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COLUNA DE MÍDIA

CEO da Jovem Pan nega bolsonarismo e diz que Lula 'será muito bem recebido'

DIVULGAÇÃO/JOVEM PAN

Roberto Araújo, CEO do grupo Jovem Pan

Roberto Araújo, CEO da Jovem Pan, nega bolsonarismo do grupo em entrevista ao Notícias da TV

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 7/7/2022 - 6h40

É fácil imaginar a Jovem Pan como uma empresa de mídia que há tempos se tornou partidária e agora caminha para ser apenas um veículo de propaganda bolsonarista. No entanto, em entrevista ao Notícias da TV, Roberto Araújo, CEO do Grupo Jovem Pan, rechaça a fama de ligação ao presidente Jair Bolsonaro e afirma que Luiz Inácio Lula da Silva "será muito recebido", caso queira ser sabatinado pelo canal.

"O que a Jovem Pan faz é abrir o microfone e as câmeras. Se o Lula quiser vir aqui dar duas horas de entrevista, será muito bem recebido. Prezamos muito o relacionamento com a nossa audiência. Não é agora que vamos quebrar um legado de 80 anos [a Jovem Pan comemorou em junho 80 anos de seu lançamento]", diz Araújo à coluna.

Dias atrás, revelamos em primeira mão como em uma única sexta-feira, mais de 18 minutos da programação do canal de TV do grupo foram dedicados à propaganda de programas do governo Bolsonaro, com âncoras da Jovem Pan narrando os benefícios dos projetos governamentais voltados às populações mais carentes.

Veja propagandas do governo Bolsonaro na Jovem Pan:

Na semana seguinte à publicação, o Notícias da TV conversou com o CEO do Grupo Jovem Pan. A entrevista mostra que por trás dos arroubos bolsonaristas e polêmicas envolvendo os comentaristas da empresa existe uma estratégia bastante pragmática e muito mais pautada pelos negócios do que por um ou outro político.

Imaginar que a Jovem Pan seja apenas um puxadinho bolsonarista é um erro. As chances do bolsonarismo sair de cena muito antes da Jovem Pan são enormes. O fato é que, independentemente de quem esteja no poder, a companhia irá se adaptar, como indica Araújo. 

Mais do que isso, a empresa seguirá crescendo porque encontrou uma fórmula poderosa. Ela trouxe sua experiência do rádio para as redes sociais e aprimorou suas técnicas narrativas para aumentar o engajamento da audiência no digital.

YouTube e os resultados da Jovem Pan

"No YouTube, o número de views de 2020 para 2021 aumentou 32%, e tivemos um aumento de 49% em horas assistidas. Um total de 3,9 bilhões de views no ano todo e um aumento de 132% nas receitas", afirma Araújo.

Como o executivo lembra, sua empresa é um case de sucesso mundial do YouTube. Araújo já esteve nos Estados Unidos em duas ocasiões, como convidado de eventos do Google (dono da plataforma de vídeos), para mostrar a outros gigantes de mídia globais o caso de sucesso da empresa.

Para dar uma ideia, a Jovem Pan News tem 5,33 milhões de seguidores no YouTube, contra 4,33 milhões da TV Globo e gastando uma fração em conteúdo em comparação à emissora.

A Jovem Pan também é um gigante no Facebook, com mais de 2,4 milhões de seguidores. No Twitter, são 1,1 milhão de seguidores. O site do grupo também é um dos maiores do país.

Disparada de lucros

A audiência na internet ajuda a explicar o rápido crescimento de receita. Em 2021, a Jovem Pan viu seu faturamento crescer 30%. Hoje, o Google é a empresa que individualmente mais destina recursos ao grupo, o que coloca em xeque a tese de que o governo e empresas apoiadoras de Bolsonaro "sustentam" a empresa, até porque o dinheiro do Google e demais empresas de tecnologia vem da audiência que o conteúdo da companhia gera.

"Na época que fomos para a televisão, já tínhamos 400 milhões de views mensais e cerca de 34 milhões de usuários únicos. E cerca de 30% dos usuários do YouTube no mês assistiam algum conteúdo da Jovem Pan, mesmo antes da TV", afirma Araújo.

Outra vantagem da Jovem Pan é seu baixíssimo custo de produção e praticamente nenhuma dívida (situação diferente de boa parte de seus concorrentes). "Desafio alguém a ter custo menor do que o nosso”, diz Araújo."

