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COLUNA DE MÍDIA

Quem ganha e quem perde com a fusão WarnerMedia e Discovery?

Reprodução/Warner

Familia Soprano

A premiada série Família Soprano (1999-2007) faz parte do catálogo da WarnerMedia

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 17/5/2021 - 16h22

Na manhã desta segunda (17), a AT&T anunciou a fusão da WarnerMedia com a Discovery Inc. para criar um dos maiores players de mídia do mundo. O negócio envolve o canal HBO, os estúdios Warner Bros., marcas da rede Turner, como TNT e TBS, além do canal de notícias CNN.

O anúncio pegou o mercado de surpresa. Não era segredo que a operação não vinha bem, mas ninguém imaginava uma decisão tão rápida e de forma tão contundente. Há menos de três anos, a AT&T gastou mais de US$ 80 bilhões para comprar a Time Warner Inc. 

Até semana passada, os diretores da WarnerMedia davam entrevistas confiantes sobre o futuro da empresa dentro da AT&T. Três dias antes de ser escanteado, Jason Kilar, CEO da WarnerMedia, apareceu em uma longa reportagem do Wall Street Journal em que afirmava que muitas das críticas que ele e a empresa recebiam eram apenas sintomas das mudanças radicais que estavam implementando para criar uma nova cultura digital em uma empresa tradicional de mídia.

Kilar, de 50 anos, trabalhou na Amazon e lançou o Hulu. O executivo construiu sua carreira em empresas digitais e nunca escondeu certo desprezo pela "tradição" das empresas de mídia. Por ironia, com essa fusão, é justamente a velha-guarda da TV que vai assumir o comando, e Kilar deve deixar a WarnerMedia. 

A AT&T disse que receberá um valor agregado de US$ 43 bilhões em uma combinação de dinheiro e retenção de certas dívidas pela WarnerMedia. Os acionistas da AT&T receberão ações que representarão 71% da nova empresa, enquanto os acionistas da Discovery deterão 29%. Mas está claro que o comando da nova operação ficará com a Discovery. 

Um dos maiores acionistas da Discovery, o presidente da Liberty Media, John Malone, de 80 anos, fez fortuna na TV a cabo e é notório por criar complexas estruturas fiscais que o colocam no controle das empresas. Por exemplo, Malone falou em uma entrevista à CNBC sobre a estrutura fiscal "brilhante" para a aquisição da Fórmula 1 pela Liberty, um negócio que incluiu uma emissão de ações especiais e empresas de fachada espalhadas por vários continentes. 

David Zaslav, CEO da Discovery, irá dirigir a nova entidade combinada. Em uma coletiva de imprensa de uma hora, Zaslav e o CEO da AT&T, John Stankey, explicaram os planos para a fusão. "Vamos ser uma empresa", disse Zaslav. "Uma empresa, uma cultura, uma missão."

Quanto ao momento do negócio, Stankey disse que sentiu que o portfólio de entretenimento havia alcançado "velocidade de escape" nos últimos meses dados os objetivos mais amplos da AT&T, que tem investido em 5G e outras tecnologias para suas redes de banda larga e sem fio. "Ficou claro para mim que precisaríamos de uma estrutura de capital diferente."

A transação começou a tomar forma no início deste ano, durante reuniões secretas entre Zaslav e Stankey em Nova York. Uma troca de mensagens de texto levou a "uma conversa de duas horas sobre o futuro da mídia". Muitas outras conversas se seguiram.

Questionados duas vezes sobre o status do CEO da WarnerMedia, Jason Kilar, na nova empresa, Zaslav e Stankey disseram que ele permanece em sua posição atual. Mas não ofereceram muito mais do que um voto de confiança.

Quem pode se beneficiar com a mudança é o executivo Jeff Zucker, um dos líderes da CNN, e notório adversário de Kilar. Zucker havia anunciado seu plano de deixar o cargo de chefe de notícias e esportes da WarnerMedia, mas fontes dizem que a fusão pode levá-lo a um cargo mais alto. Ele já trabalhou com Zaslav e é amigo próximo do CEO.

A Disney e Netflix também foram indiretamente beneficiadas. A expectativa era de que a NBCUniversal, uma dos líderes no mercado americano, seria o parceiro natural para a fusão com a Warner Media. A Discovery é uma ameaça menos direta, por ser menor.

Entre os perdedores nessa aventura de mídia estão os acionistas da AT&T. Há poucos anos, a empresa entrou em uma febre de compra de veículos de mídia e se tornou a empresa mais endividada do mundo ao finalizar a compra da Time Warner Inc. em 2018. 

Nos últimos meses, a AT&T tem realizado cortes em seu quadro de funcionários e vendido empresas do grupo. Em fevereiro, fechou um acordo com o fundo TPG para a venda da DirecTV. O valor negociado foi de US$ 16 bilhões, menos de um terço dos US$ 49 bilhões que a AT&T gastou para comprar a DirecTV em 2015. A venda da WarnerMedia também parece estar distante de ser um negócio bem-sucedido.

Mas os grandes perdedores serão os funcionários da WarnerMedia e Discovery. A fusão prevê cortes e economias da ordem de US$ 3 bilhões. Nos escritórios das empresas, o clima é de preocupação, e já há diretor disparando currículo. Não é segredo o que aconteceu na Fox após a compra do grupo pela Disney, com o encerramento de programas e grandes demissões.


Esse texto é argumentativo e não expressa necessariamente a opinião do Notícias da TV.

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