Crítica: Caos em forma de novela, Verdades Secretas 2 não tinha razão de existir

O assunto da semana na televisão foi a estreia de Verdades Secretas 2. A continuação entra para a história da teledramaturgia brasileira como a primeira novela feita para o streaming. Mas por enquanto, é só isso mesmo. A nova saga da anti-heroína Angel (Camila Queiroz) é um caos absoluto no roteiro e tem uma direção tão equivocada que foi difícil manter as minhas faculdades mentais para ver os dez primeiros capítulos já disponibilizados até o fim.

Antes de tudo, vale um adendo: eu sou um absoluto apreciador da primeira temporada da novela, produzida em 2015. Ali, Walcyr Carrasco e Maria Elisa Berredo formaram uma ótima dupla, e Mauro Mendonça Filho estava inspirado em todos os aspectos. O diretor potencializou o bom texto e conseguiu tirar o melhor de todos os atores, inclusive de Camila, que fazia seu primeiro trabalho na carreira.

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Dito isto, Verdades Secretas 2 tem muitos erros em seus primeiros dez capítulos. A começar pela abertura. Tudo bem que no streaming existe a opção de pulá-la, mas também não era preciso forçar o público a fazer isso. Se a primeira temporada tinha uma abertura memorável, a sequência parece um descanso de tela do Windows 98 com uma música que toca em lojas de departamento.

Na trama, há muitos furos. O maior exemplo ocorre justamente no início da investigação da morte de Alex (Rodrigo Lombardi). Novato entre os protagonistas, Cristiano (Rômulo Estrela) acha uma bala do revólver usado por Angel e o sangue que seria de Alex em apenas cinco minutos.

O que mais incomoda é que Carrasco parece não ter assistido ao último capítulo da própria novela. Em 2015, quando Angel é salva pela polícia após assassinar o pai de Giovanna (Agatha Moreira), é possível ver uma perícia olhando o estado do barco. Precisaria ser a pior perícia do mundo para que a bala, achada com muita facilidade pelo detetive agora, não tivesse sido encontrada no passado.

Verdades Secretas 2 é rasa demais

Verdades Secretas sempre se vendeu como uma novela realista, mesmo que tenha lá seus momentos rocambolescos. Mas haja viagem para cair nessa. E esse é só um dos problemas até aqui. O drama de Laila (Erika Januza), uma candidata a modelo que toma remédio para emagrecer, tem a profundidade de um pires. Um dia, ela estava normal. No outro, já estava maluca.

Sobre as tão faladas cenas de sexo, até agora não houve nada realmente impactante, malandro ou sacana --no bom sentido. São cenas visualmente bonitas, mas que nem impacto causam. As primeiras transas de Cristiano e Giovanna, por exemplo, mais parecem O Clone (2001). É tanta dança e tanta pirueta para chegar no ato que me senti vendo uma novela da Gloria Perez. É assim que os jovens se pegam hoje em dia?

A direção de Amora Mautner também é totalmente equivocada. Coloca as interpretações e o ritmo da novela em algo bem acima do tom e em um exagero que não era necessário. A ideia é dar um ar de submundo, mas algumas cenas são tão escuras que passam a impressão de que se decidiu economizar energia no set. Se foi isso mesmo, parabéns para Amora, pois a eletricidade está cara.

Camila Queiroz é destaque

São poucas as boas notícias. Camila Queiroz está excelente como Angel. Evoluiu muito como atriz e mostra o potencial que sempre teve. Agatha Moreira repete o que fez na primeira temporada, numa afetação esperada --e que parece ter virado marca registrada da atriz.

Entre os novatos, Romulo Estrela varia. Tem cenas boas e ruins. A melhor atuação até agora é de Maria de Medeiros, como Blanche. Engraçada e malandra, a personagem é uma boa substituta para Fanny Richard (Marieta Severo).

A história que mais tenho vontade de acompanhar é a de Lara, vivida pela estreante Julia Byrro. A garota tem potencial e não parece estar em seu primeiro trabalho. A direção de fotografia, tocada por Andre Horta, também merece elogios. O visual pop é bem interessante.

Verdades Secretas 2 pode ser vítima de suas expectativas. Com um sarrafo bem alto por causa da qualidade da primeira temporada, a segunda até agora está bem longe de entregar algo bom. Nem parece uma sequência do que está sendo reprisado na Globo agora.

Está mais para O Outro Lado do Paraíso (2017): caos, situações repetidas e fatos que levam a lugar nenhum. É torcer para melhorar daqui para frente. Mas até o momento, a sequência não tem a menor razão de existir.