O executivo destaca ainda que os investimentos do grupo, inclusive o lançamento da nova TV, foram feitos com dinheiro em caixa, sem "empréstimos" ou "loucuras". O lucro líquido da empresa em 2021 foi de R$ 9 milhões para R$ 15,7 milhões, um crescimento de quase 75% em relação ao ano anterior.

Os números e resultados indicam que, independentemente de quem esteja na presidência a partir do próximo ano, a Jovem Pan deve seguir crescendo com a audiência do público conservador (e dependo de quem vencer, até crescer mais rápido).

Caso Adrilles

Além dos números e do posicionamento político da empresa, o CEO da Jovem Pan também analisa casos recentes da empresa que ganharam repercussão, como a demissão e a recontratação de Adrilles Jorge --ele foi alvo de críticas por fazer um gesto considerado nazista durante o Morning Show.

"Eu vi essas cenas umas 30 vezes, todas eram muito similares e em alguma delas o apresentador até chamou a atenção do Adrilles, mas ele não tinha se dado conta, não viu o que tinha feito. Ele ficou dois meses afastado. Achamos que ele foi injustiçado dentro dessa cultura de lacração. As pessoas erram, mas a gente vive uma cultura que o errar é quase uma pena de morte", analisa Araújo.

Entrevista

A seguir, os principais trechos editados da conversa de quase 1 hora com Roberto Araújo. 

NTV - A Jovem Pan é bolsonarista?

Roberto Araújo - Eu posso te responder essa questão de várias formas, primeiro dizendo que é a fake news das fake news. Sempre nos pautamos por conteúdos independentes de qualquer governo. Já fomos tachados de ser de um lado ou de outro e arrumamos vários problemas por isso, inclusive durante o governo Bolsonaro. Já disseram que defendíamos o (João) Doria. No Fla x Flu que vive a rede social atualmente, de que não existe consenso e ninguém ouve ninguém, a Jovem Pan, por deixar os microfones e as câmeras abertos, é tachada de qualquer coisa.  

Existe um programa que pode não trazer diferenças de opinião, lançado lá em 2014, o Pingo nos Is com o Reinaldo Azevedo e tivemos outros apresentadores. A linha editorial é de quem comanda o programa. Esse é um programa que "nunca teve contraditório". A gente não quer impor nossa opinião para ninguém, queremos que a nossa audiência ouça opiniões distintas e decida o que ela quiser e o que ela acha melhor pra ela.

Aí começam essas conspirações sobre os clientes da casa, muitos são permuta, outros estão aqui há 10 anos. A gente não tem lado. A área editorial é absolutamente separada da área comercial. 

Nosso jornalismo cria engajamento. Fazemos hardnews, mas sabemos que o que dá audiência, principalmente, é a gente colocar juntas opiniões diferentes, e isso mostrou um aumento de mais de 190% em compartilhamentos. Isso é um pouco do sucesso que é o Grupo Jovem Pan.

Se a Jovem Pan for vista como alinhada ao presidente Bolsonaro, não existe risco dos anunciantes fugirem?

Queremos dar a melhor performance para os nossos clientes, sejam eles quem forem. Eu quero vender minha audiência para eles e como a gente deixa a opinião na boca do comentarista, não é a opinião do grupo. Se o comentarista falou, vai lá conversar com ele.

Mas os âncoras da Jovem Pan falando favoravelmente dos programas sociais do governo parece propaganda.

A gente não faz ativismo nem para o bem, nem para o mal. Se a gente acha que é uma burrada, a gente vai criticar. Não escolhemos o que vai para o ar -- vai tudo. Se é bom, elogia-se, e se é ruim, critica-se.

É um pouco diferente do que acontece hoje em dia. A mídia em geral dá só um lado, mas o Brasil hoje está dividido. O que a Jovem Pan faz é abrir o microfone e as câmeras. Se o Lula quiser vir aqui dar duas horas de entrevista, será muito bem recebido. Prezamos muito o relacionamento com a nossa audiência. Não é agora que vamos quebrar um legado de 80 anos (a Jovem Pan comemorou em junho 80 anos de seu lançamento).

O que explica os crescentes bons resultados da Jovem Pan nos últimos anos? 

O nosso negócio é sempre pautado por trabalhar com o menor custo possível. Eu desafio qualquer grupo de comunicação a ter um custo mais baixo que o nosso. A gente não faz loucuras em investimentos e sempre trabalhamos com caixa próprio.  

Construímos a nossa multiplataforma privilegiando audiências e de três anos pra cá é que começamos a pensar em como monetizar. Preferimos optar pela relevância e fomos para o YouTube, mais democrático, mais aberto, e também pelo custo (no YouTube que disponibiliza o conteúdo não precisa pagar hospedagem e custo de transmissão dos vídeos). 

