Vale Tudo joga a lógica no lixo com pastelão no sequestro de Maria de Fátima

Quando foi que a teledramaturgia da Globo aceitou o amadorismo como linguagem? É a pergunta que ficou no ar após o grotesco sequestro de Maria de Fátima (Bella Campos) em Vale Tudo. A sequência que deveria ser tensa virou piada, com refém escondida em armário, assassino desarmado e protagonista jogando objetos no matador como se fosse uma das cenas da franquia Todo Mundo em Pânico (2000-2013).

Tudo começa com um absurdo: Fátima ter entrado no carro de Odete Roitman (Debora Bloch), a assassina de Ana Clara (Samantha Jones), sem saber o destino, porque ganharia R$ 5 milhões para não delatar o crime. A chantageada age como se fosse para um chá da tarde. E o roteiro joga qualquer vestígio de lógica no lixo.

Fátima ainda mandou localização para Raquel (Taís Araujo), mas não contou o que está acontecendo. A mãe, mesmo desconfiada de tudo, correu em direção ao local da emboscada aos berros, como se gritasse por um cachorro perdido no parque. Cautela? Zero. Verossimilhança? Menos ainda.

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Lá dentro, a cena se transformou em pastelão. Fátima correu, se enfiou em um armário, depois em um vaso, enquanto o matador contratado por Odete (que deveria ser profissional) tropeçou na própria incompetência. Ele não atirou, e a refém arremessou objetos como quem joga almofada no irmão mais novo. Suspense? Nenhum. O capítulo virou uma paródia involuntária.

O susto maior, no fim das contas, é o nível da direção e do roteiro, que parece abandonar a coerência em nome do deboche. Desde a primeira tentativa de assassinato de Marco Aurélio (Alexandre Nero), a trama policial tem escorregado feio: vilões sem estratégia e patéticos, além de uma polícia que engole qualquer desculpa esfarrapada.

Com a morte de Odete Roitman prevista para esta segunda-feira (6), o temor é que o assassinato mais aguardado da novela repita o fiasco cômico do sequestro. Se o tom seguir o mesmo, o público vai ter que rir para não chorar.

A verdade é dura: a novela virou entretenimento trash. E não adianta mais procurar coerência. Quem continua assistindo, assiste pela farra. Porque pela lógica, já não dá mais.

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Vale Tudo foi exibida em 1988 e é um dos grandes sucessos da teledramaturgia brasileira. O remake da novela celebra os 60 anos da Globo. A autora Manuela Dias está responsável pela atualização da trama, e Paulo Silvestrini assina a direção artística.

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