Os personagens de Vale Tudo que se salvaram da sombra da versão de 1988

O remake de Vale Tudo estreou em abril com grandes expectativas, mas, inevitavelmente, trouxe à tona uma das maiores armadilhas para qualquer produção desse tipo: as comparações com a versão original. Personagens que marcaram a história da televisão brasileira em 1988 foram revividos em 2025 e, com isso, alguns atores se viram sob o peso de performances icônicas que ainda vivem na memória do público. 

Não é surpresa que nomes como Maria de Fátima e Heleninha, reinterpretadas por Bella Campos e Paolla Oliveira, tenham sido alvo de críticas mais duras ao longo de todos os capítulos. O público lembra com afinco das interpretações originais de Gloria Pires e Renata Sorrah e, muitas vezes, a pressão de corresponder ou reinventar essas figuras se mostrou desafiadora. 

Houve altos e baixos: há quem tenha amado a nova e modernizada versão da vilãzinha, e Fátima acabou caindo no gosto de parte do público. Assim como Heleninha: enquanto muitos criticaram os trejeitos criados por Paolla para a personagem, outros defenderam a atuação da atriz como a alcoolista. 

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É complicado, entretanto, e quase inevitável a sensação de "não estar à altura" em remakes tão emblemáticos. No entanto, nem todos caíram na sombra do passado. 

Raquel, vivida por Taís Araujo, é um exemplo de quem conseguiu criar sua própria versão da personagem, mesmo que o texto original a tenha escanteado em certos momentos.

A atriz imprimiu nuances que trouxeram humanidade e força à mulher batalhadora, conquistando elogios de parte do público e da crítica, principalmente em cenas fortes como o icônico momento em que ela rasga o vestido de noiva de Maria de Fátima.

Outro destaque foi Marco Aurélio, interpretado por Alexandre Nero, cuja transformação em relação ao texto original poderia ter sido um risco. Apesar das mudanças que o levaram a ser mais um personagem cômico do que vilanesco, ele caiu no gosto do público e se tornou querido.

O ator provou que é possível equilibrar inovação e fidelidade ao espírito da obra. A interpretação trouxe leveza e autenticidade, permitindo que o público se conectasse com o novo Marco Aurélio sem ficar preso à memória da versão de 1988.

A Odete Roitman de Debora Bloch também foi alvo de receio por parte dos fãs da Vale Tudo original. Considerada a maior vilã da história das novelas, que foi interpretada primeiramente por Beatriz Segall (1926-2018), Odete carregava um peso gigantesco e era um desafio para a atriz.

Sua arrogância e desdém pelo Brasil, expressos em falas memoráveis, fizeram dela uma das antagonistas mais adoradas na primeira versão do folhetim --e uma situação semelhante aconteceu com a versão de Manuela Dias da vilã. Apesar dos tropeços do texto, a performance de Debora foi reconhecida como uma das melhores da trama.

O que fica evidente é que o elenco de Vale Tudo enfrentou o desafio de dialogar com a história da eterna "novela das novelas" sem ser refém dela. Alguns caíram na armadilha das comparações, enquanto outros brilharam, provando que talento e personalidade podem transformar até os papéis mais icônicos.

Para quem assistiu, a experiência foi um misto de nostalgia e surpresa. Ver quem conseguiu conquistar seu espaço e quem não encontrou o tom certo até o fim se tornou parte do fascínio desta nova versão do clássico de Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004).