E uma das coisas que a Jovem Pan preza é a liberdade de expressão, seja um comentarista de esquerda, direita ou centro. No nosso microfone ou na nossa câmera, ele tem liberdade para falar o que ele quiser. 

Não existe um controle editorial sobre o conteúdo produzido?

Apresentamos a notícia com visões diferentes. Às vezes as discussões entre comentaristas são mais light ou mais acirradas. E ao vivo, pode sair uma bobagem qualquer e temos que tomar uma atitude quando não tem bom senso. 

Produzimos cerca de 30 horas de conteúdo ao vivo por dia. Obviamente, os dois lados cometem excessos. E quando excessos são cometidos, avaliamos e tomamos as medidas cabíveis.

REPRODUÇÃO/JOVEM PAN

Adrilles na Jovem Pan

Gesto de Adrilles (à esq.) durante jornal da Jovem Pan

Como no caso de Jorge Adrilles, afastado após ser acusado de fazer um gesto nazista e depois recolocado no cargo?

Foi uma polêmica. A gente recebeu o vídeo e imediatamente o Adrilles foi afastado --na dúvida. Depois nossa equipe de jornalismo começou a fazer um levantamento junto ao Ministério Público e em 50 programas ele fazia o "tchauzinho" com um ar de deboche. 

Eu vi essas cenas umas 30 vezes, todas eram muito similares e em alguma delas o apresentador até chamou a atenção do Adrilles, mas ele não tinha se dado conta, não viu o que tinha feito. Ele ficou dois meses afastado. E nesse tempo também trabalhamos com ONGs e é óbvio que a gente não compactua, mas programa ao vivo é assim.

Achamos que ele foi injustiçado dentro dessa cultura de lacração. As pessoas erram, mas a gente vive uma cultura que o errar é quase uma pena de morte. 

E o que aconteceu com o André Marinho (o humorista deixou a empresa uma semana após discutir com o presidente Bolsonaro em uma entrevista na Jovem Pan News)?

O Marinho saiu porque quis. Ele pediu demissão. Existiu pressão dos bolsonaristas nas redes sociais? Com certeza. Mas não existe pressão interna. Não temos esse tipo de coisa, se tivesse, não conseguiríamos fazer o que fazemos. As pessoas criam fantasias, confundem. Muitas vezes não respondemos porque respondendo o assunto acaba apenas se arrastando e o dia a dia mostra qual é a realidade.

Não há uma rotatividade alta de profissionais na Jovem Pan?

A gente sempre serviu de celeiro para outros grupos. Somos uma empresa que foca muito em custos, então nem sempre conseguimos cobrir ofertas. Muita gente importante passou por aqui, como Joelmir Beting e o Luciano Huck, e nosso sucesso também vem dessas pessoas. É ruim termos que repor as pessoas, mas isso mostra que estamos fazendo um bom trabalho.

Por que a Jovem Pan lançou uma TV em 2021, quando tudo aponta para o digital, onde vocês já cresciam bem?

Na época que fomos para a televisão, já tínhamos 400 milhões de views mensais e cerca de 34 milhões de usuários únicos apenas no YouTube. Ou seja, cerca de 30% dos usuários do YouTube assistiam algum conteúdo da Jovem Pan em um mês, mesmo antes da TV.  

E até a estratégia de ir para a televisão, nesse caminho de transformação digital já de sete anos, é para 'tirar da testa' que somos só rádio. Apesar de sermos líderes de audiência e a maior rádio do Brasil em news em várias cidades do Brasil, para o mercado publicitário, éramos só o rádio. Em meados do ano passado já éramos o maior canal de notícias do YouTube, somos o maior canal de notícias da internet brasileira. 

O canal a cabo é quase que um pedágio, um passo pra trás nessa estratégia de streaming e distribuição de conteúdo. Hoje somos um grupo de comunicação 360, sim, privilegiamos o rádio, achamos o rádio importante, mas não somos só rádio. E no lançamento do canal em outubro do ano passado, houve uma mudança de percepção do mercado publicitário e a oportunidade de trabalharmos com pacotes multiplataforma na área comercial.

No YouTube, o número de views de 2020 para 2021 aumentou 32%, e tivemos um aumento de  49% em horas assistidas. Um total de 3,9 bilhões de views no ano todo e um aumento de 132% nas receitas. Mesmo com o lançamento da TV mantivemos os custos perto do mesmo patamar anterior, então aumentamos muito a receita por usuário.

