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MONICA ALBUQUERQUE

Quem é a brasileira que desbrava mercado latino e lidera 25 projetos na TV dos EUA

REPRODUÇÃO/YOUTUBE

Mulher com blusa bordô está em um fundo xadrez em tons de azul; ela tem expressão neutra e ergue a mão direita na frente do tronco

A executiva Monica Albuquerque em depoimento ao projeto Mulheres no Audiovisual, da PUC-Rio

LUCIANO GUARALDO e DANIEL CASTRO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 31/10/2025 - 9h00

Considerado um dos principais troféus do audiovisual latino, o Premios Produ consagrou na semana passada obras como as novelas Garota do Momento e A Rainha da Pérsia. Embora tenha recebido menos holofotes, uma mulher que costuma ficar atrás das câmeras se firmou como a grande vencedora do Brasil na cerimônia deste ano. Trata-se de Monica Albuquerque, que trabalhou em nada menos do que quatro produções premiadas.

A executiva, que passou 21 anos na Globo --sete deles como diretora de desenvolvimento e acompanhamento artístico-- e outros três na Warner Bros. Discovery, atualmente lidera o desenvolvimento de conteúdo da Telemundo, voltada para o público hispânico que mora nos Estados Unidos. No momento, Monica tem sob seu guarda-chuva cerca de 25 projetos diferentes, entre atrações roteirizadas e documentais.

Curiosamente, ela foi premiada no Produ não apenas por seu trabalho na Telemundo, com a novela Velvet: El Nuevo Imperio (2025), como também por produções que ajudou a desenvolver quando ainda estava na Warner --as brasileiras Beleza Fatal e Cidade de Deus: A Luta Não Para e a série biográfica mexicana Chespirito: Sem Querer Querendo.

"É engraçado, porque a indústria é assim mesmo. As pessoas vão trocando, vão trocando, e quando você soma o que fez em um ano, tem um monte de coisas diferentes", resume Monica em conversa exclusiva com o Notícias da TV. "Cada projeto que você faz tem muitas emoções envolvidas. Quando você recebe esse reconhecimento e entende que seu trabalho impactou outras pessoas, fica ainda mais gostoso."

"Eu sempre falei que, como executivos do audiovisual, nós temos uma responsabilidade muito grande. Porque, de alguma forma, estamos ajudando na construção de um imaginário coletivo, contribuindo para levantar discussões importantes. Então, é preciso ter uma clareza do propósito, porque senão vira só um negócio. É óbvio que é um negócio também, que precisa ter receita, dar resultados. Mas o executivo de conteúdo precisa pensar além. Eu acho a palavra 'legado' muito forte, mas é legal que aquilo que você fez e faz de alguma maneira possa ter impactado positivamente", valoriza.

Ao mesmo tempo em que o trabalho de Monica afeta o público, ela também tem sido afetada pelas mudanças na carreira. Depois de mais de duas décadas na Globo, focada no mercado brasileiro, ela precisou rever suas estratégias ao trabalhar para toda a América Latina na Warner Bros. Discovery.

"Isso foi a maior descoberta da minha vida. Eu sempre fui apaixonada pelo nosso país, mas, na hora que eu saí, ganhei uma perspectiva mais ampla. No Brasil, a gente tende a estar em uma certa ilha, não se relaciona tanto com os irmãos da América Latina. Porque o Brasil é um país muito potente, autossuficiente, que sobrevive dentro dos próprios parâmetros", diz.

"Quando eu fui para a Warner, entendi que a América Latina é um conceito abstrato, não é uma coisa só, como a gente imagina. Aprendi que cada país é um mundo próprio, que o que funciona no México dificilmente vai pegar na Argentina e vice-versa, porque são países que estão nos extremos e que têm perspectivas culturais muito diferentes. É um estudo de sociologia, de antropologia... Até existem algumas semelhanças, mas muitas diferenças profundas. Cada país se comporta de uma maneira própria, e até nas características que nos aproximam há diferenças particulares", ressalta.

Agora, Monica Albuquerque encontra um novo público, bem diferente daquele para quem havia trabalhado nas duas empresas anteriores:

Vim para a Telemundo e pensei: 'Beleza, é a América Latina nos EUA'. E de novo me equivoquei, vi que tinha de estudar, aprender, porque é um caldeirão que reúne todos esses países. São 62 milhões de hispanos aqui, mas eles organizaram suas culturas em uma nova identidade, se reconhecem como latinos. E isso provocou um movimento e uma força cultural muito grandes.

Agora, com a compreensão do novo mercado, Monica toca, simultaneamente, cerca de 25 projetos diferentes. "São uns 15 roteirizados em desenvolvimento ao mesmo tempo, tem algumas coisas para network [TV aberta] e outras para plataformas. E tem os documentais também, que vamos começar a exibir em 2026, acho que mais uns dez no momento", lista.

Na lista de documentais, há temas bem variados: vão do futebol, para surfar no clima da Copa do Mundo 2026 (que será exibida pela Telemundo nos EUA), a projetos sobre música. Sem esquecer os true crimes: "É um conteúdo muito consumido e, infelizmente, muito próximo do cotidiano dos países latinos".

arquivo pessoal

Monica (à esq.) com executivos da Telemundo no anúncio da série Lobo

Como é falar com latinos no país de Trump?

Monica Albuquerque foi contratada pela Telemundo no fim de outubro do ano passado, poucos dias antes de Donald Trump ser eleito presidente dos Estados Unidos. Reempossado, o republicano adotou uma política agressiva com relação a imigrantes e permitiu que agentes do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) invadissem até escolas, hospitais e locais de culto em busca de estrangeiros ilegais para depois deportá-los.

A executiva --que reside em Miami, na Flórida-- explica que tentar produzir uma série roteirizada sobre um tema tão quente seria um risco. Não por uma possível represália do governo, mas porque um projeto do gênero, se aprovado hoje, só entraria no ar daqui a pelo menos dois anos. "Então, os fatos acabam ficando mais ligados à área do documental, das notícias mesmo. Na ficção, a gente precisa buscar analogias, entender o impacto dos movimentos sociais no dia a dia das pessoas", diferencia.

"A gente tem, por exemplo um espaço muito legal para falar na ficção sobre história, sobre pertencimento, em cima do que está acontecendo. Quem de fato pertence a essa terra, se reconhece nela, tem essa identidade, esse direito? É preciso abrir discussões de outra ordem, não necessariamente factuais, porque você corre o risco de começar a falar de uma história de imigração e, quando ela for ao ar, já estar ultrapassada", explica Monica.

"Então, acho que a grande função do executivo do audiovisual junto aos criadores é exatamente buscar esse lugar: como a gente pode representar esse sentimento que de fato é alguma coisa relevante hoje na vida das pessoas e que continuará sendo relevante daqui a dois anos?", instiga.

A executiva, inclusive, ressalta que usa a própria vida para ajudar a entender os temas que ainda valerão em 2027. "Eu agora tenho dois netinhos e sempre me pergunto: 'Caramba, o mundo está ficando louco! Que planeta a gente está construindo para essas crianças que vêm aí?'. Essa é a procura inteligente, entender o que significam todos os movimentos."

"A gente vive um momento em que o mundo voltou a ter guerras, a ter perseguições, coisas que pareciam superadas. Então, o que fazer com esses sentimentos, não só de medo, mas de insegurança, de dúvida? Como pegar isso, ver o que tudo causa nas pessoas e provocar reflexões? Com que tipo de história a gente consegue atingir esse espaço interno? Porque, no fundo, esse é o grande papel das histórias, encontrar o sentido disso tudo", sentencia.


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