Como um ator brasileiro foi parar no meio de um episódio de Grey’s Anatomy

Eduardo Muniz lembra bem do dia em que recebeu a confirmação de que estaria em Grey’s Anatomy. Na segunda-feira chegou a notícia da aprovação, e na terça ele já estava no set da série médica mais longeva da televisão norte-americana. O personagem o colocou diante de uma cena "complicadíssima", com cerca de 200 pessoas envolvidas, entre técnicos, figurantes e atores.

O ator, que vive nos Estados Unidos desde 2011 com a esposa, a também atriz Bia Borinn, conta que ainda se adapta ao mercado internacional, mesmo após tantos anos. Ele admite sentir falta dos testes presenciais, de olhar nos olhos do diretor e trocar conversa nos corredores dos estúdios. "Era bom sair de casa, dar bom dia, jogar conversa fora", lembra ele, em entrevista ao Notícias da TV. Por outro lado, não sente saudade das horas perdidas no trânsito pesado de Los Angeles para filmar apenas alguns minutos.

Apesar da crise que atinge Hollywood, Muniz destaca que o volume de produções continua impressionante. Muitas delas, no entanto, têm sido gravadas fora da Califórnia. "Hoje mesmo fiz um teste para uma série que filma em New Jersey e Miami", revelou.

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A proximidade com o coração da indústria, porém, ainda o encanta. Ele faz parte do comitê do Sindicato dos Atores (Screen Actors Guild, o SAG), responsável por escolher os melhores trabalhos do ano, e participa de eventos ao lado de elencos consagrados.

Em 2024, Muniz também integrou Silent Witness, da BBC, série policial britânica conhecida pelo realismo forense. A experiência foi diferente da vivida em Grey’s Anatomy:

Em Silent Witness tive mais de duas semanas para me preparar, então estava muito mais confiante. No final do dia, como ator, eu estava 200% focado em estar presente para meus companheiros de cena.

As gravações aconteceram em Birmingham, na Inglaterra, e o brasileiro contracenou diretamente com Emilia Fox, protagonista da série há 20 anos. "Só de estar ao lado dela já foi uma escola. E ela é, acima de tudo, um ser humano maravilhoso", recorda. Além do aprendizado, Muniz aproveitou o tempo livre para circular por Londres, assistir a oito peças de teatro e revisitar museus gratuitos da cidade.

O processo para conquistar a vaga também foi curioso. Ele estava de férias em Natal (RN) quando recebeu o teste do agente londrino. Sem equipamento profissional, improvisou a gravação com o celular e a ajuda da esposa, que leu as falas de outros personagens. Dias depois, participou de um "recall" por Zoom com o diretor e o produtor da série. Pouco depois, já estava em Londres, realizando o sonho de trabalhar no Reino Unido.

Entre lá e cá

Antes da carreira internacional, Muniz acumulou experiência no Brasil em novelas como Luz do Sol (2007), Caminhos do Coração (2007) e Amor e Intrigas (2007), além de ter estreado no Sítio do Picapau Amarelo (2006). Mas ele explica que sua verdadeira base foi o teatro. "Foi no palco, às vezes fazendo a mesma peça 150 vezes, que aprendi o valor da escuta e da vibração quando a plateia reage. Isso levo comigo até hoje, em qualquer set ou palco."

Eduardo também já dirigiu três peças no país, incluindo Afogando em Terra Firme, indicada ao Prêmio APCA. Agora, se prepara para dirigir e protagonizar o curta Papai é um Robô, de Rodrigo Nogueira. O filme discute o equilíbrio entre carreira e família, tema que o ator admite ser central em sua vida. "É sobre um pai que se transforma em androide e precisa decidir que vida quer viver: a de um robô famoso ou a de um humano presente", define.