio de Friends.


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