Vocês incomodam a CNN. Por quê?

Sim, acho que a CNN é incomodada por nós. Chegamos como o "primo pobre" e o modelo que criamos é parecido com uma startup. A linguagem do digital é muito parecida com a do rádio, assim como a forma de fazer jornalismo. Na TV e no YouTube, as pessoas gostam da velocidade, tem um ritmo diferente. 

O clique do grupo lá atrás em 2014 é que não éramos só o rádio, mas nossa forma de distribuição era o rádio. Outros grupos talvez fiquem presos no formato, mas aqui não funciona, se inventarem transmissão por telepatia, já estaremos trabalhando nisso.

Segundo o Digital News Report, 53% dos brasileiros têm aversão às notícias. Isso se deve à polarização do noticiário?

Vi a pesquisa e não entendi esse dado porque durante a pandemia os números mostraram que as plataformas de jornalismo cresceram muito. E o brasileiro hoje precisa se politizar mais e acho que as pessoas têm uma necessidade de se informar. Entendo que, na verdade, a busca por notícias tem crescido. Um dos principais assuntos pesquisados, aqui na nossa avaliação, são notícias. 

A internet e o jornalismo de cliques parecem influenciar cada vez mais a cobertura jornalística. As notícias estão se transformando em entretenimento?

Entretenimento e notícias estão cada vez mais próximos. Até o Pânico é hoje uma plataforma de notícias. É o exemplo claro para essa mistura. Para fazer jornalismo e entretenimento juntos, é preciso ter responsabilidade. E tem que ficar claro para o espectador quando é uma tiração de sarro absoluta, ou quando estamos fazendo jornalismo.

A Jovem Pan largou na frente de concorrentes bem maiores no país ao lançar seu próprio streaming. Qual a estratégia do Panflix? 

O Panflix é o aglutinador e também abrimos o sinal do canal 24 horas. A estratégia agora é crescer em todas as plataformas, mas estamos muito longe de onde queremos chegar, apesar de já sermos grandes. Estamos trabalhando em novas plataformas, e agora depois de investir forte no jornalismo --que é parte do tripé do grupo, com entretenimento e esportes--, vamos então investir e desenvolver novos conteúdos nas outras vertentes, que são mais desafiadoras.

Onde tiver capacidade de atender a nossa audiência, com entretenimento, esportes e notícias, vamos trabalhar. Ainda vamos crescer muito mais e mudar se precisar mudar. 

Como vocês observam o cenário econômico pós-eleição?

O cenário econômico do Brasil está atrelado ao mundo, a gente vê um fenômeno inflacionário depois de tudo o que aconteceu (pandemia) e quando achávamos que a pandemia ia acabar, veio a guerra da Ucrânia e depois a China fechou de novo. Estamos num momento de ajuste, acho que vem um período com crise econômica mais acentuada. Para o ano que vem, independentemente de quem vencer as eleições, não acho que muda muito o cenário, já que as reformas que o Brasil necessita precisam do Congresso. 

Mas o Brasil tem um vasto potencial de investimento, e se fizermos a lição de casa direito, vamos crescer mais. Preparamos a empresa para qualquer cenário. É uma empresa enxuta, com custo baixo. O custo por usuário diminuiu uma barbaridade e nossa estrutura não mudou tanto assim mesmo com o lançamento da TV.

Grandes grupos de mídia nacionais começam a trabalhar em favor da abertura para o capital estrangeiro em grupos de mídia brasileiros. Qual a posição da Jovem pan?

Não temos uma posição oficial, mas acho que a Jovem Pan não se opõe. Inclusive temos um projeto de internacionalização da marca. As fronteiras estão cada vez mais fluidas. Não somos contrários, não.

A mídia no Brasil, e no mundo, parece cada vez mais polarizada. É um caminho sem volta?

Está muito confuso esse cenário e sinto que sempre vai haver gente dos dois lados. O que o ser humano perdeu foi a capacidade de consenso. E vejo que, agindo dessa forma como meio de comunicação, você também contribui para não chegar nesse consenso.

O que buscamos é mostrar os dois lados do debate para se encontrar um caminho. Imagina como seria chato se todas as pessoas pensassem igual. Nossa missão há 80 anos é ser um grupo de comunicação que ajuda a construir um país melhor. É nisso que acreditamos e estamos tentando fazer.

Em outubro, seu voto é em Lula ou Bolsonaro?

Meu voto é secreto (risos).


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